Office in a Small City por Edward Hopper

Tag: ficção

  • Piano para um menino secreto

    Eu não acreditava em contos de fadas, nem gostaria que fossem verdade. Não como nos livros. Perdido em minha conturbada solidão, eu só fazia assimilar a realidade dessas relações. Imaginava que um dia eles haveriam de se casar, teriam filhos (sempre tão belos, sempre tão bons…), e estes talvez estudassem em outras salas de aula…


  • O gosto diário de sua indiferença

    Seria uma tortura tê-la sempre por perto, sabendo-a intocável. Eu a amava. Não fui eu a primeira nem a última vítima do senso de humor humano. Há também vítimas fatais, em diversos países. E sei que, como eu, há outros por toda parte, em todas as épocas, em maior ou menor grau, os mais fortes…


  • De memórias ultrajantes

    A dor desses vexames me atrai diabolicamente. Só eu sei como me senti, só eu sei como me sinto ao relembrá-los. Por vezes eu me calava e não reagia, aproveitando-me oportunamente para avaliar os limites da mordacidade alheia. Quem sabe sintam pena, eu filosofava. Pena de si mesmos por estarem subordinados à ditadura de tais…


  • Todos queriam ser o Sol

    Na escola queria cada um ser o Sol, nunca o planeta. E as ideias do lúcido polonês eram incompatíveis com meus pobres sofismas. Não quero recordar as humilhações que amarguei em sua presença, inclusive, por causa de uma ou outra brincadeira de mau gosto que alguém sempre inventava. Eu era uma espécie de bobo da…


  • Seria o mínimo razoável

    Difícil sim, trágico até, é quando se dá o acidente da inteligência.E se compreende mais do que o esperado. É. Não é. Não, não é. Sim, pois é. Seja como for, não é difícil para alguém que nasce em certo meio, ainda que desvalido e sem perspectivas, viver entre os seus, desde que tenha também…


  • A vida segundo um antigo espanhol

    A vida segundo o patrão de mamãe e segundo um antigo espanhol.Eu era pouco mais que um menino, mas começava a desconfiar que os discursos mal correspondiam à realidade. Certa vez, fomos visitados pelo patrão de mamãe, e o recebemos à mesa da cozinha, no momento o local mais apresentável da casa. Ele suspirava todo…


  • O fato de eu ser ridículo

    Um leque de agradáveis invencionices. O sucesso, o dinheiro, a vida eterna e outras ficções. Vanessa Maria Sales Arantes Pavão – ainda me lembro de seu nome completo – sempre foi uma garota inteligente, observadora. Bonita também. Filha de um médico renomado em nossa cidade, vinha de um meio social bem diferente do meu, de…


  • Era ela, ela mesma

    A esquina, a avenida arborizada, mesas ao ar livre de um conhecido café. Eu a vi como num sonho, um sonho inesperado e arrebatador. Minha vida tem poucos atrativos, quase nada acontece, e só me é permitido escrever isto, dizer o que penso e assim expressar-me, porque sou inofensivo. Um jovem solitário, pouco atraente, sem…


  • Lançamento: A seta de Verena (2a. edição)

    O romance está sendo relançado, com nova diagramação, após a boa acolhida da primeira etapa dessa aventura editorial. Além da satisfação em ver a continuidade desse livro junto ao público, fica também a constatação de que uma boa história sempre envolve o leitor nesse outro mundo, que é o nosso, conduzido pelas surpresas da ficção…


  • O que tenho em comum com os tiranossauros

    Ante a nudez da menina rendida, a saliva escorre-me entre os dentes afiados. A fome e a sede forçam-me a dominar essa adolescente frágil a quem não resta senão sucumbir às vontades que amplamente se desenvolvem na penumbra do predador lascivo, poderoso, efêmero. Lisette Maris em seu endereço de inverno 53. Antropologia aplicada – próximo…


  • O caminho das ruas de flores vermelhas

    Se lhes digo “Olá!”, então passa um silêncio. Se me aproximo calado, ouço que murmuram entre si segredos inacessíveis. Ignoram-me. Mas estão ali. Eu as reconheço, sem dúvida, mas elas não a mim. Peço-lhes que me escutem ou devolvam um sinal que me permita compreender. Algo, o que finalmente me faça compreender. Depressa, antes que…


  • Braile contra a luz

    Admirava-me que as palavras estivessem presas às coisas e não caíssem como um ramo seco de uma árvore. Que um vento não as embaralhasse e uma árvore não passasse a se chamar poste ou cavalo. Um cão, menino. Uma casa, ratoeira. Um homem, pedra. A literatura não é outra coisa que um sonho dirigido. […]…


  • Os amantes das irmãs Novaes

    Os amantes das irmãs Novaes

    Recordações autônomas, indesejadas mas inevitáveis, como a gaveta do criado-mudo em que seu pai guardava o revólver. Entre eles, também havia o predileto. Elas o dividiam. Nunca houve questão quanto a isso. De resto, não era de se esperar que duas estudantes vindas da capital, hoje ocupando um discreto apartamento na parte alta do bairro…


  • Nada dos bolinhos mágicos

    A chuva fina e constante acalmava-me, como se me afagassem a mente seus ruídos ancestrais e repetidos ao infinito. Despertei à chegada de Mônica, a cópia da chave que eu lhe dera girando ruidosamente na fechadura, a porta rangendo ao abrir-se. Sentei-me na cama, ainda enrolado no cobertor. Ela trancou a porta por dentro. Parecia…


  • Sob a mira da arqueira real

    Sob a mira da arqueira real

    A neblina glacial e a fumaça escurecida, escapando de chamas invisíveis, misturavam-se no espaço. Então, em meio a tudo… Ainda nos degraus da escada, podia ouvir os poderosos acordes da Grande missa em dó menor, que alguém teria enfiado no aparelho. O casal de crentes! Só me faltava essa. Eles estavam sentados em minha cama,…


  • Depressa, o senhor não vê que eu estou fugindo?

    Que ao menos me sirva de lição. Minha única ficha, único tempo, minha única vida. Não posso parar agora. Tudo começou pela manhã, quando um dos pensionistas gritou-me, lá de baixo: “Cartão!” Era uma carta. Desci para pegá-la, voltei ao quarto. Rasguei o envelope, e meus olhos tremeram ao decodificar num relance as primeiras frases.…


  • A tentação de fraudar a própria história

    A tentação de fraudar a própria história

    Publicaram uma foto sua, cabeça ligeiramente torcida, fundo de estantes, em que se realçava, antes de tudo, a altivez afetada dos que se sonham gênios ou gigantes, e no fundo não passam de alongadas sombras de anões. A notícia da morte de Glauco Pinheiro de Pádua apanhou-me de surpresa e pôs-me estarrecido. Julguei que ele…


  • Propenso a fragmentar-se

    Propenso a fragmentar-se

    Até hoje, a literatura é uma maneira de desenvolver essa minha mesma miopia. Mas não sou um obcecado. Todas as artes me atraem, especialmente a música. Elevei ao máximo o volume do aparelho para ouvir a “Grande missa em dó menor”, de Mozart, não para fugir à realidade, mas para experimentar o caos. Toda espera…


  • Por favor, esqueça essa bobagem

    Por favor, esqueça essa bobagem

    – Tenho certeza de que já vi você antes. – Pode ser. Sim. Pode ser. Não sei. Nunca se pode ter certeza. Por um instante, como há muito não me acontecia, senti um pico de ansiedade, quase uma crise de desespero. Sabia que, se não tornasse a encontrá-la, teria uma longa noite de agonia e…


  • Fantasias da razão

    Fantasias da razão

    A livraria parecia lotada, mas o que havia, na verdade, era pouco espaço, daí a impressão. Verônica sorria entre umas amigas suas. Um rapaz de minha mesma altura, barba e óculos redondos. – Na sua opinião, por que o povo lê tão pouco? – Porque os textos não são interessantes. Porque não somos interessantes. “Do…


  • A arte é o cristal – o resto é a vida

    A arte é o cristal – o resto é a vida

    Em contrapartida às situações fortuitas que caracterizam o acaso das vidas humanas, inferi que a arte poderia ser a linha reta que corta, feito uma seta, os círculos do tempo, principalmente o labirinto de nosso século, infestado de burburinhos e mediocridade. A arte é o cristal. O resto é a vida. Será? A meu amigo…


  • Livre para fracassar

    Livre para fracassar

    Mônica me preocupava, como já disse. Escapava ao meu controle. Falava por si mesma. Quarto de pensão. Mônica sentada na cama, eu andando de um lado a outro. “Por que não se dedica a uma causa?” “Causa? Que causa, como assim? E por que faria isso?” “Há pessoas que se encontram, se realizam e até…


  • Não posso deixar que ela leia isso

    Não posso deixar que ela leia isso

    Eu não sabia o que dizer. Considerando seus olhos em lágrimas, os lábios mais inchados e bonitos, voltou-me à memória a manhã de chuva em que nos conhecemos. Eu escolhia verduras com grande dificuldade, ela se aproximou sem que eu percebesse. Ela estava ainda de avental quando cheguei ao apartamento. Ia sorrir, mas viu que…


  • Outra Plath: algo das raras imagens de Sylvia

    Outra Plath: algo das raras imagens de Sylvia

    Olhei para ela, muito interessado. Era incrível que lembrasse e dissesse coisas assim. Com os cabelos que usava por esses dias, assemelhava-se cada vez mais às raras imagens de Sylvia Plath. Sem a ajuda do patife que ela conhecia, acabei fatalmente diante do triunvirato inquisitório que seria a última etapa de meu destino até então,…


  • Outro Hugo: sensível e teimoso

    Outro Hugo: sensível e teimoso

    – Tudo bem, tudo bem. Não vamos falar nisso agora. O seu vício de metáforas e associações, como sempre. Você é incapaz de ver uma simples vassoura sem pensar que o tempo vai varrê-lo do mapa ou algo assim. – E você acha pouco? Hein? Abro a porta para Mônica. Ela usa um vestido insinuante…


  • Antes que o dia em questão me encontrasse

    Antes que o dia em questão me encontrasse

    Recordava a entrevista, que desastre tudo aquilo! Eles precisam de um redator profissional, isso é horrível. Eu acabava de perder o emprego. Saía do escritório para as ruas, pela última vez. As ruas de verdade, nada metafóricas. Durante muitos dias, errei pela cidade, ainda sem noção do que faria em seguida. Chegava a passar tardes…


  • Querida, eu posso escrever tudo

    Querida, eu posso escrever tudo

    Rodolfo tentava recompor-se, em vão. Lorena cobria os seios com os braços, enrubescida. Andressa, com uma calma maquiavélica, apanhou o telefone sem tirar os olhos de ambos. Cena seguinte. Rodolfo em sua casa, com Lorena. Lorena perguntou: “Tem certeza que ela não vai voltar mais cedo?” “Claro que tenho”, respondeu Rodolfo. “Fique tranquila. O cabeleireiro…


  • Em nome de tudo

    Em nome de tudo

    No princípio era o verbo – era nada. Era nada: outras eras desfizeram mais dessas doces mentiras. ……………..Eu sei, você sabe: palavras ……………..sempre serviram a nos enganar ……………..– claro, em nome de tudo. Que lindos são nossos livros. Que lindos, nossos ideais. Quem adivinha as lacunas mata a charada em nome de tudo. Em nome…


  • À beira de um ataque de abismos

    À beira de um ataque de abismos

    Claro que não sou o que normalmente chamam um homem de boa vontade, nunca fui. Mas nesse dia, especialmente, eu me acreditava a criatura mais desprovida de vontade do mundo. No centro da cidade, entrei por uma galeria que me serve de atalho e, com isso, ganhei algum tempo. Quero dizer, não perdi tempo. Quero…


  • O tempo limpará tuas mãos

    O tempo limpará tuas mãos

    O tempo limpará tuas mãos de teres arranhado o rosto nas trevas – e antes que apodreçam. O tempo limpará tuas mãos de tudo que se tem armazenado em sua emulsão de cinzas. O tempo limpará tuas mãos de teres arranhado o rosto nas trevas – e antes que apodreçam. …………..Adeus, pássaro negro e agourento. …………..Não…


  • Arremessando a bola para bem alto

    Afinal, o que vale viver de uma maneira ou de outra? Às vezes passo por ali, outras vezes não, o que não faz nenhuma diferença. Logo acima, na travessa onde moro, abre-se uma entrada sinuosa a partir da qual a rua se bifurca e onde moram muitas pessoas, quase se esbarrando de tão juntas, num…


  • Aquarela

    Aquarela

    Toda vez que eu desenhava no chão da praça e te divertia com figuras cômicas e flores de mentira, secretamente eu te fazia minha. O traço e a cor de que dispunha ao dia buscavam reter por mais tempo, se tanto podiam, tua curiosidade aérea, teus olhos de menina. Porém, do arranjo de flores e…


  • Aperfeiçoamento no processo de derrubar coisas

    Aperfeiçoamento no processo de derrubar coisas

    Dificilmente leio alguma coisa até o fim. Meus livros são todos interrompidos por papéis avulsos, que enfio neles como marcadores, e páginas dobradas com orelhas nada exemplares. Eu tinha ainda uns dez minutos, à toa. Duraram uma eternidade. Caberia minha vida inteira nesses dez minutos. À toa. Abri o periódico literário que havia chegado na…


  • Denise

    Denise

    Tenho um diário em branco onde dorme de negro Denise com seu dom  ………………..– negro, onde ela dorme. Tenho um diário de pedra onde Denise perde-se dos homens ………………..– pedra, onde se perde. Tenho (em vão) um diário contra o destino onde denuncio o descaso dos deuses ………………..– deuses, que digo? Noites sem estrelas são…


  • Pensamentos preguiçosos e pequenos sustos

    Pensamentos preguiçosos e pequenos sustos

    Afinal, o que vejo mais do que esta manhã? O que vejo além do que apenas me cerca, excluindo-se o que tendenciosamente imagino? A primeira coisa que vi nesse dia, ainda pela janela, foi o vizinho da casa em frente, que acabava de chegar com seu carro meio engasgado de frio. Fiquei ali, sem pensar…


  • Mas hoje era outro dia

    Mas hoje era outro dia

    Pensei ter sentido um novo calafrio, não tinha certeza. Teria sido talvez um último resquício daqueles tremores e impulsos febris. Ou uma febre menor. Ou um princípio de… Não, não era nada. À noite, subi ao quarto não pretendendo mais do que deitar e dormir. Estava frio. Como não havia jantado, a febre alastrara-se por…


  • Cemitério clandestino

    Cemitério clandestino

    Solo que me serve à margem dos que creem. Tu não sabes que me despi. Torno ao cosmo que me era – que sempre tem sido – sem a quimera que mal te atribuem, sem o sonho da alma que me querem.. Leia mais poemas e sobre poemas: Rapsódia em cinza O recurso da relva…


  • Febre – e outras emoções em cores

    Febre – e outras emoções em cores

    Tudo o que existia participava de alguma forma do calidoscópio de surpresa. A essa altura, eu já sentia a minha febre. Hoje acordei muito cedo, antes mesmo do despertador. Isso não é normal, pois geralmente tenho um sono de pedra e duvido até que conhecesse o sol da manhã, caso não houvesse despertadores. Mas algum…


  • Noctívago

    Noctívago

    Torno a me encontrar a esmo, tão sozinho quão distante. Sou a sombra de mim mesmo a me procurar, constante.. Leia mais poemas e sobre poemas: Diário, 26 O homem do violão azul Imagem: John Atkinson Grimshaw. Uma travessa na Headingley Leeds. 1881.


  • Como se nunca eu me conhecesse

    Como se nunca eu me conhecesse

    O maior herói é o homem comum, no dia qualquer. A maior aventura, a que não acontece. Embora a primavera se abrisse em sua plenitude, e embora eu não encontrasse um início menos arcaico para esta narrativa, poucos eram os jardins e canteiros de calçada onde umas pequenas flores desabrochavam, sem alarde, sua beleza. É…


  • O vidro

    O vidro

    Brilho do café como em festa: homens, mulheres, adolescentes ávidos/apáticos, sátiros maduros e suas pequenas – jovens como especialmente feitas para a carne. Outros passam pelo vidro à mesma noite: o travesti, a prostituta, o mendigo, o bêbado expulso, ………….os que ainda não chegaram ………….mas certamente virão mais tarde. Leia mais poemas e sobre poemas:…


  • Projeto esvanecendo-se. Abertura

    Projeto esvanecendo-se. Abertura

    Dois loucos completos. Com todas as amenidades, todas as gentilezas, próprias de cada um. Dois loucos, cada um à sua maneira. Um, completamente lúcido; outra, propensa à perfeição. No último dia de 2004 eu estava fingindo esperanças e uma agenda de motivações que não existiam mais em mim. Tinha perdido todas as minhas aulas e…


  • Esfinge

    Esfinge

    Em parte decifrada e ainda que amanheça (treva que o haver luz pressupõe), como a destilar um secreto sarcasmo aos que julgam vencer-lhe o jogo. Absoluto o enigma dado a desvendar-se. Tudo era anterior à esfinge que confrontas: hoje menos desafia, tanto mais te devora.. Leia mais poemas e sobre poemas: Mosca/vidro O recurso da relva…


  • O inverno segundo teu semelhante

    O inverno segundo teu semelhante

    Em um mundo onde as coisas tendem à dissolução, onde o tempo e a morte minam o rosto das pessoas e as arrastam em seu torvelinho cotidiano de estranhas situações, no meio de tudo, um menino pede socorro. Não há nada e nem pode haver algo mais caro ao ser pensante do que a vida.…


  • Galileu

    Galileu

    Manhã, amanhecer nas estradas. Ninguém mais precisa inquirir Galileu: silenciosa, serena, solitária, …………………………………………………….ela se move. Leia mais poemas e sobre poemas: Canção de ser O recurso da relva  Imagem: Edgar Alwin Payne. Trilha na serra.


  • Serviço de rua

    Serviço de rua

    Não, não sou audacioso, sei disso. Não tenho certos valores apreciados pela maioria. Mas não estou vencido. Tenho planos subversivos para mim mesmo. Há quase um ano trabalho num escritório de cobranças, e tenho me aguentado. Hoje sinto-me à vontade com os colegas, eles também fingem que nos gostamos. Quase um ano nos separa de…


  • O outro dia hoje

    O outro dia hoje

    De novo o dia hoje veio com seus habitantes sem rosto mas cada um seus traços únicos, cada transeunte que ontem passou hoje pelo mesmo dia.  ……………………..– veio o comerciante pela manhã ……………………..e descerrou sua loja de hoje, veio o garoto de entregas com sua bicicleta de rotina, ……………………..veio a jovem bem vestida, veio ……………………..ver…


  • Correspondência

    Correspondência

    1 Chega uma carta com vapores de além-mar e bandeiras enigmáticas – dentro dela e deste mundo, outro mundo se constrói. Claro envelope, mensagem das sombras. Dentro dele, tudo se resume: a terra e seus escravos, as despedidas nas estações, os pássaros e o sangue, as pontes com seus suicidas, as manhãs, os sinos fúnebres,…


  • Estudo com cristais. O réquiem das crianças (13/13)

    Estudo com cristais. O réquiem das crianças (13/13)

    Penso ver em seu rosto todos os rostos. Em todos, o preço da paz. Em todos, o impulso da vida. Em todos, a face da morte. A trilha de lajes hexagonais atravessa a noite – e a tormenta. Leva-me a essa manhã de árvores que, aos poucos, se dividem e se alinham entre alamedas, muretas…


  • Paisagem

    Paisagem

    Cidade infinita dos homens, imagem dos lugares a que pertenço sem que me pertença, cenário das sombras que me espreitam em lugares outros onde nunca estive: pior do que isso, tão nitidamente quanto neste dia, é sentir-me outro tempo, outro tempo em que eu próprio não esteja aqui. Não me chamem pelo nome: o indivíduo…