Office in a Small City por Edward Hopper

Tag: ficção

  • Três mulheres, um talismã

    Três mulheres, um talismã

    Todos os livros que uma vez abri nunca mais se fecharam, e guardaram-se por trás de meus olhos como quando os lia antes de me deitar e os levava abertos minha noite adentro, Lice talvez me compreendesse afinal, ela que também vivia seu plano mágico: que faço minhas todas as palavras, que a morte só…


  • Micro-organismos

    Micro-organismos

    A manhã pelos vidros do laboratório não o afasta da noite anterior, quando se dera a dolorosa confirmação de que vinha sendo traído, e o pior: era o último homem que acreditaria capaz de despertar desejos em uma mulher. A manhã pelos vidros o trespassa de grades enquanto se desloca em direção ao local de…


  • A seta de Verena. Abertura 2 (Meigos pastores, secretos assassinos)

    A seta de Verena. Abertura 2 (Meigos pastores, secretos assassinos)

    Todo artista compreende um dia, ainda que se deixe classificar como criativo ou mesmo que continue fingindo-se inocente, que nunca foi senão o resultado da convergência de inúmeros outros que ele próprio elegeu. Vivemos entre os invisíveis limites de um mistério que se deixa entrever por espasmos, como cristais guardados só para alguns momentos, nas…


  • A seta de Verena. Abertura 1 (Guardo-o como quero)

    A seta de Verena. Abertura 1 (Guardo-o como quero)

    Você se levantou e não pôde evitar o dia. Você se desvia do espelho que também encontrará em pouco, mas não deve admitir que seu rosto esteja inteiramente arruinado. Afinal, bem perto de onde vive, e por grandes extensões de terra, seus semelhantes compartilham misérias tão mais graves que as suas, embora de outro gênero.…


  • Clara sob luz amena

    Clara sob luz amena

    Ela me ajuda com a calça, tira-me pelas pernas o que até há pouco impedia-me a nudez. Em troca, abro-lhe o vestido, o sutiã, desço-lhe a calcinha aos joelhos que se dobram, um após outro, tornozelos simultâneos. Não nos agrada a breve união que facilmente aproxima o orgasmo. Sempre nos lembra algo em que participe…


  • Bom dia, ontem

    Bom dia, ontem

    Quando se olha por uma janela e se observa o mesmo panorama, com os mesmos recortes de telhados, através dos mesmos vidros, por entre a mesma moldura, tanto no dia de ontem como no dia de hoje, o pensamento alonga-se como se espreguiçando, que as coisas todas parecem não passar nunca, e a nossa janela…


  • Técnica singular para inflar balões

    Técnica singular para inflar balões

    O primeiro sai algo banana ou salsicha. Outro toma forma de um camelo, duas corcovas oblongas. Ora, sim, um zepelim um tanto tímido. Murcho como uma fruta. Disforme feito um sonho.


  • As cinco estações

    As cinco estações

    Privilegiado pelas árvores, o bosque à janela de meu quarto, de onde migravam brisas aromáticas como filtradas por estames novos, canto de cigarras entre outros, quando a natureza revia seu sofisticado universo: as vastas manhãs da adolescência pareciam mais lânguidas na primavera.


  • Castelo de cartas

    Castelo de cartas

    Distraído do jogo, fixa longamente o verso das cartas viradas sobre a mesa, um castelo azul no topo de um íngreme penhasco.


  • O capitão na corte dos cadáveres

    O capitão na corte dos cadáveres

    Respiro, ao entrar, o silêncio hostil desses que me aguardam na sala do general. Caminho com segurança mas sem presunção. Sei que deste último confronto dependem minha vida e minha morte. O que tenho feito nos últimos meses, cada lance como sobre um vasto tabuleiro de xadrez, desde as ações de bravura até meus romances…


  • Nas escadas, mas não muito

    Nas escadas, mas não muito

    “Ora, Júlio, você é livre. Livre para tudo. Pois não vai o tempo dissolvê-lo como a todos, não é esse o jogo do futuro? Do que então podem ameaçá-lo?” “Não sei, Pablo. Ainda falta algo. Não compreendo. Ainda não. O que acha, Cândido?” “Vendo você aí, sentado nos degraus da escada, como se tudo estivesse…


  • A roda

    A roda

    Da janela, via os fundos do hospital e, a um canto do pátio, a velha roda de carroça. Sua febre repassava reis assírios, torturas medievais e as mais recentes. A roda vista era uma carroça, logo uma carruagem. Era um cepo. Um castelo. Um crânio. Todas as formas que assumia o atormentavam. Na mesma manhã…


  • Os jovens peregrinos e o profeta

    Os jovens peregrinos e o profeta

    Permanecemos atentos às nuvens, no fundo esperando que de fato ocorresse algo diferente e devastador: a chuva. Fez uma noite abafada, opressiva, seca e sem vento. A calma do campo era relaxante, mas não afugentava o tédio. Só à noite, uns grupos ruidosos apresentavam-se no palco. Durante o dia, não tínhamos porcaria nenhuma para fazer,…


  • Homens de negócios

    Homens de negócios

    Da luxuosa antessala, a secretária conduziu o homem de valise, confirmando que o doutor o esperava. O patrão ergueu-se sorrindo, cumprimentou o visitante e ordenou que se fechasse a porta. O homem abriu a valise e o liquidou com um tiro. Lisette Maris em seu endereço de inverno – Guia de leitura 42. Castelo de…


  • Você me acha cruel?

    Você me acha cruel?

    Enquanto coisas assim – imprevisíveis e aparentemente impossíveis há apenas algumas horas – vão acontecendo bem à minha frente, eu sempre digo a mim mesmo que ainda vou me arrepender desse dia. Na verdade, eu me arrependo de quase tudo o que faço.


  • Vina, a quase viúva

    Vina, a quase viúva

    Ela era jovem e bonita. Cabelos lisos, castanhos. Não podia ter mais que uns vinte e três anos. Mascateando livros. Vida dura, marido doente, desempregado, poeta. A maquiagem muito leve disfarçava-lhe as olheiras, o cansaço, o ar abatido de viúva. Antes que eu lhe respondesse, entrou na lanchonete um rapaz de camisa estampada, cabelos aparados,…


  • A encantadora ovelha ruiva. Parte 1 (Outro livro de bruxas?)

    A encantadora ovelha ruiva. Parte 1 (Outro livro de bruxas?)

    Anseio por vê-la diariamente, mas resisto: fico dois ou três longos dias longe da livraria para que não suspeite que estou apenas interessado nela. Peitinhos empinados, coxas consistentes, cintura… Cintura o quê? O que tem a cintura dela? E daí? Basta de descrições. Mais um pouco, só mais um pouco, vá lá, que esta vale…


  • Dormindo com as bonecas

    Dormindo com as bonecas

    “Ela uma vez me disse, quase sorrindo, de olhos cintilantes e talvez mais abertos que o normal: ‘Já pensou que a gente, depois de morrer, nunca mais vai existir?’ Eu fiquei quieto. Ela não podia estar feliz com aquilo. E não estava mesmo. ‘Já pensou?’ ‘Já.’ Puxa, quase vejo tudo outra vez, como se ela…


  • Antropologia aplicada

    Antropologia aplicada

    “Como vocês veem, as inscrições na sepultura muito antiga ainda podem ser lidas. Este crânio que tenho em mãos, apesar de coberto por esta substância cinzento-escura, conserva-se praticamente intacto mesmo após tanto tempo, o que pode ser atribuído às condições do solo local. O estranho nisso tudo é que…


  • Ana (meu caminho até ela)

    Ana (meu caminho até ela)

    Desde que começa a subir, é como se já estivesse aqui, na realidade de sua presença. Ouço os primeiros degraus de madeira lá embaixo, seus passos simétricos revelando algum solado de couro, ritmos inconfundíveis de um calçado feminino. E esses solados de certa forma se entendem com a madeira melhor do que qualquer outro material…


  • O circular retorna a seu infinito

    O circular retorna a seu infinito

    Alguém lê um jornal, o que é estranho: não se pode conceber um fato novo, algo que já não tenha ocorrido. Até os eventos que se supõem históricos mendigam sua chance de surpresa, já que não transcendem sua própria muralha de repetição. Por fim, ali está ela: de pé, junto à barra vertical, num agradável…


  • Uma das mil noites

    Uma das mil noites

    Era mais fácil naquele silêncio, o quarto bem isolado aos fundos, um motel que lhes proporcionava justamente o necessário para que desenvolvessem em segredo aquela sequência de amenidades pulsando sem controle. Ainda pareciam estar sonhando. Cama larga, com almofadas extras. Carpete no chão e nas paredes, como se tudo ali fosse confortável e desenhado para…


  • O final dos contos de fósseis

    O final dos contos de fósseis

    Não resisto, detenho-me diante da casa. Concretada a caixa de correspondência: não recebiam cartas, contas ou cartões os moradores que nos sucederam? Perturbam-me os grandes tipos do aviso (VENDE-SE), o rumor de vozes na sala. Então pode ser negociado à luz do dia este endereço de raízes, este santuário de minhas sombras?


  • Pai a casa torna

    Pai a casa torna

    Olhe, olhe só para isso: as flores ainda estão aqui. Sei que não são as mesmas, mas são da mesma espécie. Os outros novos moradores as preservaram de alguma forma, olhe só. Ou foram replantadas mais tarde. Ou… Sei, sei, já vi o degrau. Eu o conheço muito bem. E não estou brincando, você sabe.…


  • A âncora

    A âncora

    Nossa prestativa vizinha da frente vinha ver-nos todos os dias. Acrescentava curiosidades sobre a plantinha, que se desenvolvia rapidamente, elogiava os bons tratos. A casa dela era escurecida de plantas. Prometeu-nos fertilizante especial, inseticida forte, terra tratada. No sábado, pegou-meem casa. Logoque se retirou, minha companheira puxou-me a um canto. “Cuidado com o que diz…


  • Crônica de canção feita ao mar

    Crônica de canção feita ao mar

    Minha jangada vai sair pro mar… – ensinava dona Dorinha regendo-nos com um lápis. Com toda a voz de meus onze anos, entre os de minha classe e mesma formação, eu repetia as canções bonitas que nos mostrava essa mestra, enquanto acompanhava no perfil da colega, na fileira ao lado, o movimento de seus lábios,…


  • O mar dos meninos

    O mar dos meninos

    Como a toda criança aparentemente sadia, o mar e os navios encantavam-me. Nunca tinha visto um, nem mar nem navio, fora dos livros ilustrados em que os descobria. Desde aquelas antigas embarcações egípcias, passando por caravelas enfunadas e vapores ruidosos, até encouraçados em guerras mais recentes (até isso!), todos me pareciam belos.


  • Hoje, acabaram-se as xícaras

    Hoje, acabaram-se as xícaras

    Despertei com o ruído na sala, Maria Célia recolhendo xícaras, copos, cinzeiros, o que restara mais que a memória de uns amigos da noite anterior. O jogo ia se tornando confuso com seus pires lascados, xícaras sem asa, e nenhum de nós se lembrava mais de quantas xícaras e pires havia de fato. Às vezes…


  • A mesma aventura

    A mesma aventura

    “Bom dia a todos.” Por isso todos me observam quando subo ao ônibus, pela manhã. Não se diz bom-dia a todos, especialmente com tal sinceridade. Estranham roupas que mal se ajustam e fazem de mim um cidadão deselegante, sem interesse. Óculos que mal se ajustam ferem-me o nariz e as orelhas. Mal eu me ajusto…


  • Breve relato sobre o conhecimento de artes singulares

    Breve relato sobre o conhecimento de artes singulares

    No momento de embarcar, tudo sucede festivo e como nos atirássemos à mais gratificante aventura. Os companheiros nos acenam: “Vamos! Vamos!”, e eis o mundo de grandes portas abertas, de sorte à frente, tudo nos excita e convida ao futuro, menos o receio de acabarmos num dos quatro abismos que delimitam os mares e onde…


  • Sonho 772. Vista do mirante

    Sonho 772. Vista do mirante

    Vista de um mirante. Sonho com estranhas torres.É quando compreendo que meu espanto nunca foi senão uma faceta de meu medo. Estou no terraço, junto ao parapeito, do que me parece a noite mais clara, o edifício mais alto do mundo. As cidades não nasceram ainda. Todo o firmamento festeja a noite de mil sóis.…


  • Um único tiro

    Um único tiro

    “É, eu estava com ela, já disse”, pegando o nariz de Liana, rindo. “Eu não disse não, menina?” Beijos na orelha e no pescoço dela, a mesma estratégia adolescente de tentar neutralizar a companheira, fazendo-a arrepiar-se num frêmito de desejo, uma palavra, uma expressão que ele adorava imaginar enquanto isso acontecia de fato. Fssss… –…


  • Papéis com imagens, ossos para não esquecer

    Papéis com imagens, ossos para não esquecer

    Quinze anos. Violentada pelo cunhado. Perdera o filho de um mês. Sombras de família. Segredos, escândalos. Foto-grafada no pomar, sorri em meio às laranjas. Saudável, cati-vante, pernas e pés à mostra convidando a um ato brutal de volúpia. O sorriso, o pomar de laranjeiras. O que busca a natureza afinal? Momentos de violento desejo gerando…


  • Arca com retratos do pai. Parte 2

    Arca com retratos do pai. Parte 2

    Tudo em mim fica retido, antes de tudo. E fere ou fascina. O odor característico do papel plastificado, a tinta de impressão que até hoje reencontro em certos periódicos – eu começava a aprender dos textos, ao decifrá-los. O fascículo ilustrado com animais do Cretáceo, que ele me compra numa banca de esquina – também…


  • Arca com retratos do pai. Parte 1

    Arca com retratos do pai. Parte 1

    Tudo isso não passava de alucinação para mim – essa infância que ouvia dele, seus pais e avós, a quem mal ou não conheci. Só em minha fantasia podia vislumbrar os funerais dessa ancestral, quando iam todos a pé, trajando a indumentária da colônia e portando archotes no inverno. A vegetação do vale, os caminhos…


  • A moeda de milhões

    A moeda de milhões

    Incontáveis são as sutilezas que envolvem a sexualidade humana, não menos que as grosserias, os desejos inconfessáveis, as taras dissimuladas, as distorções e excentricidades, os tabus subvertidos, as violações à força, a infidelidade camuflada em velhas arcas de família, por vezes deflagrando episódios de paixão doentia, obsessões incuráveis e crimes violentos, porém só um leve…


  • De falsas princesas

    De falsas princesas

    Ao vê-la, pelo que percebeu como um breve instante, estendendo-se para o alto, apoiando um pé sobre a cama para alcançar o cabide vertical (Liana era baixa, mas não muito), as pernas tão bonitas bem ao lado do rosto dele, a tensão de uns músculos suaves logo acima do tornozelo, as coxas praticamente uniformes em…


  • Treze pode acontecer

    Treze pode acontecer

    Júlio estranhou que seus cabelos, repartidos ao meio, descessem só até o pescoço e a nuca, não chegando a tocar os ombros, e assim mesmo caíssem frontalmente qual fossem mais longos do que aparentavam, como se não pertencessem a um mesmo corte, e pudessem prender-se atrás das orelhas. Que coisa observar isso tudo. Foi sem…


  • Desdobramentos de um réveillon secreto

    Desdobramentos de um réveillon secreto

    Tornamos a nos conhecer na reunião que move a numerosa família à casa da matriarca em sua cidade. Ali os mais velhos apreciam clássicos do jazz e trilhas de cinema. Dessa vez pareceu-me claro de sua parte, quando todos deixaram a sala rumo aos fogos e às festas previstas a céu aberto, e ela passou…


  • Relâmpagos

    Quando penso em minha infância, vejo um menino atrás da vidraça numa noite tempestuosa – rosto sem sorrir, olhos iluminados por relâmpagos que o fascinam.


  • Suínos, símios, restaurante

    Suínos, símios, restaurante

    Três ou quatro restaurantes médios, cardápio variado e preços razoáveis, serviam de solução fácil às exigências de sua fome noturna, isso quando se animava a sair a pé pelo bairro, também por desejar romper com a tirania dos sanduíches que muitas vezes despedaçava sobre a cama ou à mesinha-estante-criado-mudo. Era preciso ao menos experimentar. Lembrar…


  • O demônio no fundo do quarto

    O demônio no fundo do quarto

    Magra e arcada, a velha de pele ressequida e cabelos grisalhos esperava por mim junto ao portão de grade. Malas prontas, mudança. Lenço, soluços. E um fio de pranto amargurado que mais lhe cavava os olhos cinzentos. Eu a abracei como pude, pedi que não tornasse a chorar, pois pessoas que choram me incomodam muito.…


  • Estudo com cristais. Lis (4/13)

    Estudo com cristais. Lis (4/13)

    Da primeira vez, quando dormimos juntos (nossos encontros têm sido escassos, à sorte de oportunidades), Lis perdeu o sono antes de mim. O beijo umedecido, emergindo das trevas, tornava lábios o pântano e a névoa que me entorpeciam, trazia-me de volta à vigília, ao que eu era e me sentia sendo, à vida possível. Na…


  • Tarde e jogos com Ester

    Tarde e jogos com Ester

    Suponho que para isto sirva o silêncio, para ouvirmos o que não nos querem dizer. Também para que se renovem todas as chances de dizermos algo mais antes do emudecimento. De erguermos um gesto antes da paralisia. Para não nos dizermos, quando tarde demais e na posse da melhor palavra, que estamos hoje morrendo de…


  • Invisíveis no intervalo

    Invisíveis no intervalo

    Ele a segura pelos ombros. Com carinho. “Ana, sabe, posso te dizer?” Coragem. “Tenho muita saudade daquela noite.” De frente um ao outro, mas já reativando uns passos lentos que os farão voltar à trajetória anterior – corredor da faculdade, percurso repetido do intervalo, quando de repente (com carinho, claro) ele a deteve. “Que noite?”…


  • Estudo com paredes / … / Estudo com ferramentas

    Estudo com paredes / … / Estudo com ferramentas

    Viu horrorizado que a machadinha empastada de sangue subia e descia em golpes sucessivos sobre seu peito. Pareceu-lhe uma infinidade de pancadas surdas ainda que uma só delas pudesse abrir-lhe o tórax ou separar-lhe a cabeça do corpo, e ainda que o jovem empunhando a perigosa ferramenta, um moreno escuro de físico débil, rosto de…


  • Café com neblina imprevista

    Café com neblina imprevista

    O caminho para o trabalho, os dias úteis, calendário. Supõe-se a agulha de um disco gigantesco, percorrendo as mesmas faixas conhecidas, o mundo à frente. Mesma rua, algumas quadras, quem diria. Quem diria? Estela: “Ora, somos vizinhos de serviço”, ela dissera. Sim, de coincidências também se nutre a história. E por que não? Dona Norma…


  • Não diga! Eu também…

    Não diga! Eu também…

    “Desculpe, qual é mesmo o seu nome?” “Estela. E o seu?” Sim, o que ele merecia. Consagrando e consolidando seu caos de motivos siderais. O meu? Júlio. Muito bem. Fácil. “Estela, me diga”, segurando aquela xícara enorme com as duas mãos. “Você costuma trazer estranhos para a sua casa?” “Não. Mas vi que você era…


  • Um puta abraço, os dois

    Um puta abraço, os dois

    Ele tirou a capa de sua antiga máquina de escrever, anos sem uso, nem serviria mais para nada, claro. Claro que não. Porque agora… Agora as teclas enchiam seus ouvidos, a vertigem fazia desfilar páginas arrancadas do cilindro com felicidade, os textos prontos, os estampidos sequenciais de uma metralhadora louca sobrepostos no tempo, registrando com…


  • Enquanto seu ônibus não vem

    Enquanto seu ônibus não vem

    Regina tinha os lábios finos mas tentadores. Com a mesma nitidez daquelas noites, o rosto dela aproximava-se para mais um delicioso beijo, sempre um delicioso beijo – o nariz pequeno, as maçãs do rosto, os cabelos curtos e loiros soltando pontas irregulares ao redor das orelhas, o contorno de seu rostinho quadrado desaparecendo conforme os…