Office in a Small City por Edward Hopper

Tag: ficção

  • Projeto esvanecendo-se. A primeira tarde de areia e mel

    Seu sorriso de covinhas parecia radiante dessa vez. Foi a primeira imagem que me afetou, o que primeiro me chamou a atenção, de olhos meus diretos em seu rosto. Fui à casa da Joss Stone. Eu começava a ser feliz. Parecia, sim, que começava a ser feliz, como disse. Era uma expectativa, uma impressão. Não…


  • Projeto esvanecendo-se. Dos primeiros dias inúteis

    Não queria ressentimentos. Não queria ficar assistindo a imagens do passado no cinetoscópio precário da memória. Caminhava e corria outra vez. Até a exaustão, que era boa, e voltava a caminhar tranquilo. Mas inquieto. Com medo do que me escapava. Do que eu não percebia. Por que minha condição atual não me exasperava? Meu fundo…


  • Projeto esvanecendo-se. Do que eu era

    De qualquer forma, minhas falas e aulas sempre produziam algum efeito. Eu via pelas expressões dos rostos, aparentemente neutras, mas provendo olhares atentos. Eu me orgulhava de minhas aulas quando conheci a Marjorie. Intuía, sem declarar a ninguém, que cada aluno representava a possibilidade de continuação das ideias inquietas interessantes contidas em minha mente. Sim,…


  • Projeto esvanecendo-se. Liberdade à força

    Mas não procurei nenhum deles. Não lhes enviei e-mails, não telefonei. Deixei que dezembro, com seus dias espessos, passasse. Minha vida agora era outra. A Marjorie saía para trabalhar. Eu ficava em casa o dia inteiro. Saía também, eventualmente, algum pequeno pretexto, comprar granola chocolate umas frutas pão de forma, tudo inventado. Afazeres, agora com tempo…


  • Projeto esvanecendo-se. Pequena deusa simples

    Nada era estranho na Grécia antiga. Era outro mundo, as coisas eram outras coisas. Eles inventavam um monte de histórias, uma quantidade de deuses e deusas, e ninguém estranhava nada, era tudo lindo e assustador. Tatuagem na virilha direita. Borboletinha à qual deu um nome delicado e infantil. Uma palavra que, tanto quanto o endereço…


  • Projeto esvanecendo-se. Matéria básica e um resto de vinho

    Mas ninguém nunca escapou de ser humano. E isso significa vivenciar a matéria básica que nos compõe, com toda a força da realidade, a matéria que nos desafia com a vontade de seguir e nos constrange com a vontade de chorar. Diário digressivo. Aula tratando dos primeiros poemas medievais em nossa língua. Literatura. Tempo. Até…


  • Projeto esvanecendo-se. Casinha de gengibre e os ventos seguintes

    O rodo lhe servia como um cajado, um cetro. Deixou-se cair sentada, uma das mãos cobrindo o rosto enquanto chorava. Nos primeiros anos de casados, não tínhamos empregada doméstica. Nos fins de semana, dividíamos alguma faxina e tarefas que pediam nossa semana à frente. O apartamento era pequeno estreito contido, vivíamos apaixonados, e mesmo as…


  • Projeto esvanecendo-se. Nossa juventude em fatias de espaço-tempo

    Uma festa opaca e branda. Orientada por outra magia. A morte da Maga assinalou, para nós, o fim de uma era. Nosso espaço-tempo, em fatias. Tínhamos todos mais de trinta agora. E ela, sendo uma de nós, representava outra memória sobrevivente da década anterior, nossos vinte anos. Para além disso, uma menina acima do peso, distraída…


  • Projeto esvanecendo-se. O jardim do hoje

    O dia passava. Qualquer coisa que eu dissesse a mim mesmo não impediria o avanço das eras seguintes. Coco Chanel geralmente fica comigo quando vou mexer no jardim. Ela se distrai (ou se concentra, pode ser) perseguindo insetos e lagartixas, que lhe escapam com facilidade. Mas ela não se importa muito, logo se esquece desiste…


  • Projeto esvanecendo-se. Uma coisa tão simples

    Eu não tinha pressa, mas não queria ficar ali, escutando arengas. Detesto encontrar esses ex-colegas pelo motivo simples de que são todos uns chatos. Quando fui convocado para esse encontro-conversa-cilada (um e-mail da secretaria relacionada ao Wellington), era inevitável suspeitar que algo assim, como o fim de meus dias por lá, fosse a pauta principal.…


  • Projeto esvanecendo-se. Um último aceno para nada

    Ela tentou um último aceno. Professor, só entre nós. Eu tive acesso a muitas informações sobre seu trabalho e…  Depois de consumado meu desligamento da universidade, com minha assinatura em três vias e minha indiferença em quatro dimensões, a Adelaide me acompanhou até o limite daquela divisão, uma porta de vidro grosso que abria um…


  • Projeto esvanecendo-se. Por causa de uma noite de chuva

    Os boatos tomaram a frente de tudo que se pretendesse interessante nos corredores da escola. Só eu não sabia dessa falação. Eu sabia muito bem o motivo da minha demissão. E não era esse. Não era digressão coisa nenhuma nem coisa nenhuma desse tipo. Eu tinha consciência de que não era um professor como os…


  • Projeto esvanecendo-se. Como contar a ela?

    Certo, ela tinha razão. Quando estou irritado, estendo mais do que devo o que tenho a dizer, sempre torcendo tudo a meu favor, é claro. A Marjorie apenas repetiu a palavra. Digressão – e comprimiu os lábios em seguida, estendendo à frente o inferior mais que o superior, fazendo beiço a alguém invisível, simulando surpresa e…


  • Projeto esvanecendo-se. Dias antes, dias depois

    Todo dia nasce alguém. Este dia é o primeiro dia de alguém. Todo dia morre alguém. Este ainda em curso é o último dia de alguém. Para mim, só mais um dia infinito. De não nascer e de não morrer. Minha vida tinha se tornado estranha ociosa incerta opressiva, mas pela primeira vez interessante. Por…


  • Projeto esvanecendo-se. Uma garota como outras – só que não

    Você se parece com ela sim. Não é? Seus cabelos, seus olhos estreitos, essas covinhas aí. Eu mesmo não sabia ao certo o que era. … associando situações reais com minha memória de livros, com imagens míticas que eu guardava sem querer, revia os cabelos cor de areia da Josie e punha em seus lábios…


  • Projeto esvanecendo-se. Das coisas todas

    Marjorie era uma caçadora. Disfarçada pela etiqueta. Encoberta pelas vantagens dos bons modos. .  Ainda menino, gostava de escrever livros que não existiam, que não passariam a existir. Criava a história toda, mas não me animava a redigi-la. Adquiri o vício absurdo de associar livros às coisas que me pareciam importantes, referindo-me, por exemplo, ao…


  • Projeto esvanecendo-se. Cintilações que não podem ser

    Ela estava me contando coisas de suas experiências nas ilhas britânicas, onde tudo parecia ser melhor do que o que temos por aqui, pelo visto. Duvido. Não existem lugares sem tristezas. Nosso casamento era afetado por coisas pequenas, que a Marjorie invariavelmente exagerava. As crises recentes da humanidade não eram páreo para ela. Os mínimos…


  • Sonho 3457. Acompanhando Camila

    Subitamente, fui tomado por uma impressão incômoda de que podiam ser os vestidos de três mulheres mortas. Talvez tivessem sido enterradas ali, sob o piso da sala, e inexplicavelmente teriam descido ao fundo da terra sem que lhes acompanhassem suas roupas. Eu voltava com ela de algum lugar, não sabia qual. Mas sabia que estávamos,…


  • Projeto esvanecendo-se. Eu não queria que isso acontecesse

    Ela é uma menina bonita, um pouco baixa, pequena, covinhas ao lado do sorriso. As gengivas superiores sempre aparecem um pouco quando ela sorri. … Saul Bellow certa vez escreveu que um pensamento de morte por dia nos poupa da psiquiatria. Eu, definitivamente, não concordo com ele… Meu envolvimento com a Joss Stone começou por…


  • Um carinho enorme por esta lembrança

    Percebi, emergindo de um sono breve e profundo, que estava amanhecendo. Eu retornava de uma noite de sonho. Vivia ainda um sonho estendido. Quando voltei de verdade ao consultório do doutor Stabile, inventei maneiras de lhe perguntar sobre a Josie. (Ele tinha outra funcionária agora, chamada Regina Mara, morena quarentona, maquiagem forte, franja na testa,…


  • Brincadeira com bichos

    O que achei de fato interessante foi o bicho escolhido, um escorpião. Achei interessante mesmo. E era um rapaz anêmico, olhos fundos, parecia doente. Sempre detestei ter de participar do que quer que fosse. Sempre mesmo, desde que me entendo por gente. Mesmo em criança, isso me parecia repulsivo. Tinha a impressão de ser forçado…


  • Projeto esvanecendo-se. O sonho com a jovem calva

    Queria saber sobre a sensação de ser beijado daquela forma. O que aquilo significava? Quem poderia ser ela? Pense com calma. Não tem que responder agora. … Fernando Pessoa deteve-se na questão de não nos conhecermos, pontuando que esse dom (o de nos desconhecermos) é o que nos poupa de ver nos outros nosso próprio…


  • Todos nós morreremos na semana que vem. Parte 7

    Às vezes torno a embriagar-me de esperanças Sentia-me tão bem que poderia rir de meus pesadelos. Falo sério. Embora eu pressentisse tal entusiasmo como transitório, pretendia vivê-lo o mais que pudesse, pelo maior tempo possível. O que pretendo com isso? Justificar, explicar alguma coisa? Absolutamente. Foi só um sonho que tive. Qual seria então a…


  • Projeto esvanecendo-se. Um stone outra vez a caminho

    Não importam as guerras mundiais, os conflitos sangrentos gerando refugiados… Para nós aqui, mimados pela ilusão da segurança, as proporções são pateticamente outras. Este caminho que agora estou fazendo vai dar na casa da Joss Stone. Ela mora num dessas apartamentículos, um conjunto residencial de predinhos de três andares, só escadas, uma dessas colmeias geometricamente…


  • Como desviá-los de si mesmos?

    Como pode um ser humano de verdade submeter-se a semelhante tarefa? (Por extensão, perguntava-me o mesmo quanto aos jogadores. Por trás dos vidros da grande loja, o arranjo das incontáveis telas de TV, muitos aparelhos ligados ao mesmo tempo, multiplicando imagens de uma partida de vôlei que, evidentemente, não me interessava. Uma coisa dessas nunca…


  • Todos nós morreremos na semana que vem. Parte 6

    Dias nítidos, claros pesadelos Eu mal podia afirmar se ainda sonhava ou não, se estava vivo. Em minha memória desenrolava-se outra vez o pesadelo do passado. Sou o que chamam uma mente atormentada. Não importa. Tenho tido dias difíceis, mas tem valido a pena. Acreditava em certas coisas que hoje sei falsas, mas não me…


  • Eu, onde estou?

    Um novo calafrio, dessa vez mais agudo. Isso também não importa. Nem o que me aconteceu ver e ouvir enquanto errava sem qualquer intenção por essas ruas. Eu observava tudo e não conseguia vislumbrar o que fosse importante. Nunca o suficiente. Pessoas por toda parte, homens com valises, funcionários uniformizados, estudantes e seus livros, qualquer…


  • Todos nós morreremos na semana que vem. Parte 5

    Uma pergunta perigosa Ainda: não é a crença ou a descrença o que me impede de tentar morrer. Disse certa vez que não me suicidava por falta de fé, mas isso é ridículo, além de ser uma grossa mentira. “Ateus: não têm nem vergonha de dizer que são ateus…” Ora, não importam todas as histórias…


  • Eram eles os doentes, não eu

    Sentia-me perfeitamente lúcido, o que era admirável. De uma lucidez cristalina e reveladora, num dia tão cinzento. Talvez não fossem pensamentos, mas sensações. Tanto pior. Intuir a ilusão do real aniquila eventuais teorias fornecidas pela razão. Mesmo sem a febre, eu me sentia doente. Intuição, verdades sentidas. Para tentar definir tais sensações, é preciso vencer…


  • Todos nós morreremos na semana que vem. Parte 4

    Panfletários, mas por quê? É preciso perguntar a todos os que vivem por que fazem tudo o que fazem. Eles, sem dúvida, terão respostas prontas, justificativas, pretextos. Eu não. O tempo passa, nem a vida é uma verdade. Assim como se olha ao passado, posso adivinhar minha vida no futuro, uma inconcebível ausência. Outras vidas estarão…


  • Em meio a tudo tão certo

    Talvez nada seja mais perigoso, mais forte que a indiferença. Sob a luz estranha de um prisma assim, até a noção de perigo perde seu significado. Saí para almoçar, desejando qualquer coisa que não se parecesse com meu dia. Mas esse dia estava em toda parte, meu dia era eu mesmo, não o dia. O…


  • Todos nós morreremos na semana que vem. Parte 3

    O fato de estar vivo Tudo não passa de um exagero imaginativo, um sofisma de mau gosto. A morte é uma ideia abstrata e não pode ser considerada uma das faces desse todo. “Cara ou coroa?”, pergunta-me um deles, com uma moeda. Esse sujeito vive fazendo isso. Tem um marco alemão que ganhou ninguém se…


  • Todos nós morreremos na semana que vem. Parte 2

    Pesadelos recorrentes Por que me acontecia sonhar coisas assim? Por que a morte não me dava tréguas? Cenas tão nítidas como as de meus pesadelos eram o que mais me causavam pânico, sendo tudo tão claro e cotidiano. Mais à frente, há um grupo de instrumentistas, música latino-americana típica. Estão sempre ali. Suas canções são…


  • Todos nós morreremos na semana que vem. Parte 1

    O idiota incurável Antes de prosseguir, quero deixar claro: a vida e a morte são o que mais me preocupa. Por quê? Ora, pois são apenas tudo. Sou o que chamam uma mente atormentada. Não que procure ser assim ou chamar atenção para isso. Ocorre que, após algum tempo de muitos dias lúcidos e situações…


  • Pós-escrito tardio (mas irresistível)

    Falei-lhe de Vanessa sem mencionar, intencionalmente, seu nome. Dei-lhe pistas, descrevi seu rosto e sua voz. Não, nada. Outra vez casualmente, num misto de milagre e diabólica coincidência, esbarrei em Copérnico mais de trinta anos depois. Custou-lhe reconhecer-me. Parecia alterado, confuso. Outros, os mesmos: estávamos ambos grisalhos – nele, a ligeira calva destacando os cabelos lisos. Quem…


  • Foi só um sonho ruim

    Minha viagem que continuava, sem autorização. Meu sonho se fazia por si mesmo. Meu sonho se alimentava da solidão em que eu me via. Meu sonho erguia-se no escuro. Como um monstro. Passada a evacuação que me havia exorcizado, eu me sentia a criatura mais desprezível de nosso país. Tive muita vergonha de mim mesmo.…


  • Sonho 3428. Viagem com Cris

    Penso, com uma tranquila certeza, que ela foi condenada. Depois, revendo seu sorriso de lábios presos, tenho outra certeza, a de que ela foi absolvida. Cris vai ser julgada. Eu a acompanho até o tribunal. Estamos em viagem num trem silencioso, com mínimas vibrações, mostrando que o comboio está em pleno trajeto, talvez em altíssima…


  • Quase uma conclusão

    Peguei-me a brincar que alguém me chamava da porta. Eu próprio criava as palavras, a entonação afetuosa de quem se preocupava comigo. Quando me vejo estirado num esquife e pronto a ser sepultado, entendo que não quero lutar por coisa nenhuma. No fundo, é o que sinto. Não quero fazer nada pelo meu país. Nem…


  • Sonho 3415. A barricada das assassinas

    Com essa visão terrível, o copo cai de minha mão. Sem ruído algum, nem mesmo um mínimo tilintar distante de cacos de vidro. No telejornal, a notícia de que as três assassinas estão em fuga. O apresentador agora pergunta a um especialista, sentado próximo a ele, no estúdio, se a surpreendente barricada que elas montaram…


  • Praguejando em silêncio

    Mas eles me viram e acenaram, os malditos, chamando-me pelo nome. Não imaginam o quanto me é difícil viver com o que sou. Quando cheguei ao bairro, após o salto espetacular que me havia projetado para fora daquela carroça sacolejante, eu já não podia fazer outra coisa senão correr, correr muito. Parecia um possesso. Aos…


  • A vida, sempre mais forte

    As portas se abriram com estrépito. Qualquer espécie de engrenagem ameaçadora, mas sempre, sempre inofensiva. Era ainda o meio da tarde. O metrô não muito lotado deu-me uma chance e um assento. À minha frente, uma mulher pobre, de seios grandes, feia mas de olhar bondoso, com seu bebê ao colo, contando à passageira ao…


  • Válido apenas para pequenas viagens

    Compreendi que os havia perdido para sempre. Que o meu passado havia se perdido para sempre.. Movido por um lapso de autocontrole, disfarcei (mal) meu nervosismo e fui me levantando desajeitadamente, pedindo-lhes licença e que aguardassem por um minuto, não saíssem dali, hein? – em tom de fazê-los achar muito engraçada essa brincadeira de não…


  • A tarde (e tudo o mais) pela metade

    Sei muito bem, Vina. De uma maneira ou de outra, ninguém sairá ileso de nenhum encontro humano. NOVO PLANO BENEFICIA MICROEMPRESAS Findo um regime de arbitrariedades, descobrimos, assombrados, que boa parte de toda a riqueza do país era, de alguma maneira e em proporções diferentes, enviada ao exterior, sem que alguém o pudesse denunciar. Os…


  • Hei de continuar fingindo sempre

    Tenho apenas minha morte como certeza. Uma vez aqui, tudo me atormenta e exige continuidade. Então, passou pela calçada uma família distraída e de bem com o dia. Os jovens pais levavam pelas mãos um casal de crianças pequenas. Um garotinho de óculos que se parecia comigo recordou-me drasticamente a infância. Sua irmã menor, também…


  • Encantos que se quebram ao meio-dia

    Considerava com certa melancolia o sorriso próprio dos otimistas, dos inocentes. Talvez os maiores culpados. GOVERNO OTIMISTA: NOVO PLANO JÁ TRAZ RESULTADOS Minha manhã decorreu como um surdo pesadelo de nuvens e ruas molhadas. Apertando campainhas, interfones, porteiros eletrônicos. Encarando pessoas feias, desonestas ou apenas desorganizadas, vidas pelo avesso, mentes pela metade. Mostrando papéis, credenciais,…


  • E aquela tarde suave, tão bela…

    Se bem que, nesse andamento de agourentas circunstâncias, o que mal ou bem acontecesse, que acontecesse de qualquer maneira. Em minha vida, o pior já havia acontecido. Como bom conhecedor de minhas diarreias, entendo que a formação de gases, e não exatamente as contrações intestinais, é o que força a saída e causa o mal-estar.…


  • Lisette Maris em seu endereço de inverno

    Lançamento da nova edição A terceira edição de Lisette Maris em seu endereço de inverno ficou pronta. Esse livro, que reúne contos muito variados, foi escrito entre momentos sombrios e outros de intensa luminosidade. Não era (como nenhum livro meu é) um projeto, mas uma seleção resultante da atividade literária de um período em que predominavam os…


  • Vina disparue

    Só então me dei conta de que estava encharcado. Que tinha me perdido de Vina. Que não a encontraria mais. Chuva fina e silenciosa desde o fim da tarde. A noite sobre a cidade, como as manhãs, não revela as consequências das decisões ministeriais, atos e decretos. Não se mostra a ruína como numa panorâmica.…


  • Foi então que…

    No começo, tudo são esperanças, e as palavras as alimentam. Mais à frente, nos espera o mundo. Imune às palavras. Mas talvez eu esteja enganado sobre a primavera. Talvez seja tudo a minha solidão, o fato de voltar-me Vanessa e atingir-me com a mesma intensidade. Eu diria que naquele momento seria capaz de qualquer coisa…


  • Prendendo-a pela mão

    E o que poderia proteger-me agora? Quem me confundiria com um herói? “Quando doutor que não se ninguém ainda dizendo todo no esgoto que não vocês vocês também eu aqui.” O estrapilho girava e dançava enquanto rosnava o que tinha a dizer. Simulava, com os braços, asas de aves e de aviões. Entre seus estranhos…