Office in a Small City por Edward Hopper

Categoria: Conto

  • Registro de ciclos e movimentos

    Registro de ciclos e movimentos

    A Terra gira e recicla seus ossos. Há escombros impalpáveis, fendas na memória. Tantas vezes restaurada e ainda assim, na junção das hastes, o oliva-ferrugem, óxido de azuis na roleta que hoje conta os mortos. Junto ao orquidário, junto ao chafariz e ao banco de pedra, aqui onde me sentia seguro sem considerar o verdadeiro…


  • Chancelaria e viagem

    Chancelaria e viagem

    …seja este dia ou esta página, agora que tão intensamente atravesso as tardes de perdidas luminosidades, tão parecidas com a minha infância, de mesmo calor e mesmo incômodo, até finalmente intuir que um dos objetivos da vida é, magicamente, estar aqui. Medicamento sob prescrição médica, que diferença faz? Esbarro em tantos semelhantes sadios, mal os…


  • Nádia alcançada, meu último rosto

    Nádia alcançada, meu último rosto

    Senti as noites de minha juventude, o calor e o sereno de madrugadas sem fim, constatei prostíbulos que me escaparam às palavras enquanto os vivi e que não procurei resgatar na poesia das cartas. Identifiquei cada festa, cada momento de orgasmo e vertigem, cada solidão.


  • A casa e a célula

    A casa e a célula

    Claro que eu não poderia, nem deveria, aproximar-me de tal pensamento. Mesmo porque não o havia procurado, ele é que chegava até mim por meio das conclusões dela, que por sua vez pareciam ter-se originado de um sonho – para outros, talvez, um pesadelo. Na verdade, preocupam-me tentações desse gênero porque sei que sou capaz…


  • Cães de caça entre a Lira e Leão Menor

    Cães de caça entre a Lira e Leão Menor

    Eu olhava o cadáver: que fazer com esses restos? “Que fazer de vocês?”, eu o olhava. Trouxera-o de fora ao jardim dos fundos, já não podia voltar atrás. Terra ainda úmida, não seria difícil abrir uma cova precária, nem aquilo merecia mais. Logo voltariam a relva, as ervas rasteiras e umas flores inúteis, sempre casuais…


  • Cores, sombras: aquarela de passagem

    Cores, sombras: aquarela de passagem

    Minha lancheira encardida, ela com seus cadernos de classe empoeirados pelas quadras de terra que afastam a pequena escola, um galpão tosco e sem recursos que fica para mim tão longe, longe… É apenas o caminho de volta. Mas, aos seis anos, tudo é fascinante em qualquer caminho.


  • Cenas infantis

    Cenas infantis

    “É preciso ter coragem, lembra?” “Lembro, claro que sim. Mas parece que a coragem é uma qualidade dos sórdidos.” “Não importa. É preciso ter coragem de qualquer maneira. Noite alta, as casas fechadas. Sou apenas um corpo que anda. Por que a noite me aflige assim?” “Como posso saber? O que será para você talvez…


  • Engenho de limites

    Engenho de limites

    O luar quebrava o último ângulo dos ladrilhos. Na cama, eu aguardava o sinal sem fim das ausências, a bruma quase irreal que sucede as agitações em marcha, os pesadelos e os grandes conflitos, protegendo-me sob o cobertor como um menino se guarda sem seus anjos antes que volte vibrando, amplo e benigno, o trem…


  • Paixões e fugas (A paixão segundo três estudos)

    Paixões e fugas (A paixão segundo três estudos)

    Chuva fina, outra manhã. Ouço os cascos e as rodas das charretes nas ruas molhadas, vou sob os toldos que mal me protegem. Esta, a cobiçada cidade onde convergem os artistas. Pintam repetidamente suas vilas, becos e calçadas. Mas eu, que faço aqui?


  • Anabel em seu dia de luz

    Anabel em seu dia de luz

    Quando perdi minha filha, pensei que jamais conseguiria escrever sobre ela…


  • Das afinidades familiares

    Das afinidades familiares

    Outra noite, com amigos. Fomos os últimos. Chovia, e começávamos a nos desejar – eu, que nunca sorria. 1 Meu pai, depois de sepultado, passou a parecer-se ainda mais comigo. No sofá da sala, era o meu duplo, um espelho de terra: o pequeno rádio repetindo-lhe os informes municipais, outra vez o breve repouso antes…


  • As sombras

    As sombras

    Parei para ler o que havia nas mãos de alguns e espantei-me, porque ali se resumiam os pensamentos que ocupavam suas mentes e eram as chaves de suas almas. Li sonhos absurdos, planos criminosos, memórias, esperanças. Em muitos encontrei paixões sem sentido, vergonhas, frustrações, cartas suicidas, segredos de família…


  • Autorretrato 23 (conto)

    Autorretrato 23 (conto)

    A desconhecida que me devassava atraiu-me também. Entre suas companheiras, outras não menos cativantes, não se destacava pela beleza. Eu via algo em sua figura e em seus gestos, uma vaga ansiedade.


  • Carta com sarcófagos

    Carta com sarcófagos

    Quarto-e-sala é como chamam esta cela. A palavra estrangeira soa um pouco mais alegre, mas claro que não a liberta nem altera seus limites. Nada há de especial neste cubículo onde às vezes sonho ou interpreto minhas solidões, exceto por uma porta extra no fundo da saleta em L. Que eu saiba, é o único…


  • Sonho 811. O livro que falta

    Sonho 811. O livro que falta

    A coleção consistia de quatro livros ilustrados, uma enciclopédia adaptada para adolescentes, com artigos sobre inúmeros assuntos. Com o tempo, algumas imagens desapareceram de suas páginas, e eu nunca mais as encontrei – um menino deitado sob uma groselheira, o rosto malvado de um corsário e uma jovem grega portando uma ânfora. Talvez eu as…


  • Noite no jantar dançante

    Noite no jantar dançante

    Outros homens me viram passar pela porta lateral do salão de festas. Sei que me observaram de seus secretos desejos quando saí para o jardim aberto. Sentei-me sobre uns degraus de ardósia entre dois gramados, de altura conveniente. Tirei da bolsa o batom, revi meu rosto no pequeno espelho, meu pequeno rosto.


  • O engenheiro e os fungos

    O engenheiro e os fungos

    A vida não tem cura. Viver é estar doente de tempo.


  • Ante seus olhos, quase um silêncio

    Ante seus olhos, quase um silêncio

    Noite passada tornei a sonhar que a amava, e a conduzia por uns jardins impossíveis, enriquecidos de remansos, ramos inclinados e delicadas quedas d’água. Ela deita a cabeça em meu ombro, sorri com grande ternura enquanto caminhamos, o que me põe a despertar com um intenso desejo de possuí-la, como não menos o de destruir…


  • Vencidos, uma questão de tempo

    Vencidos, uma questão de tempo

    Se vou morrer hoje, tudo bem, eu pensava. Só o que me trazia um incômodo nervosismo era imaginar como morre­ria. Um só daqueles mísseis, se atingisse o apartamento, se atin­gis­se, digamos, o centro da sala, não me daria tempo para um úl­timo suspiro. Força de expressão, claro: por que eu haveria de querer um último…


  • O esquife de prata ornamentado

    O esquife de prata ornamentado

    No trem, engrenagens da memória voltadas à notícia da morte de meu pai, eu prevendo o fastidioso velório, a encenação toda, os maneirismos próprios de tais ocasiões…


  • Brinquedos

    Brinquedos

    Álbum de figurinhas com artistas e casais da tevê: por essa época, meus pais já não dormiam juntos. Banco imobiliário, enquanto oficiais de justiça chegavam para levar eletrodomésticos, objetos afins, valores penhorados.


  • Sonho 2117. A corte vazia

    Sonho 2117. A corte vazia

    Um homem está sendo julgado. A mulher bem vestida (entendo mais tarde que é a promotora de justiça) se levanta, com o dedo em sua direção, pronunciando frases intensas. O réu parece contrair-se no encosto, amedrontado. Um ambiente austero, vigas de madeira escura, divisórias envernizadas. Mas curiosamente as paredes parecem em chamas, entre fortes tons…


  • Estudo com cristais. Ester (10/13)

    Estudo com cristais. Ester (10/13)

    Conheci Ester no balcão de uma cantina – pelo menos, foi quando nos vimos. Não sei, mesmo hoje, se cheguei a conhecê-la como se espera conhecer alguém. Costumávamos almoçar ali, separadamente, quando não existíamos. Da primeira vez, iniciou-se uma conversa por acaso. Ela era educada, levemente arrogante. Da segunda, toquei seu ombro antes de me…


  • Três mulheres, um talismã

    Três mulheres, um talismã

    Todos os livros que uma vez abri nunca mais se fecharam, e guardaram-se por trás de meus olhos como quando os lia antes de me deitar e os levava abertos minha noite adentro, Lice talvez me compreendesse afinal, ela que também vivia seu plano mágico: que faço minhas todas as palavras, que a morte só…


  • Micro-organismos

    Micro-organismos

    A manhã pelos vidros do laboratório não o afasta da noite anterior, quando se dera a dolorosa confirmação de que vinha sendo traído, e o pior: era o último homem que acreditaria capaz de despertar desejos em uma mulher. A manhã pelos vidros o trespassa de grades enquanto se desloca em direção ao local de…


  • Sonho 1081. A carruagem veloz

    Sonho 1081. A carruagem veloz

    Há um grupo de homens uniformizados, com seus cavalos, bem à frente. Uns montados, outros de pé, apenas inertes ao lado de suas montarias, talvez aguardando ordens. Alguns desses homens caminham devagar enquanto olham o chão, como vistoriando o local, aparentemente de maneira aleatória, cruzando caminhos. Dois cães passeiam entre eles, também calmos, mas sem…


  • Clara sob luz amena

    Clara sob luz amena

    Ela me ajuda com a calça, tira-me pelas pernas o que até há pouco impedia-me a nudez. Em troca, abro-lhe o vestido, o sutiã, desço-lhe a calcinha aos joelhos que se dobram, um após outro, tornozelos simultâneos. Não nos agrada a breve união que facilmente aproxima o orgasmo. Sempre nos lembra algo em que participe…


  • Técnica singular para inflar balões

    Técnica singular para inflar balões

    O primeiro sai algo banana ou salsicha. Outro toma forma de um camelo, duas corcovas oblongas. Ora, sim, um zepelim um tanto tímido. Murcho como uma fruta. Disforme feito um sonho.


  • As cinco estações

    As cinco estações

    Privilegiado pelas árvores, o bosque à janela de meu quarto, de onde migravam brisas aromáticas como filtradas por estames novos, canto de cigarras entre outros, quando a natureza revia seu sofisticado universo: as vastas manhãs da adolescência pareciam mais lânguidas na primavera.


  • Castelo de cartas

    Castelo de cartas

    Distraído do jogo, fixa longamente o verso das cartas viradas sobre a mesa, um castelo azul no topo de um íngreme penhasco.


  • O capitão na corte dos cadáveres

    O capitão na corte dos cadáveres

    Respiro, ao entrar, o silêncio hostil desses que me aguardam na sala do general. Caminho com segurança mas sem presunção. Sei que deste último confronto dependem minha vida e minha morte. O que tenho feito nos últimos meses, cada lance como sobre um vasto tabuleiro de xadrez, desde as ações de bravura até meus romances…


  • A roda

    A roda

    Da janela, via os fundos do hospital e, a um canto do pátio, a velha roda de carroça. Sua febre repassava reis assírios, torturas medievais e as mais recentes. A roda vista era uma carroça, logo uma carruagem. Era um cepo. Um castelo. Um crânio. Todas as formas que assumia o atormentavam. Na mesma manhã…


  • Homens de negócios

    Homens de negócios

    Da luxuosa antessala, a secretária conduziu o homem de valise, confirmando que o doutor o esperava. O patrão ergueu-se sorrindo, cumprimentou o visitante e ordenou que se fechasse a porta. O homem abriu a valise e o liquidou com um tiro. Lisette Maris em seu endereço de inverno – Guia de leitura 42. Castelo de…


  • Você me acha cruel?

    Você me acha cruel?

    Enquanto coisas assim – imprevisíveis e aparentemente impossíveis há apenas algumas horas – vão acontecendo bem à minha frente, eu sempre digo a mim mesmo que ainda vou me arrepender desse dia. Na verdade, eu me arrependo de quase tudo o que faço.


  • Vina, a quase viúva

    Vina, a quase viúva

    Ela era jovem e bonita. Cabelos lisos, castanhos. Não podia ter mais que uns vinte e três anos. Mascateando livros. Vida dura, marido doente, desempregado, poeta. A maquiagem muito leve disfarçava-lhe as olheiras, o cansaço, o ar abatido de viúva. Antes que eu lhe respondesse, entrou na lanchonete um rapaz de camisa estampada, cabelos aparados,…


  • A encantadora ovelha ruiva. Parte 1 (Outro livro de bruxas?)

    A encantadora ovelha ruiva. Parte 1 (Outro livro de bruxas?)

    Anseio por vê-la diariamente, mas resisto: fico dois ou três longos dias longe da livraria para que não suspeite que estou apenas interessado nela. Peitinhos empinados, coxas consistentes, cintura… Cintura o quê? O que tem a cintura dela? E daí? Basta de descrições. Mais um pouco, só mais um pouco, vá lá, que esta vale…


  • O cavaleiro do século

    O cavaleiro do século

    Alguém, não me lembro quem, disse que eu não passaria desta noite. Mas não é por isso que me encontro imobilizado nesta cama. Não é por isso que não me levanto daqui. Eu nem estou doente. Não passaria desta noite… Não me lembra quem.


  • Antropologia aplicada

    Antropologia aplicada

    “Como vocês veem, as inscrições na sepultura muito antiga ainda podem ser lidas. Este crânio que tenho em mãos, apesar de coberto por esta substância cinzento-escura, conserva-se praticamente intacto mesmo após tanto tempo, o que pode ser atribuído às condições do solo local. O estranho nisso tudo é que…


  • Ana (meu caminho até ela)

    Ana (meu caminho até ela)

    Desde que começa a subir, é como se já estivesse aqui, na realidade de sua presença. Ouço os primeiros degraus de madeira lá embaixo, seus passos simétricos revelando algum solado de couro, ritmos inconfundíveis de um calçado feminino. E esses solados de certa forma se entendem com a madeira melhor do que qualquer outro material…


  • O circular retorna a seu infinito

    O circular retorna a seu infinito

    Alguém lê um jornal, o que é estranho: não se pode conceber um fato novo, algo que já não tenha ocorrido. Até os eventos que se supõem históricos mendigam sua chance de surpresa, já que não transcendem sua própria muralha de repetição. Por fim, ali está ela: de pé, junto à barra vertical, num agradável…


  • O final dos contos de fósseis

    O final dos contos de fósseis

    Não resisto, detenho-me diante da casa. Concretada a caixa de correspondência: não recebiam cartas, contas ou cartões os moradores que nos sucederam? Perturbam-me os grandes tipos do aviso (VENDE-SE), o rumor de vozes na sala. Então pode ser negociado à luz do dia este endereço de raízes, este santuário de minhas sombras?


  • Pai a casa torna

    Pai a casa torna

    Olhe, olhe só para isso: as flores ainda estão aqui. Sei que não são as mesmas, mas são da mesma espécie. Os outros novos moradores as preservaram de alguma forma, olhe só. Ou foram replantadas mais tarde. Ou… Sei, sei, já vi o degrau. Eu o conheço muito bem. E não estou brincando, você sabe.…


  • A âncora

    A âncora

    Nossa prestativa vizinha da frente vinha ver-nos todos os dias. Acrescentava curiosidades sobre a plantinha, que se desenvolvia rapidamente, elogiava os bons tratos. A casa dela era escurecida de plantas. Prometeu-nos fertilizante especial, inseticida forte, terra tratada. No sábado, pegou-meem casa. Logoque se retirou, minha companheira puxou-me a um canto. “Cuidado com o que diz…


  • Crônica de canção feita ao mar

    Crônica de canção feita ao mar

    Minha jangada vai sair pro mar… – ensinava dona Dorinha regendo-nos com um lápis. Com toda a voz de meus onze anos, entre os de minha classe e mesma formação, eu repetia as canções bonitas que nos mostrava essa mestra, enquanto acompanhava no perfil da colega, na fileira ao lado, o movimento de seus lábios,…


  • Sonho 1204. A estação orbital

    Sonho 1204. A estação orbital

    Então surge, bem perto de mim e sem que eu a tenha visto chegar, uma jovem que conheci há algum tempo, entre raras ocasiões, caprichos e arranjos do que chamamos acaso. Som de aves marinhas. Cabelos negros e lisos, pouco agitados pelo vento, esse mesmo vento que me parece tão forte e desconfortável. “Você se…


  • O mar dos meninos

    O mar dos meninos

    Como a toda criança aparentemente sadia, o mar e os navios encantavam-me. Nunca tinha visto um, nem mar nem navio, fora dos livros ilustrados em que os descobria. Desde aquelas antigas embarcações egípcias, passando por caravelas enfunadas e vapores ruidosos, até encouraçados em guerras mais recentes (até isso!), todos me pareciam belos.


  • Hoje, acabaram-se as xícaras

    Hoje, acabaram-se as xícaras

    Despertei com o ruído na sala, Maria Célia recolhendo xícaras, copos, cinzeiros, o que restara mais que a memória de uns amigos da noite anterior. O jogo ia se tornando confuso com seus pires lascados, xícaras sem asa, e nenhum de nós se lembrava mais de quantas xícaras e pires havia de fato. Às vezes…


  • A mesma aventura

    A mesma aventura

    “Bom dia a todos.” Por isso todos me observam quando subo ao ônibus, pela manhã. Não se diz bom-dia a todos, especialmente com tal sinceridade. Estranham roupas que mal se ajustam e fazem de mim um cidadão deselegante, sem interesse. Óculos que mal se ajustam ferem-me o nariz e as orelhas. Mal eu me ajusto…


  • Breve relato sobre o conhecimento de artes singulares

    Breve relato sobre o conhecimento de artes singulares

    No momento de embarcar, tudo sucede festivo e como nos atirássemos à mais gratificante aventura. Os companheiros nos acenam: “Vamos! Vamos!”, e eis o mundo de grandes portas abertas, de sorte à frente, tudo nos excita e convida ao futuro, menos o receio de acabarmos num dos quatro abismos que delimitam os mares e onde…


  • Sonho 772. Vista do mirante

    Sonho 772. Vista do mirante

      Vista de um mirante. Sonho com estranhas torres.É quando compreendo que meu espanto nunca foi senão uma faceta de meu medo. Estou no terraço, junto ao parapeito, do que me parece a noite mais clara, o edifício mais alto do mundo. As cidades não nasceram ainda. Todo o firmamento festeja a noite de mil…