Office in a Small City por Edward Hopper

Tag: romance

  • Querida, eu posso escrever tudo

    Querida, eu posso escrever tudo

    Rodolfo tentava recompor-se, em vão. Lorena cobria os seios com os braços, enrubescida. Andressa, com uma calma maquiavélica, apanhou o telefone sem tirar os olhos de ambos. Cena seguinte. Rodolfo em sua casa, com Lorena. Lorena perguntou: “Tem certeza que ela não vai voltar mais cedo?” “Claro que tenho”, respondeu Rodolfo. “Fique tranquila. O cabeleireiro…


  • Projeto esvanecendo-se. Abertura

    Projeto esvanecendo-se. Abertura

    Dois loucos completos. Com todas as amenidades, todas as gentilezas, próprias de cada um. Dois loucos, cada um à sua maneira. Um, completamente lúcido; outra, propensa à perfeição. No último dia de 2004 eu estava fingindo esperanças e uma agenda de motivações que não existiam mais em mim. Tinha perdido todas as minhas aulas e…


  • Um amigo, um favor

    Um amigo, um favor

      Danilo o olha com um silêncio emocionado. Já ia lhe dizer que amar é só uma das bobagens em que a classe média acredita. Verne se levanta, apanha o casaco. Começa a vesti-lo. “É isso então, meu velho. A gente se vê. Vamos marcar outro desses.” “Vamos sim. Você me faz esse favor então?”,…


  • O endereço real

    O endereço real

    Ouve o destravar da fechadura, o velho mecanismo de abrir e fechar que todos nós usamos todos os dias.Que usamos sempre para nós mesmos, de se abrir e depois se fechar. Liana espera à frente da porta, bolsa e pasta com papéis ocupando suas duas mãos. Um olhar sem vontade a qualquer coisa ao redor…


  • Papéis para Verne

    Papéis para Verne

    A vida é uma linha reta, sem volta. E a literatura é a única coisa que pode tornar tudo sinuoso. Disforme. Interessante. Mesmo que se confunda com a mentira. Na literatura, a mentira se chama ficção, você sabe. Val. Pensei que pudesse salvá-lo também, por meio da palavra, até mesmo por meio destas palavras horríveis:…


  • Os anjos da lei

    Os anjos da lei

    O vulto não se move. Não dá para ver bem o rosto, muito menos os olhos. A chuva fala por todos. Ainda abraçado a Liana, Danilo vê que é uma viatura da polícia. As lanternas intermitentes ferem com dificuldade o ar nublado pela chuva em curso. Parece-lhe inquietante o silêncio em torno de sua chegada:…


  • Qualquer coisa triste é triste o bastante

    Qualquer coisa triste é triste o bastante

      O mundo também vai sumir. Com todas as palavras. De todas as línguas. Agora é noite, porque o planeta fez outro giro sobre si mesmo. Danilo escrevia. Uma atração muito forte pela palavra. Por signos linguísticos. Um fascínio por esses sinais carregando ideias, insinuações e até mesmo carregando o que não conseguem nunca significar.…


  • Um estreito, fino rastro de sangue

    Um estreito, fino rastro de sangue

    Pensa nele com a impressão abafada de estar cedendo a uma armadilha invisível. Com essa dúvida sobre aquela morte antiga. Liana lia. Esse assunto lhe interessa cada vez mais. No fundo, não lhe interessava muito antes, ou quase nada. Nada que superasse a curiosidade momentânea despertada por alguma notícia espantosa, casos escassos, mas impressionantes: a…


  • Américo Cabral assombra em vida

    Diógenes pensa: a morte é um castigo? Ou um prêmio? Não, não. Pare, vamos parar tudo. Tudo, agora mesmo. O que é isso? Mal o assassino aparece, começa a filosofar? A bárbara violência sexual de que fora vítima Virgínia Morais O editor pediu-me pelo menos um crime ou uma cena de sexo ardente. Pessoas que…


  • Por onde as pessoas vivem…

    Por onde as pessoas vivem…

    Sonhei certa vez que encontrava, na caixa de correspondência, entre a profusão de papel picado, todas as cartas que enviara no decorrer da vida. Nada muito significativo. Apenas mais um pesadelo. Cartas que lhe escrevi foram destinadas a mim mesmo. Sonhei, certa vez, que encontrava, na caixa de correspondência, em meio a uma profusão de…


  • Modelos de cartas inúteis

    Modelos de cartas inúteis

    Entendo a morte, quase a aceito, como indivíduo, cidadão e animal. O que não deixa de ser notável, pois os animais não aceitam a morte. Sobre a paz e a justiça que você menciona, creio que a inteligência, e não o amor, é o que pode salvar a humanidade. As necessidades e conflitos que movem…


  • Quase sem rumo

    Na mesma manhã, ele se lembrava, em que ela em especial lhe sorrira, demorando-se a recolher os dentes sob os lábios dilatados, depois conservando o sorriso ainda na boca fechada, ele lhe fizera, em um guardanapo de papel, o seguinte desenho (com a correspondente inscrição): XÍCARAS A JATO VIAGENS FASCINANTES PODEM NASCER DO CAFÉ DA…


  • A esperança lhe arranha a testa

    A esperança lhe arranha a testa

    Primavera. Uma esperança, não é? Outro lapso, claro. Vamos, vamos. As esperanças não são nada, lembra? Dia de sol ameno, correntes menos frias e temperatura média, facilitando-lhe afastar pensamentos idiotas desagradáveis enquanto lhe proporcionavam pensamentos idiotas agradáveis. Agosto ia ao fim. Como parte da confusão climática que o planeta vivia nos últimos anos, a primavera…


  • Autocondenação e conflitos continuados

    Autocondenação e conflitos continuados

    Não há conclusões, mas continuidade. Nenhum conflito encontra seu fim, mas permanece para o decurso de outras vidas. O JOVEM QUE LÊ. Incluir alusões gráficas a frontispícios. Talvez festões. Isso! Bordaduras, volutas… Não, não exageremos. O jovem que lê, dar-lhe nome, desencadeia, com suas leituras, a morte, em circunstâncias misteriosas, dos autores. Os mais antigos,…


  • Um dado de um jogo de dados

    Desceu correndo as escadas, por pouco não tropeçando em Pablo e Cândido, que o fitavam com seu costumeiro sarcasmo de esfinge, incomodados por terem perturbado seu sossego. Você também provou de um veneno infalível, acreditou no que escrevi certa vez – o tempo todo em que estive sozinho à mesa deste café, revendo meu diário…


  • Dispensando a musa

    Dispensando a musa

    Que não se referia, afinal, a uma guerra qualquer, mas ao meu próprio massacre. O herói extraviado. Os livros. Meus registros. Cadernos (II) – por que romanos?: 2 Newton considerava perdido todo tempo que não fosse dedicado ao conhecimento, à ciência. Borges ficou cego; Beethoven, surdo. Bach e Kant moraram em cidades pequenas e raro…


  • A um passo de seu rosto

    Dedicava a ela, por mero machismo, o desfecho de seus duelos secretos. Sua parcela de ridículo triunfo. O bom menino em nome da classe humana. O fiel e medíocre representante da história e de tudo o que não queria mais representar. Desceram ao subterrâneo, deixando para trás o fim de tarde nublado. Junto à faixa…


  • Trogloditas bem-falantes

    Quase tudo o que pensamos e sabemos se dá por meio de palavras. O tempo passa. Essa ideia (não o tempo) necessita de palavras. “Ela era o sonho de todo homem: gostosa e burra. Você lembra? Ela ria de qualquer coisinha.” “Mas ela não era pro seu bico, era demais pra você.” “Dessas é que…


  • Perto daquela estátua estranha

    “Também uma exposição retrospectiva de contemporâneos no outro pavilhão, olha só.” “Estranho…” “Estranho o quê?” “Se são contemporâneos, como pode ser retrospectiva?” “Que bobo. Nossa, mas que bobo. Não sei por que perco meu tempo com você.” “É a primeira vez que você me telefona no escritório. A que devo esse prazer?” “Não seja cretino,…


  • Dois personagens sob a chuva

    Liana pensa ter visto um vulto de mulher à margem do acostamento. Não. Era o resto de uma árvore cortada. Liana longamente quieta durante a breve viagem. Monotonia da estrada conhecida, a cidade logo ali, no encalço de algumas colinas suaves, despontando em torres minúsculas, de um cinzento esmaecido, como desenhadas contra o fundo de…


  • Um rosto aos 25 anos

    Um ano além dos calendários previstos, que para ele passava a significar um século, uma espécie de período em que as horas não se definiam pela posição do sol, mas pela perspectiva de um encontro. Num momento de patético lirismo, lembrou-se do que uma vez havia escrito em seu diário sobre Vanda e as verduras,…


  • Deixando a fortaleza

      O motel que é como um pequeno castelo bem protegido. A fortaleza dos segredos íntimos e das necessidades sensuais, que a sociedade finge não existir com tanta força. “Passava da meia-noite. A faculdade estava deserta. Dava pra ver todas as janelas apagadas. Tirei a Ana… o corpo dela do carro. Deixei logo ali, sem…


  • O mito do animal-mestre

    “Você tem alguma história parecida com a do seu amigo?” “Não. Não me lembro de nada parecido.” “É porque tenho a impressão de que você tem sempre algo a dizer.”  “Quem pediu pão de queijo?! Não é possível…” “Bruno me dizia, por exemplo, ‘Vou contar uma coisa que eu nunca contei pra ninguém, nem pra…


  • Mais um papel contra o vento

    O mais é o dia de sol. O dia de sol. Acho que já senti isso antes. Uma sensação incômoda é ver que todos continuam seu afã cotidiano enquanto se está praticamente fora do círculo por algum motivo. A vantagem desse tipo de serviço são essas sessões e encontros em que se praticam diálogos ricos…


  • Eu tenho um diário

    O que me estranha é sermos sempre nós os que vivemos. E todas as civilizações extintas não valem mais do que o nosso dia. Júlio se preocupava com coisas pequenas e também se preocupava com coisas grandes. Sabia que um detalhe da natureza, uma minúcia bem considerada, podia atenuar um grande mistério. Sabia também que…


  • Três dos muitos senhores do mundo. Parte 2

    Ainda tremia um pouco. Mas não gaguejava e tive orgulho de minha pequena coragem. Por pouco eu não lhes implorei que acreditassem em mim, que não pretendia ironizá-los, nem me atreveria a tanto, mas, ao contrário: eu sim fora surpreendido por essa afirmação insólita, para eles tão natural. Então eu disse, quase num repente, não…


  • Explicação do surgimento da mancha sinistra

    Só uma situação de escandalosa obscenidade poderia salvar uma cena como essa, entre dois personagens mal conhecidos, declinando à caricatura. Quem lhe indicara o médico: uma colega de trabalho, a Maria das Graças. Maria das Graças: casada conforme as aparências, mãe de dois adolescentes, no fundo ansiosa pela oportuna aventura que a conduzisse a um…


  • Três dos muitos senhores do mundo. Parte 1

    Era quase inteiramente calvo, ombros contraídos, e mais velho que seus comparsas. Pareceu-me vagamente conhecido, mas sua fisionomia tremulava em minha memória como aquelas palavras que nos escapam por muito tempo e ainda se mostram cinzentas, mesmo estando próximas à claridade da consciência. Eu estava diante de uma mesa de grande porte, atrás da qual…


  • Advento da mancha sinistra

    Mas devo reconhecer que não foi de todo um golpe baixo. Pouco antes, um anjo mensageiro, vindo do nada entre a multidão, surgiu à minha frente, era o sinal: uma criatura loira, cabelos claros e longos, vestido alvo, de tecido leve – só não estava descalça, o que era de se esperar de um anjo…


  • Às voltas pelas ruas do centro: Ana Lúcia jaz em movimento

    Tenta ao máximo não interrompê-lo, quer saber tudo. Enquanto fala sozinho, ele se perde produtivamente. “Com o corpo? Claro. Conto num instante.” “Sei. Num instante.” “Fui até perto da faculdade, onde eu sabia que tinha uma área verde, que era usada pelo Departamento de Biologia e Meio Ambiente, e onde os casais iam, à noite, namorar…


  • E os trens funcionando perfeitamente

    “De onde vem sua coragem? Você já pensou nisso?” “Não preciso de muita coragem”, Estela com estranha naturalidade. “Coragem não para os grandes obstáculos ou eventuais tragédias”, Júlio estreitando os olhos contra o vento. “Coragem para atravessar um dia qualquer, sabe, sem chuva nem contratempos.” Identificava sempre o prenúncio de uma remota alegria quando encontrava…


  • Conquista-me ou te destruo

    Impressionava-me que todos parecessem satisfeitos consigo mesmos. Sempre sendo apenas o que eram, sempre um patamar abaixo do possível, sempre o medo de descobrirem sua força. Minha situação na Leôncio & Barradas Advocacia Ltda. não andava nada bem, depois do incidente mais grave, especialmente quando me ocorreu revelar, de uma vez por todas, ao doutor…


  • Classificados, respeitados, esquecidos

    Nascimento e morte, curiosos registros. Os critérios se contradizem, a cada época sua necessidade e moral. René F. A. Sully-Prudhomme (1839-1907) – França Theodor Mommsen (1817-1903) – Alemanha Björnstjerne Björnson (1832-1910) – Noruega Frédéric Mistral (1830-1914) – França Jose Echegaray (1832-1916) – Espanha Henryk […] A lista prossegue até o presente. Talvez atravesse os séculos…


  • Com Sylvia, em delicada decadência

    Tudo o que eu escrevia sobre ela dava-se em segredo. Sob a proteção do silêncio e da mentira, para que ninguém o pudesse ler em meus olhos o absurdo de estar apaixonado. O ônibus teve de parar, logo ao deixar o ponto, a pedido de uns que alertavam o motorista: o que estava acontecendo?, perguntavam todos,…


  • Síntese de cristal e sombra

    Rembrandt registrava, na evolução de seus autorretratos, um rosto imune aos adjetivos, de um homem também inclassificável, que nunca se deixara abater. Seria possível imitar aquele olhar e estendê-lo ao longo da vida? Que tipo de perdas o enrijeceriam? A ideia sobrevive, não os homens. Lutar pela vida é também uma ideia que se sustenta,…


  • Você era puro e não sabia

    Minha vida é o meu corpo e os meus dias. Minha vida é aqui onde eu estou, com meu corpo. E com meus dias. Conte ao Verne, conte de como uma vez pensou em envelhecer naquela vila, na última porta da varanda escurecida de plantas. Conte a ele, que é seu amigo de verdade, vamos…


  • Johann Fust e a máquina de enganar

    O mundo não: os homens. Outras pessoas, em diversas posições da velha hierarquia, indiretamente, tão indiretamente que acabavam sempre invisíveis, voláteis, imunes. Cinzento por toda parte. Lutar pela vida era óbvio e necessário. Que valor podia haver nisso? Não era de se estranhar que ele no fundo rejeitasse todos os bons exemplos de pessoas que…


  • Nada que não seja a vida

    Não há prazer maior que a inteligência. É o privilégio de pensar o que dissolve os deuses, restitui-me os olhos, faz de mim um homem. Já pensei que o certo era trancar-me no quarto e escrever algo belo. Já pensei também que o certo, mesmo, era deitar tudo isso fora e viajar, viver com mulheres.…


  • E o lugar será outro

    Júlio voltou o bule ao balcão. Tempo mínimo para pensar. Alguma gracinha ou vai levar isso a sério? “Amanhã… podemos tomar leite.” “Quem pediu café?” O rapaz trouxe um pequeno bule fumegante que esqueceu perto deles, sobre o balcão. Estela voltou-se para Júlio, disfarçando o riso. Ele, com um gesto de cabeça passando-lhe que nada…


  • Sinais claros de estados obscuros

    Assim, talvez, foi que minha querida Sylvia compôs sua canção da jovem louca. Fecho os olhos e a ouço escrevendo a mim: querido, por favor, não enlouqueça. “Por favor…”, disse educadamente a mulher grisalha de rosto rosado. “Pois não”, respondi cordial, retribuindo-lhe um leve sorriso. Assim eu atendia os clientes que porventura se aproximavam de…


  • De um passado em tons de cinza

    Não é tão tarde. Mas seu inconsciente já faz contas de como poderá vencê-lo, e isso ignora as horas, o mostrador digital ou qualquer outro marcador de tempo que se tenha jamais construído. Enquanto o ouvia, àquele homem de calva que tão bem guardava memórias de sua cidade e de seus familiares, Júlio não conseguia…


  • Pouco sobre Alan, muito sobre pouco

    outo não sabe mais se ela está bem. Surpreende-se que outros se preocupem com sua ex, e ele não mais. Nenhum plano. Mas tudo continua acontecendo. Café Alvorada. Uma das atendentes é motivo de observações obscenas por parte deles – sim, das partes dela. Claro que ela é atraente, bem proporcionada e agradavelmente profissional: finge…


  • Lapsos de cegueira e lucidez

    Era certo também que nunca antes se sentira tão próximo a alguma coisa, como sempre não podendo descrevê-la. Em diversas fases da história, as civilizações foram alguma vez tão imponentes e sólidas que ninguém, em seu próprio tempo, poderia crer que elas um dia viessem a encontrar seu fim. Aquelas que, por algum motivo, se…


  • Alan nos deixa

    Não quer que lhe digam. Não quer pensar em tantas mais coisas do que apenas pode presenciar com olhos e ouvidos, com o mínimo de misticismo. Quando encontram seu colega Alan num terno azul-escuro, sem vincos, cabelos cuidadosamente penteados, postura elegante, sóbria e estudada como para impressioná-los, recordam que poucas vezes o viram tão bem…


  • Cinzento por toda parte

    Alguém gritava uma ordem de serviço, uma voz distante. Outro carregava um grande pacote, um pouco do peso de estar vivo, como todo cidadão que compra e paga, e percorre sua vida repetindo opiniões que acredita serem suas, outro portador dos discursos governamentais e da fala de seu patrão, salvo honrosas exceções. Um homem caminha…


  • O bobo foi à festa

    Primeiro, teve vontade de morrer. Depois, teve vontade de matar. Depois ainda, teve vontade de ligar para ela, não queria deixar que aquilo tudo passasse assim. Logo após ter contado tanto de seu passado a Liana, Danilo revive a decepção, amarga e surdamente devastadora, de ter flagrado Ana Lúcia indo embora, daquela vez, no carro…


  • Só ela sabia

    Tinha o bolso cheio de fichas, tinha certeza. Onde teriam ido parar? Cheio de datas e pessoas. Anos de sua vida, anotações. Ambições de poderosa modéstia. Desejos de assustadora simplicidade. Seus silêncios. Pedras polidas que guardara da infância. A loirinha acompanhava seus repentes. Olhava-o agora por baixo da manga do garçom que se inclinava, uma…


  • O aprendiz de feiticeiros

    Danilo se dirige em sonhos aos seus fantasmas literários, vivos e mortos. Bate levemente um livro sobre outro, produzindo poeira e ideias fracas. Ia chamá-lo Sir Golding quando me lembrei de que você não foi agraciado com esses títulos antiquados e pomposos. Os reis dessa sua terra homenageiam seus filhos famosos, que teriam realizado algo…


  • Real e insuficiente

    Não havia futuro em ficar assistindo a si mesmo entre os gestos mais simples, pois todo homem é feito para morrer, como uma casa um dia acaba demolida sem que interesse a alguém saber o que guardava entre seus cômodos. Há várias noites não conseguia dormir bem. Tinha sono à tarde, em meio ao expediente,…


  • Tim-tim com suaves suspeitas

    Com a razão, poderíamos ser sempre bem-sucedidos. Mas vem algum sentimentozinho, sutil ou violento, incompreensível, sorrateiro mas ativo, e põe tudo abaixo. “Ai, vou chorar… Chuif…” “Palhaça. Isso me fazia sofrer, me respeite. Aquilo do tal colega cabeludo dela não queria dizer nada. Foi só uma carona. Ela podia ter ido com ele, só isso.…