Office in a Small City por Edward Hopper

Tag: literatura

  • Todos nós morreremos na semana que vem. Parte 3

    O fato de estar vivo Tudo não passa de um exagero imaginativo, um sofisma de mau gosto. A morte é uma ideia abstrata e não pode ser considerada uma das faces desse todo. “Cara ou coroa?”, pergunta-me um deles, com uma moeda. Esse sujeito vive fazendo isso. Tem um marco alemão que ganhou ninguém se…


  • Todos nós morreremos na semana que vem. Parte 2

    Pesadelos recorrentes Por que me acontecia sonhar coisas assim? Por que a morte não me dava tréguas? Cenas tão nítidas como as de meus pesadelos eram o que mais me causavam pânico, sendo tudo tão claro e cotidiano. Mais à frente, há um grupo de instrumentistas, música latino-americana típica. Estão sempre ali. Suas canções são…


  • Horácio

    A eternidade presente Horácio (Venúsia, 65 a.C. – Roma, 8 a.C.) Quintus Horatius Flaccus, considerado o primeiro literato profissional da Roma antiga, participou da conspiração que culminou com o assassinato de Júlio Cesar e chegou a comandar uma legião de soldados que lhe foi designada por Bruto. Filho de um escravo liberto que prosperou trabalhando…


  • Todos nós morreremos na semana que vem. Parte 1

    O idiota incurável Antes de prosseguir, quero deixar claro: a vida e a morte são o que mais me preocupa. Por quê? Ora, pois são apenas tudo. Sou o que chamam uma mente atormentada. Não que procure ser assim ou chamar atenção para isso. Ocorre que, após algum tempo de muitos dias lúcidos e situações…


  • Expresso

    Como os trens e os ônibus: as casas, os quartos, o leito primeiro – desde então toda parte, todo leito onde sonhamos – compõem um espesso comboio de paredes de trajetória (não vertical, que se supõe o tempo) horizontal como qualquer viagem. Embarque, desembarque: tudo se resume na estação que é. Os caminhos me pertencem…


  • Pós-escrito tardio (mas irresistível)

    Falei-lhe de Vanessa sem mencionar, intencionalmente, seu nome. Dei-lhe pistas, descrevi seu rosto e sua voz. Não, nada. Outra vez casualmente, num misto de milagre e diabólica coincidência, esbarrei em Copérnico mais de trinta anos depois. Custou-lhe reconhecer-me. Parecia alterado, confuso. Outros, os mesmos: estávamos ambos grisalhos – nele, a ligeira calva destacando os cabelos lisos. Quem…


  • Foi só um sonho ruim

    Minha viagem que continuava, sem autorização. Meu sonho se fazia por si mesmo. Meu sonho se alimentava da solidão em que eu me via. Meu sonho erguia-se no escuro. Como um monstro. Passada a evacuação que me havia exorcizado, eu me sentia a criatura mais desprezível de nosso país. Tive muita vergonha de mim mesmo.…


  • Sonho 3428. Viagem com Cris

    Penso, com uma tranquila certeza, que ela foi condenada. Depois, revendo seu sorriso de lábios presos, tenho outra certeza, a de que ela foi absolvida. Cris vai ser julgada. Eu a acompanho até o tribunal. Estamos em viagem num trem silencioso, com mínimas vibrações, mostrando que o comboio está em pleno trajeto, talvez em altíssima…


  • Quase uma conclusão

    Peguei-me a brincar que alguém me chamava da porta. Eu próprio criava as palavras, a entonação afetuosa de quem se preocupava comigo. Quando me vejo estirado num esquife e pronto a ser sepultado, entendo que não quero lutar por coisa nenhuma. No fundo, é o que sinto. Não quero fazer nada pelo meu país. Nem…


  • Sonho 3415. A barricada das assassinas

    Com essa visão terrível, o copo cai de minha mão. Sem ruído algum, nem mesmo um mínimo tilintar distante de cacos de vidro. No telejornal, a notícia de que as três assassinas estão em fuga. O apresentador agora pergunta a um especialista, sentado próximo a ele, no estúdio, se a surpreendente barricada que elas montaram…


  • Praguejando em silêncio

    Mas eles me viram e acenaram, os malditos, chamando-me pelo nome. Não imaginam o quanto me é difícil viver com o que sou. Quando cheguei ao bairro, após o salto espetacular que me havia projetado para fora daquela carroça sacolejante, eu já não podia fazer outra coisa senão correr, correr muito. Parecia um possesso. Aos…


  • A vida, sempre mais forte

    As portas se abriram com estrépito. Qualquer espécie de engrenagem ameaçadora, mas sempre, sempre inofensiva. Era ainda o meio da tarde. O metrô não muito lotado deu-me uma chance e um assento. À minha frente, uma mulher pobre, de seios grandes, feia mas de olhar bondoso, com seu bebê ao colo, contando à passageira ao…


  • Válido apenas para pequenas viagens

    Compreendi que os havia perdido para sempre. Que o meu passado havia se perdido para sempre.. Movido por um lapso de autocontrole, disfarcei (mal) meu nervosismo e fui me levantando desajeitadamente, pedindo-lhes licença e que aguardassem por um minuto, não saíssem dali, hein? – em tom de fazê-los achar muito engraçada essa brincadeira de não…


  • A tarde (e tudo o mais) pela metade

    Sei muito bem, Vina. De uma maneira ou de outra, ninguém sairá ileso de nenhum encontro humano. NOVO PLANO BENEFICIA MICROEMPRESAS Findo um regime de arbitrariedades, descobrimos, assombrados, que boa parte de toda a riqueza do país era, de alguma maneira e em proporções diferentes, enviada ao exterior, sem que alguém o pudesse denunciar. Os…


  • Hei de continuar fingindo sempre

    Tenho apenas minha morte como certeza. Uma vez aqui, tudo me atormenta e exige continuidade. Então, passou pela calçada uma família distraída e de bem com o dia. Os jovens pais levavam pelas mãos um casal de crianças pequenas. Um garotinho de óculos que se parecia comigo recordou-me drasticamente a infância. Sua irmã menor, também…


  • Encantos que se quebram ao meio-dia

    Considerava com certa melancolia o sorriso próprio dos otimistas, dos inocentes. Talvez os maiores culpados. GOVERNO OTIMISTA: NOVO PLANO JÁ TRAZ RESULTADOS Minha manhã decorreu como um surdo pesadelo de nuvens e ruas molhadas. Apertando campainhas, interfones, porteiros eletrônicos. Encarando pessoas feias, desonestas ou apenas desorganizadas, vidas pelo avesso, mentes pela metade. Mostrando papéis, credenciais,…


  • E aquela tarde suave, tão bela…

    Se bem que, nesse andamento de agourentas circunstâncias, o que mal ou bem acontecesse, que acontecesse de qualquer maneira. Em minha vida, o pior já havia acontecido. Como bom conhecedor de minhas diarreias, entendo que a formação de gases, e não exatamente as contrações intestinais, é o que força a saída e causa o mal-estar.…


  • Lisette Maris em seu endereço de inverno

    Lançamento da nova edição A terceira edição de Lisette Maris em seu endereço de inverno ficou pronta. Esse livro, que reúne contos muito variados, foi escrito entre momentos sombrios e outros de intensa luminosidade. Não era (como nenhum livro meu é) um projeto, mas uma seleção resultante da atividade literária de um período em que predominavam os…


  • Vina disparue

    Só então me dei conta de que estava encharcado. Que tinha me perdido de Vina. Que não a encontraria mais. Chuva fina e silenciosa desde o fim da tarde. A noite sobre a cidade, como as manhãs, não revela as consequências das decisões ministeriais, atos e decretos. Não se mostra a ruína como numa panorâmica.…


  • Foi então que…

    No começo, tudo são esperanças, e as palavras as alimentam. Mais à frente, nos espera o mundo. Imune às palavras. Mas talvez eu esteja enganado sobre a primavera. Talvez seja tudo a minha solidão, o fato de voltar-me Vanessa e atingir-me com a mesma intensidade. Eu diria que naquele momento seria capaz de qualquer coisa…


  • Prendendo-a pela mão

    E o que poderia proteger-me agora? Quem me confundiria com um herói? “Quando doutor que não se ninguém ainda dizendo todo no esgoto que não vocês vocês também eu aqui.” O estrapilho girava e dançava enquanto rosnava o que tinha a dizer. Simulava, com os braços, asas de aves e de aviões. Entre seus estranhos…


  • Somos cópias produzidas pela repetição

    Naturalmente exagerava um pouco, é compreensível. Aliás, Vanessa estava tão bonita e agradável que nem de longe parecia uma boneca empolada. Ao contrário do que eu vinha radicalmente decidindo até há pouco, eu poderia sim, por um instante armado de fera convicção, abrir mão de qualquer ideia de vingança, servindo-me do inesperado pretexto que o…


  • A vida com mil riscos

    Não era aquela a rua do terminal, eu estava enganado. Só então me dei conta de que não tínhamos para onde ir. “Será que no mundo todo chove?”, disse ela, como se de fato não houvesse mais que dizer, sendo aquela a última frase possível num dia como aquele, ainda em curso, ainda possível. “No…


  • Agressividade dos pombos

    Ainda disseram muitas tolices, e nenhuma vez mencionaram o dia ou a primavera. Achei isso notável e digno de registro. Copérnico e Vanessa – não é que já ia me esquecendo deles? – lembraram um comercial de TV, desses que ninguém aguentava mais, no qual um sujeito sem camisa tocava saxofone na sacada de um…


  • Comer alguma coisa, a vida outra vez

    Andamos muito, sem falar. Separados. Sem saber, ela me arrastava por caminhos que normalmente eu tentava evitar. GOVERNO QUER O APOIO DE TODOS NO COMBATE AOS ESPECULADORES Não fui à livraria, não queria mais a ovelha ruiva. Ela própria rompera seu encanto ao revelar-se uma criatura aprisionada, fraca e dependente. Aliviou-me a decisão de nunca…


  • Perigosas canções inofensivas

    A canção traz uma incômoda nostalgia de algo que não alcançamos. Uma sensação de derrota à luz do dia. Qual era a contrapartida disso? Os que berravam canções estridentes e ruidosas como a servir de hino à sua revolta, de exorcismo a seus demônios? Também de nada serviria se Copérnico fosse um entusiasta dos metaleiros…


  • Minha parte entre o sol e as chuvas

    Não é a chuva o que me deixa triste. Não sei mais o que me deixa triste. A tempestade. Mais tarde, pelos noticiários, conheceremos as vítimas de enchentes e desabamentos. Parece incrível, mas é assombroso, que a cada momento nasçam e morram pessoas por toda parte. Milhares, milhões. A diluição do individualismo pode nos deprimir, não…


  • Excentricidades e harmonias

    Não tenho nenhuma vergonha de confessar isso. Não tenho vergonha de confessar nada. A esta altura de minha vida, a solidão progressiva e pungente afeta-me de maneira a conduzir minhas atitudes alucinadas. Daí porque resolvi ficar. Para se ter uma ideia, e a propósito de tal solidão, cheguei a escrever uma série de cartas a mim mesmo, enviando-as metodicamente…


  • Meu tempo sem previsão

    Não se sabia mais quando ocorreria ou não um desses aguaceiros devastadores. Vina e sua mala. Os choques. A chuva. Minha cota na tempestade. Pensando nela enquanto me lançava às ruas de segunda-feira, em busca de endereços e devedores. Tudo outra vez. Pela manhã, costumo me sentir um pouco atordoado, por nenhum motivo especial, por…


  • Eu ali, de uma maneira infernal

    Ao tempo, só podemos dar-lhe nome. O mais, basta que se aguarde com paciência, e um último silêncio nos caberá a todos. “E vocês? Há centenas de anos, tipos como vocês se repetem sobre a Terra. E agora, o que são? Vocês, que não aceitam nunca ser vencidos, que se afligem com a simples ideia…


  • Para eles, não há história

    Esses homens não são como nós, revendo álbuns e sonhos idiotas da juventude. O que acabou, acabou. NOVO PORTA-VOZ REFORÇA QUE O REMÉDIO É AMARGO MAS NECESSÁRIO Sim, os conselhos (e consolos) e discursos são todos para nós. Sempre para nós. Quando ocorrem demissões em massa, deflagram-se campanhas otimistas nas mídias, mostrando que o importante…


  • A vida é um vício, não é?

    Eu não queria dizer a ela: sofria outra vez a densa impressão de que no mundo não havia nada a ganhar ou a perder. Apenas a mesma antiga e estranha travessia movendo-se entre os vivos, cada qual sua própria luta e coragem vãs. “Essa trouxe o cachorrinho, olha só… Ele mija na perna de um…


  • Restos de meu pequeno mundo perdido

    Eu juntava restos das revistas em quadrinhos que os outros garotos desprezavam. Ia à feira semanal com escassas moedinhas, buscando na banca de revistas usadas o que meus recursos, tão avessos à urgência de minha sede, permitissem. Como dizia, as mesas ocupavam-se todas, ao redor. Eu ainda associava as pessoas, as coisas, à literatura, um…


  • Os morcegos do dia

    Os morcegos têm pressa. Não há mais o pouco a pouco. Afiam os caninos à noite, na obscuridade, abatem-se sobre a manhã incauta do povo. Do edifício mais alto, partia uma nuvem de morcegos que sobrevoava a noite. Desmembrava-se, fragmentava-se numa infinidade de indivíduos negros, ganchos voadores que entravam pelas janelas, invadiam as casas sem…


  • Entre fetiches e delírios, tudo muito secreto

    Há algo que nos move às misteriosas variações do prazer primordial. Nós, não sendo psicanalistas nem sexólogos, felizmente não os compreendemos. E podemos vivê-los. Ainda assim, tive a grata mas incômoda impressão, no fundo um daqueles nebulosos sinais espontâneos que já se insinuam prontos a convencer-nos de uma nova verdade (ou de uma velha verdade…


  • Esperança, mas que dramalhão!

    Era inútil desdobrar-me em pretextos. Ela não era normal e parecia decidida a ficar. Estranhei que batessem à porta do apartamento. Mas, sim, a campainha vivia me traindo, defeito na fiação. Umas oito da noite. “Oi”, disse ela. Uma mala de livros. A mesma camiseta exigindo o fechamento das indústrias poluentes. Calça justa, tênis encardidos.…


  • Controlados pelo costume

    Vanessa era uma mulher deliciosa, digna de ser preservada em alguma imagem sem artifícios. Fora disso, o tempo continua com seu estranho gosto pelas metamorfoses. Os grupos cresciam ao redor. Gargalhadas mecânicas e outras manifestações de frivolidade revelavam-se aos poucos, iam envenenando o ar. Tive vontade de erguer-me de repente e contar a todos ali…


  • A encantadora ovelha ruiva. Parte 2 (I Ching, estrelas, patrão)

    A única coisa que eu podia afirmar a mim mesmo era que aquela ruivinha supersticiosa me inspirava, naturalmente. O mais são confusões: amor, paixão, desejo, um carnaval de lixo semântico que só serve para piorar o sofrimento de todos nós. Tinha fome, mas queria antes passar na livraria – a ovelha ruiva. Sua imagem quase…


  • Persona non grata – mas eu já sabia

    Para minha desgraça, pareciam ser todos como eles, de sobrenomes intermináveis. Lá, era tudo muito caro. “Boa tarde.” Ah, agora ele vem. Deve ter visto Copérnico chegando. Não parece dar-me atenção, pois percebe que sou um qualquer, de sobrenome curto. Esse é dos bons. “Boa tarde”, eu respondi. Só eu. Nem assim o garçom me…


  • Coisas de rua e encontros desastrados

    Livro-me de todos eles no intervalo de almoço. Gosto de estar sozinho. Quero estar sozinho o mais possível. Viver minha única vida. A tarde vinha se mesclando à noite, o mundo ia perdendo seus contornos. Eu caminhava em direção a um amontoado de entulho deixado na calçada, suspirava de cansaço por qualquer mísero obstáculo que…


  • Cantiga medieval de tristes vassalos

    Os rapazes de seu meio dispunham de mil vantagens sobre mim, sob todos os pontos de vista. Menos o do amor. A mesma idade. Não o mesmo passado. O que passou não mais se altera, todos aqueles dias se foram, e minha adolescência já não pode ser outra. Vanessa havia me desprezado, e Copérnico também, separadamente.…


  • Cuidado: ele tem um guarda-chuva

    Deixam cilindros na Lua, plaquinhas em Marte, latarias em órbita… Aonde pensam que vão, se saírem daqui? PORTA-VOZ ADMITE QUE GOVERNO NÃO TEM MAIS CONTROLE SOBRE A CRISE Ele poderia ter acrescentado: e quer o esforço de todos no sentido de… – como sempre fazem. Foi negligente, talvez ingênuo. À parte isso, jornais expostos em…


  • Música suave e um vulto do passado

    Como se tudo pudesse ser perdoado. Como se todos pudessem redimir-se, sem nenhum esforço para isso. E ali estávamos os três. Eu, com meu passado de humilhações e traumas inexpugnáveis, debatendo-me contra incessantes dificuldades financeiras, havia atravessado todo aquele período, chegara até ali, de alguma forma – e por nada. Eles, com suas vidas transcorrendo…


  • Trágico ou apenas… menos cômico

    Mórbido ou apenas… Bem, não importa o que seja. Se pode ser esquecido em breve. Ainda que tentasse evitar – o que nunca faço –, as ruas costumavam cercar-me de cenas avulsas, frases ouvidas por acaso, pessoas em movimento protagonizando os dias, todos os dias, antes que viessem outros, outros dias, outro tempo, outras gentes.…


  • Em parte, o destino

    Estamos nessa idade em que parte de nosso destino já transcorreu. E a outra parte como que se delineia previsível, com suas tendências, a menos que ocorram novos desastres. Dez anos. Durante essa tão breve quanto extensa amostra de tempo – pois referir-se a ela não é o mesmo que tê-la atravessado, com todas as…


  • Vida nova, sangue novo

    Não, não sou audacioso, sei disso. Não tenho certos valores apreciados pela maioria. Mas não estou vencido. Tenho planos subversivos para mim mesmo. Há quase um ano, trabalho num escritório de cobranças e tenho me aguentado. Hoje eu me sinto à vontade com os colegas, e eles também fingem que nos gostamos. Quase um ano…


  • Sempre muito entendidos

    Eu me sentia na linha limítrofe entre o pensar e o falar, com receio de confundir-me. Meu ódio ia voltando aos poucos. O fato era que Copérnico queria parecer um sujeito culto, para a admiração de Vanessa. E para minha própria admiração, sob outro aspecto. Entrou a falar do que lhe parecia mais acessível, algo…


  • A Lanchonete Mangueira

    A história é contada pelo vencedor. Não. Nem sempre. Esta história será contada por mim. A manchete era praticamente a mesma, quase a mesma de um ano atrás, pouco antes do choque econômico. GOVERNO GARANTE QUE NÃO HAVERÁ CHOQUE Segui pela galeria que me encurtava o caminho e refugiei-me no salãozinho sossegado, silencioso, da Lanchonete…


  • Com o tempo, comecei a mentir

    Deve ser porque eu vivia sempre em busca de algo e acreditava no que me diziam. Deve ser por causa da esperança. “Se precisar, sei de umas histórias que dão um puta livro”, cacarejou Copérnico. Detesto quando alguém me diz: por que você não escreve sobre a nossa cidade? Ou então: minha vida daria um…


  • Que sonhos teriam valido a pena?

    Alguma coisa com sua própria consciência, ela me contou. Portanto, parecia inevitável que que tudo acabasse assim. Tornei a encontrá-lo no dia seguinte, tornou a falar no Delfino. “E o Delfino, hein?” “Pois é.” Delfino, como pudera entregar-se assim? Sem um gesto. Sem um grito. Na verdade, eu não queria pensar mais nisso. Há pouco…