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Categoria: Artigos
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Perdemos o fim da missa
Eu olhava ao fundo o retrato de Machado de Assis, menino de morro, ascensão social e exemplo que querem os outros como encarnação de seus métodos de controle, este à minha frente, eu considerava, se não finge tanto quanto eu, espera como todos que eu escreva por ele, que eu veja o que ele ainda…
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Ahmose
O mais antigo autor (escriba) conhecido Ahmose (viveu provavelmente cerca de 1650 a.C.) Escriba egípcio responsável pelo papiro intitulado Instruções para alcançar o conhecimento de todas as coisas obscuras (também conhecido como Papiro Matemático de Rhind), trabalho que versa sobre equações simples e que atesta a antiguidade da matemática egípcia. Esse papiro, no qual cada problema…
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“Pois eu faço questão!”
Por essa época, nada me parecia suficiente. Mas eu pressentia estar me aproximando de alguma nova efervescência de meus valores. Dois capítulos sobre isso é mais do que o gosto do leitor médio pode suportar, eu sei. Foi mesmo uma recaída. Arcádio Raposo vai querer cortar tudo. Ora, não. Talvez não. “Somos uma editora.” É…
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Retrato de meu hábitat quando jovem
Voltei para casa, mas sem grandes preocupações. No caminho, havia decidido levar adiante meu projeto, mesmo que não pudesse editá-lo. Deve ser algum distúrbio, eu sei. Cheguei menos cansado que o normal, suspirando assim mesmo, olhei com má vontade a pasta com meus textos sobre a escrivaninha (eu pretendia levá-los à editora, mas no último…
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Imhotep
O mais antigo cientista conhecido Imhotep (provavelmente 2650 a.C. – 2600 a.C.) Médico, engenheiro e arquiteto egípcio, o mais antigo nome conhecido, por meio de documentos históricos, do que hoje entendemos por cientista. Foi ministro-chefe do faraó Djoser, o segundo da terceira dinastia egípcia – na base de uma das estátuas do monarca, encontram-se inscrições…
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O Arcádio do Conselho Editorial
Antes de ir até lá, eu havia telefonado para confirmar a entrevista. Ela me deixara esperando por um tempo razoavelmente longo, pois fora o bastante para despertar-me o tédio, enquanto a gravação no aparelho entoava: Há um mundo bem melhor, todo feito pra você…, aquela incrível canção com a qual tentam nos motivar desde as…
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Memórias de gentis predadores
E o que é essencial à vida (a atração pelo sexo, o prazer da conquista e da sedução) se repete intensamente, com uma energia provinda de nossos genes, que não respeitam nenhuma estética criada por nós. Só o que podemos, com toda sinceridade, é admitir isso.
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Passeio (forçado) com Mônica
Mônica esperava em meu quarto. Sentada na cama, curvada para a frente, a mão direita apoiando o queixo, os últimos dedos mordiscados entre os dentes, a outra esquecida no colo. Pernas cruzadas, um pé como solto no ar desenhando voltas sobre si mesmo, depois refazendo o giro a girar no sentido contrário. “Então? Vamos?” Entregou-me…
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Noções de origem
Por uma questão de dignidade, eu queria continuar contando mentiras bem elaboradas, e nunca passar à frente nenhuma mentira que não fosse de minha própria autoria. Sim, isso me animou em muitas fases difíceis da vida. E talvez me motive sempre. Ah, como é bom escrever. Como é bom mentir.
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Sonho 811. O livro que falta
A coleção consistia de quatro livros ilustrados, uma enciclopédia adaptada para adolescentes, com artigos sobre inúmeros assuntos. Com o tempo, algumas imagens desapareceram de suas páginas, e eu nunca mais as encontrei – um menino deitado sob uma groselheira, o rosto malvado de um corsário e uma jovem grega portando uma ânfora. Talvez eu as…
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James Hutton
O investigador da idade da Terra James Hutton (Edimburgo, 1726 – 1797) Geólogo escocês, fundador da moderna concepção da evolução gradual da crosta terrestre. Inicialmente estudou nas universidades de Edimburgo, Paris e Leiden, formando-se em Medicina. Trabalhou como químico agrícola e montou uma fábrica de cloreto de amônia cuja renda lhe proporcionou tranquilidade financeira para…
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Dilemas inofensivos, obsessões horrendas
Como me irritam pessoas que leem tudo tão rápido. De uma enfiada, elas dizem. Bem-humoradas, contentes com essa capacidade boba. Como já disse, sou lento para ler (ou lerdo, o que melhor servir), devo reprimir uma faísca de inveja dos rápidos. Não sei se é só isso. Você fica cinco anos escrevendo um livro, relendo…
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Beckett lhe dá as boas-vindas
Cheguei mesmo a impedir que ela se apoderasse de uns exemplares meio carcomidos, que poderiam destroçar-se de vez – porque eu guardava umas edições muito velhas, de um papel que teria sido branco noutro século, tão antigas que, ao lerem-se alguns de seus parágrafos em voz alta e com alguma boa vontade, seriam capazes de…
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Consumação mínima
Ela fez questão de mencionar a última vez que estivemos num restaurante. Um sujeito simpático, meio garçom, meio porteiro, não sei, sorria às pessoas que entravam e saíam, desejando-lhes boa noite, bom apetite, bom isto, bom aquilo. Abriu-nos a porta de vidro e um sorriso que não o impedia de nos radiografar dissimuladamente, tanto quanto…
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Xenófanes
O primeiro a sugerir que a Terra era mais velha do que se pensava. Xenófanes (Colofon, Jônia, 570 a.C. – 475 a.C.) Poeta e filósofo grego, primeiro pensador a considerar que o planeta Terra sofresse alterações físicas ao longo dos tempos a ponto de se tornar irreconhecível, com isso antecipando em mais de vinte séculos…
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Meu amigo poeta-patriota
Glauco Pinheiro de Pádua, engenheiro civil, emprego público, Prefeitura Municipal. Poeta por prazer – ou necessidade? Às vezes aparece para trocar ideias, sua tal expressão, na verdade não é uma troca de ideias, ele nunca me dá ideias. De minha parte, evito anunciar-lhe as minhas – não que mereçam qualquer segredo, mas porque normalmente ele…
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Noite no jantar dançante
Outros homens me viram passar pela porta lateral do salão de festas. Sei que me observaram de seus secretos desejos quando saí para o jardim aberto. Sentei-me sobre uns degraus de ardósia entre dois gramados, de altura conveniente. Tirei da bolsa o batom, revi meu rosto no pequeno espelho, meu pequeno rosto.
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O engenheiro e os fungos
A vida não tem cura. Viver é estar doente de tempo.
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Ante seus olhos, quase um silêncio
Noite passada tornei a sonhar que a amava, e a conduzia por uns jardins impossíveis, enriquecidos de remansos, ramos inclinados e delicadas quedas d’água. Ela deita a cabeça em meu ombro, sorri com grande ternura enquanto caminhamos, o que me põe a despertar com um intenso desejo de possuí-la, como não menos o de destruir…
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Carl Sagan
A ciência é uma paixão Carl (Edward) Sagan (Nova York, 1934 – Seattle, 1996) Astrônomo norte-americano muito conhecido por seu trabalho de divulgação da ciência. Doutorado pela Universidade de Chicago em 1960, transferiu-se em 1968 para a Universidade de Cornell, onde lecionou Astronomia e Ciências Espaciais. Liderou diversos projetos com apoio da NASA, entre eles…
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O Arsênio da Editora Circular
Um arrepio. Conheço essa batida. Lenta, repetida três vezes, como se zombasse de quem está dentro. Outra vez. Digo, mais outras três vezes. Sim, só pode ser. “Bom dia”, diz ele quase cantando. Mas assim: grave, insinuante.
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O recurso da relva
As palavras finais de O morro dos ventos uivantes destacam a ação da natureza sobrepondo-se, no tempo e no espaço, a todos os conflitos que envolveram anteriormente os personagens Heathcliff e Catherine, com seus temperamentos apaixonados e intempestivos, agora mortos.
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O fim (e seu avesso)
Muitas vezes pensamos que tudo está sob controle. Que estamos a salvo e imunes. Só então é que as coisas de fato acontecem.
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Estudo com cristais. Ester (10/13)
Conheci Ester no balcão de uma cantina – pelo menos, foi quando nos vimos. Não sei, mesmo hoje, se cheguei a conhecê-la como se espera conhecer alguém. Costumávamos almoçar ali, separadamente, quando não existíamos. Da primeira vez, iniciou-se uma conversa por acaso. Ela era educada, levemente arrogante. Da segunda, toquei seu ombro antes de me…
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A seta de Verena. Abertura 2 (Meigos pastores, secretos assassinos)
Todo artista compreende um dia, ainda que se deixe classificar como criativo ou mesmo que continue fingindo-se inocente, que nunca foi senão o resultado da convergência de inúmeros outros que ele próprio elegeu. Vivemos entre os invisíveis limites de um mistério que se deixa entrever por espasmos, como cristais guardados só para alguns momentos, nas…
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A seta de Verena. Abertura 1 (Guardo-o como quero)
Você se levantou e não pôde evitar o dia. Você se desvia do espelho que também encontrará em pouco, mas não deve admitir que seu rosto esteja inteiramente arruinado. Afinal, bem perto de onde vive, e por grandes extensões de terra, seus semelhantes compartilham misérias tão mais graves que as suas, embora de outro gênero.…
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Sonho 1081. A carruagem veloz
Há um grupo de homens uniformizados, com seus cavalos, bem à frente. Uns montados, outros de pé, apenas inertes ao lado de suas montarias, talvez aguardando ordens. Alguns desses homens caminham devagar enquanto olham o chão, como vistoriando o local, aparentemente de maneira aleatória, cruzando caminhos. Dois cães passeiam entre eles, também calmos, mas sem…
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Bom dia, ontem
Quando se olha por uma janela e se observa o mesmo panorama, com os mesmos recortes de telhados, através dos mesmos vidros, por entre a mesma moldura, tanto no dia de ontem como no dia de hoje, o pensamento alonga-se como se espreguiçando, que as coisas todas parecem não passar nunca, e a nossa janela…
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As cinco estações
Privilegiado pelas árvores, o bosque à janela de meu quarto, de onde migravam brisas aromáticas como filtradas por estames novos, canto de cigarras entre outros, quando a natureza revia seu sofisticado universo: as vastas manhãs da adolescência pareciam mais lânguidas na primavera.
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Castelo de cartas
Distraído do jogo, fixa longamente o verso das cartas viradas sobre a mesa, um castelo azul no topo de um íngreme penhasco.
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Homens de negócios
Da luxuosa antessala, a secretária conduziu o homem de valise, confirmando que o doutor o esperava. O patrão ergueu-se sorrindo, cumprimentou o visitante e ordenou que se fechasse a porta. O homem abriu a valise e o liquidou com um tiro. Lisette Maris em seu endereço de inverno – Guia de leitura 42. Castelo de…
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Você me acha cruel?
Enquanto coisas assim – imprevisíveis e aparentemente impossíveis há apenas algumas horas – vão acontecendo bem à minha frente, eu sempre digo a mim mesmo que ainda vou me arrepender desse dia. Na verdade, eu me arrependo de quase tudo o que faço.
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Vina, a quase viúva
Ela era jovem e bonita. Cabelos lisos, castanhos. Não podia ter mais que uns vinte e três anos. Mascateando livros. Vida dura, marido doente, desempregado, poeta. A maquiagem muito leve disfarçava-lhe as olheiras, o cansaço, o ar abatido de viúva. Antes que eu lhe respondesse, entrou na lanchonete um rapaz de camisa estampada, cabelos aparados,…
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A encantadora ovelha ruiva. Parte 1 (Outro livro de bruxas?)
Anseio por vê-la diariamente, mas resisto: fico dois ou três longos dias longe da livraria para que não suspeite que estou apenas interessado nela. Peitinhos empinados, coxas consistentes, cintura… Cintura o quê? O que tem a cintura dela? E daí? Basta de descrições. Mais um pouco, só mais um pouco, vá lá, que esta vale…
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O cavaleiro do século
Alguém, não me lembro quem, disse que eu não passaria desta noite. Mas não é por isso que me encontro imobilizado nesta cama. Não é por isso que não me levanto daqui. Eu nem estou doente. Não passaria desta noite… Não me lembra quem.
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Dormindo com as bonecas
“Ela uma vez me disse, quase sorrindo, de olhos cintilantes e talvez mais abertos que o normal: ‘Já pensou que a gente, depois de morrer, nunca mais vai existir?’ Eu fiquei quieto. Ela não podia estar feliz com aquilo. E não estava mesmo. ‘Já pensou?’ ‘Já.’ Puxa, quase vejo tudo outra vez, como se ela…
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Antropologia aplicada
“Como vocês veem, as inscrições na sepultura muito antiga ainda podem ser lidas. Este crânio que tenho em mãos, apesar de coberto por esta substância cinzento-escura, conserva-se praticamente intacto mesmo após tanto tempo, o que pode ser atribuído às condições do solo local. O estranho nisso tudo é que…
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Ana (meu caminho até ela)
Desde que começa a subir, é como se já estivesse aqui, na realidade de sua presença. Ouço os primeiros degraus de madeira lá embaixo, seus passos simétricos revelando algum solado de couro, ritmos inconfundíveis de um calçado feminino. E esses solados de certa forma se entendem com a madeira melhor do que qualquer outro material…
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O circular retorna a seu infinito
Alguém lê um jornal, o que é estranho: não se pode conceber um fato novo, algo que já não tenha ocorrido. Até os eventos que se supõem históricos mendigam sua chance de surpresa, já que não transcendem sua própria muralha de repetição. Por fim, ali está ela: de pé, junto à barra vertical, num agradável…
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Uma das mil noites
Era mais fácil naquele silêncio, o quarto bem isolado aos fundos, um motel que lhes proporcionava justamente o necessário para que desenvolvessem em segredo aquela sequência de amenidades pulsando sem controle. Ainda pareciam estar sonhando. Cama larga, com almofadas extras. Carpete no chão e nas paredes, como se tudo ali fosse confortável e desenhado para…
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O final dos contos de fósseis
Não resisto, detenho-me diante da casa. Concretada a caixa de correspondência: não recebiam cartas, contas ou cartões os moradores que nos sucederam? Perturbam-me os grandes tipos do aviso (VENDE-SE), o rumor de vozes na sala. Então pode ser negociado à luz do dia este endereço de raízes, este santuário de minhas sombras?
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Pai a casa torna
Olhe, olhe só para isso: as flores ainda estão aqui. Sei que não são as mesmas, mas são da mesma espécie. Os outros novos moradores as preservaram de alguma forma, olhe só. Ou foram replantadas mais tarde. Ou… Sei, sei, já vi o degrau. Eu o conheço muito bem. E não estou brincando, você sabe.…
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A âncora
Nossa prestativa vizinha da frente vinha ver-nos todos os dias. Acrescentava curiosidades sobre a plantinha, que se desenvolvia rapidamente, elogiava os bons tratos. A casa dela era escurecida de plantas. Prometeu-nos fertilizante especial, inseticida forte, terra tratada. No sábado, pegou-meem casa. Logoque se retirou, minha companheira puxou-me a um canto. “Cuidado com o que diz…
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De olhos claros e escuros
Rembrandt van Rijn viveu no período chamado Século de Ouro dos Países Baixos. Muito bonita a expressão. Solene e inspirando grandes apogeus de prosperidade. Sim, mas foi isso mesmo. (Só o que me parece contrastar com essas portentosas denominações é o fato de a vida continuar sendo algo parecido com o que sempre foi: instável,…
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Crônica de canção feita ao mar
Minha jangada vai sair pro mar… – ensinava dona Dorinha regendo-nos com um lápis. Com toda a voz de meus onze anos, entre os de minha classe e mesma formação, eu repetia as canções bonitas que nos mostrava essa mestra, enquanto acompanhava no perfil da colega, na fileira ao lado, o movimento de seus lábios,…
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O mar dos meninos
Como a toda criança aparentemente sadia, o mar e os navios encantavam-me. Nunca tinha visto um, nem mar nem navio, fora dos livros ilustrados em que os descobria. Desde aquelas antigas embarcações egípcias, passando por caravelas enfunadas e vapores ruidosos, até encouraçados em guerras mais recentes (até isso!), todos me pareciam belos.
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Hoje, acabaram-se as xícaras
Despertei com o ruído na sala, Maria Célia recolhendo xícaras, copos, cinzeiros, o que restara mais que a memória de uns amigos da noite anterior. O jogo ia se tornando confuso com seus pires lascados, xícaras sem asa, e nenhum de nós se lembrava mais de quantas xícaras e pires havia de fato. Às vezes…
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A mesma aventura
“Bom dia a todos.” Por isso todos me observam quando subo ao ônibus, pela manhã. Não se diz bom-dia a todos, especialmente com tal sinceridade. Estranham roupas que mal se ajustam e fazem de mim um cidadão deselegante, sem interesse. Óculos que mal se ajustam ferem-me o nariz e as orelhas. Mal eu me ajusto…
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Sonho 772. Vista do mirante
Vista de um mirante. Sonho com estranhas torres.É quando compreendo que meu espanto nunca foi senão uma faceta de meu medo. Estou no terraço, junto ao parapeito, do que me parece a noite mais clara, o edifício mais alto do mundo. As cidades não nasceram ainda. Todo o firmamento festeja a noite de mil sóis.…
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Inspiração: o que a ciência tem com isso
Meus textos são diretamente influenciados por esses arranjos, ainda que algumas vezes não aparentem ser. Talvez seja inevitável, pois todo autor expressa a soma dos contextos que o formam. Ao abrir, ainda na livraria, um exemplar com o estranho título O mundo assombrado pelos demônios, deparei com a seguinte dedicatória: Para Tonio, meu neto. Eu…