Office in a Small City por Edward Hopper

Categoria: Artigos

  • Camões – Aquela triste e leda madrugada

    Não, Luís de Camões não dispensa apresentações: eu quero, sim, apresentá-lo a meu modo. Pessoalmente, não me interesso muito pela grandiloquência dos épicos, por isso meu Camões é principalmente o poeta lírico que marcou, com seu brilhantismo, a poesia de seu tempo, pós-medieval, pós-provençal, agora primando por um nível de excelência como não se via…


  • Cesar – Primeira lição

    Ana Cristina Cesar foi uma poeta representativa da chamada geração mimeógrafo. Mesmo tendo formação clássica e após um período de aprendizado em Londres, quando conheceu mais a fundo obras de suas predecessoras, como Emily Dickinson e Sylvia Plath, inclui-se na poesia marginal dos anos 1970. Ana cometeu suicídio ao atirar-se pela janela do apartamento de…


  • Projeto esvanecendo-se. Mas foi também em um desses e-mails…

      Desde algum momento nós nos desejamos. E passamos a mover as peças. Adultos jogam jogos de adultos. ________________________________________ Assunto: te ver de novo Enviado em: 18/03/2005 | 14:08 De: <josieln24@altmail.com> Para: <pprof@altmail.com> quando vc vem? me fala.. preciso te ver acho q hoje vai chover. queria vc aqui com a chuva.. Comprei chocolate. bj…


  • Dobal – O mundo revivido

    Samuel Beckett declarava que a vida de um escritor não é importante, não tem nada de extraordinário, e o que conta é a sua obra. Até hoje tenho concordado com essa ideia. E isso apenas se reforça quando leio certos autores que conseguem tornar suas impressões da vida textos literários de atraente qualidade. Muitas vezes…


  • Projeto esvanecendo-se. Quase todo um reino adormecido

    Quando a carcaça do peixe bateu à praia era só uma curiosidade para os turistas, enquanto todos os heróis invisíveis do mundo somam um caldo espesso no ar, resistindo ao sufocamento. Apartamento da Josie, refúgio provisório. É o que pensa. Absurdo estar ali. Ela não sabe do que aconteceu com ele há poucos minutos, antes…


  • Diário contra o destino. Adicional

    Mosca/vidro A segunda estrofe sugere uma mosca indo e vindo, investindo contra uma linha imaginária à direita, batendo-se contra uma superfície sólida, porém invisível. Canção de ser Caminhando pelas ruas do centro velho, em minha cidade, percebi que aquele ambiente e o fato de eu estar sozinho inspiravam ideias literárias. Escrevi alguns poemas nascidos desses…


  • Inconsistência dos retratos. Adicional

    Sete anos em Manhattan Eu havia reencontrado um amigo dos tempos de escola, numa livraria, mas ainda não fora esse episódio isolado, inicialmente desprovido de maior significado, o que deflagrou a ideia do conto. Em outro momento, fiquei pensando na vida de todos nós, filhos do capitalismo, das ilusões materiais e das ideologias que nos…


  • Schiavo, Quinlan, Aurora

    Nos contos de fadas, podia-se dormir cem anos e voltar do coma. Dava para esperar pelo príncipe prometido e finalmente por seu beijo – e não era o beijo da morte. A esperança é a última que morre – porque os médicos ainda não puseram as mãos nela: ou a esperança estaria condicionada a algum…


  • Marcas de gentis predadores. Adicional

    O fato de Danilo reencontrar Verne, no final da narrativa, e não outros de seus antigos amigos, este que era visto como o mais ingênuo da turma, é significativo porque suaviza uma falsa situação de tormento. O caso Ana Lúcia deixa de ser o pesadelo que aparentava ser. Tudo se dilui […].  


  • A conspiração dos felizes. Adicional

    A conspiração dos felizes (1989) surgiu de um impulso irresistível e pretendia ser apenas um conto. Surgiu a partir de um sonho que tive, daquela categoria de sonhos muito vívidos e nítidos, que na prática não transcorrem para além de alguns segundos quando recordados. Como sucedeu a Rimbaud em relação a sua obra poética, o…


  • Os últimos dias de agosto. Adicional

    Nessa narrativa sobre uma crise pessoal que atravessa alguns meses e termina em agosto, o jovem personagem central, Júlio Dias, conversa com um interlocutor imaginário, a quem ele chama Augusto. “Dias”, porque ele é um homem comum, cotidiano. A sequência Júlio-Augusto sugere a sequência dos meses: julho-agosto. Com a chegada de Estela e o início…


  • Lisette Maris em seu endereço de inverno. Adicional

    Em Lisette Maris em seu endereço de inverno, a estratégia escolhida para transcrever o livro que o menino lê antes de dormir foi a de confundir, como se confunde a percepção dos sinais sob o peso do sono, as palavras, sua forma e seu significado. Espero que não haja também um traidor entre nós. Esses…


  • Projeto esvanecendo-se. Adicional.

    O ensaísta francês Joseph Joubert entendia que, para escrever bem, era preciso conciliar alguma facilidade natural com uma dificuldade adquirida. Isso se mostra rotineiramente no processo de criação literária. Alguns trechos partem de uma espontaneidade descritiva para depois encontrarem sua forma final, mais elaborada, e aqui se observam os sinais de dificuldade adquirida: voltar ao…


  • Jacques Boucher de Perthes

    Um pioneiro da Pré-História Jacques Boucher (de Crèvecoeur) de Perthes (Rethel, 1788 – Abbeville, 1868) Arqueólogo francês, filho de um botânico de certa projeção no período napoleônico, ele inicialmente pretendia ser escritor, mas seus interesses eram amplos e diversificados. Em 1838, na região de Somme, norte da França, desenterrou machados grosseiramente moldados que, dada sua…


  • Frutas, cores, pedidos de socorro

    Mayday, o pedido de socorro, em inglês, é uma forma corrompida do francês m’aider ou m’aidez, que significa “me ajude”. Nos tempos do telégrafo, era usado o S.O.S., uma sigla cujas letras em código Morse correspondiam a três pontos, três traços e três pontos. As cores das frutas e das flores exercem um efeito marcante…


  • Coisas que ninguém viu nos contos de fadas

    Os pais deixam os filhos pequenos na floresta para que morram de fome. João e Maria conseguem voltar e, surpreendentemente, ainda amam os pais. Os pais, frustrados, tentam livrar-se deles de novo e desta vez conseguem: os pequenos realmente acabam perdidos. Depois de quase morrerem nas mãos de uma senhora solitária e louca, eles a…


  • O poeta e a coca-cola, fracos sem vez, carta do pai Queirós

    O slogan “Primeiro estranha-se, depois entranha-se” foi criado em 1929 pelo poeta Fernando Pessoa para uma campanha publicitária da Coca-Cola. Pessoa, lembrado por seus geniais heterônimos, com estilos e biografias distintas, trabalhava à época na agência Hora, à qual foi encomendada a campanha. Nada disso funcionou. Desmotivada por razões políticas, a Coca-Cola só entrou no…


  • O bom ladrão, os dentes da caveira, atentado em Paris, cômico por ter sido sério, títulos revistos

    O escritor Machado de Assis pagava pela publicação de seus livros. Conta-se que o editor, Baptiste Louis Garnier, acabava ficando com parte dos lucros das vendas (poucas, na época), além de usar parte do capital do autor para outros fins não declarados. Mas como ele incentivava Machado a publicar sempre mais, era conhecido, por causa…


  • Sapatinhos vermelhos, o ermitão, voyeurismo, fracasso de Bambi

    Cansado de contos de fadas e historinhas moralistas, o público leitor do final do século 19 ansiava por histórias para crianças que fossem apenas entretenimento. Quem soube muito bem farejar essa tendência foi L. Frank Baum, que em 1900 lançou O maravilhoso mágico de Oz (no cinema, apenas O mágico de Oz), um sucesso de vendas…


  • Ossos do Quixote, metamorfoses, Fabiano e Baleia, Pompéia na noite de Natal

    Dom Quixote pôs fim aos ciclos de novelas de cavalaria, populares durante a Idade Média. Cervantes estava consciente de que decretava, com seu romance, o fim de uma era. Tanto que escreveu: “Só para mim nasceu D. Quixote, e eu para ele: ele para praticar as ações e eu para as escrever. Somos um só, a…


  • Bellow – Herzog

    Ele se tornou o que parecia improvável para um imigrante judeu e pobre: um dos mais importantes escritores norte-americanos do século 20. Seus heróis são homens comuns, por vezes um tanto intelectualizados, lutando para manter sua integridade em um mundo devastado pelo materialismo, pelo consumismo, pela arrogância e pelas atitudes egoístas visando à ascensão social.…


  • Dezena invertida, apontando lápis ao amanhecer, o bom aluno na África

    O verdadeiro nome de George Orwell era Eric Arthur Blair. Ele adotou o pseudônimo para não comprometer a família, que tinha origem em classes sociais tradicionais e abastadas. Nasceu na Índia, foi policial na Birmânia (hoje Myanmar) e jornalista na França. Lutou na Guerra Civil Espanhola, quando foi ferido no pescoço, o que tornou sua voz…


  • O especismo deve desaparecer

    Os animais dependem de sorte […]. E nós, humanos, que dispomos de inteligência e consciência? Dependemos do quê, para mudar a sorte dos animais? Especismo é a ideia sem nenhum fundamento de que uma espécie viva seja superior a outra e, como você já adivinhou, de que a nossa espécie, particularmente, seja a espécie superior,…


  • Naufrágio do Hermes, Boris sob censura, escritores sem escola

    Manuel Antônio de Almeida, autor de Memórias de um sargento de milícias, foi quem deu ao jovem de 17 anos, Joaquim Machado de Assis, um emprego como aprendiz de tipógrafo. Joaquim aprendeu o serviço, passou a publicar artigos no jornal e depois livros que mudaram o curso da literatura de sua época. Ser pardo e…


  • Alice, a bagaceira, o sonho de um homem ridículo

    . Em 1865, foi publicado Alice no país das maravilhas, de Lewis Carroll. Ele era principalmente um matemático, apaixonado por charadas e ideias absurdas (nonsense). Tinha o estranho e discreto “hobby” de fotografar meninas nuas ou seminuas, com autorização de suas mães. Deixou instruções para que, após a sua morte, essas imagens fossem destruídas, temendo…


  • A realidade desafiando a ficção – o incrível caso de Steven Avery

    O documentário em série, Making a murderer (algo como “construindo um assassino”), produzido pela Netflix, foi uma das matérias que mais me impressionaram ao longo dos últimos anos. Ele me lembra, de maneira desafiadora, que a realidade pode superar qualquer obra de ficção. Se algum autor tivesse inventado uma história assim, qualquer um de nós,…


  • Quintana – Dorme, ruazinha… É tudo escuro!…

    Quintana – Dorme, ruazinha… É tudo escuro!…

    Em sua própria definição, ele foi um menino que envelheceu de repente. Sua sensibilidade parece ser o ponto de maior destaque entre ele e os outros modernistas. Seus temas procuram enfatizar um bem que nos toca, que nos é caro, mas que, naturalmente, todos nós perdemos: a inocência. Conheça um de seus poemas, desses que…


  • Eudoxo

    Um discípulo discreto mas brilhante Eudoxo (Cnido, atual Tekir, sudoeste da Turquia, 408 a.C. – Cnido, 355 a.C.) Astrônomo e matemático grego, estudou na Academia platônica, depois foi ao Egito, cursar o que seria, à época, o equivalente a uma pós-graduação. Voltou a Atenas, onde lecionou por muitos anos. Suas demonstrações em geometria seriam aperfeiçoadas…


  • Horácio

    A eternidade presente Horácio (Venúsia, 65 a.C. – Roma, 8 a.C.) Quintus Horatius Flaccus, considerado o primeiro literato profissional da Roma antiga, participou da conspiração que culminou com o assassinato de Júlio Cesar e chegou a comandar uma legião de soldados que lhe foi designada por Bruto. Filho de um escravo liberto que prosperou trabalhando…


  • A encantadora ovelha ruiva. Parte 2 (I Ching, estrelas, patrão)

    A única coisa que eu podia afirmar a mim mesmo era que aquela ruivinha supersticiosa me inspirava, naturalmente. O mais são confusões: amor, paixão, desejo, um carnaval de lixo semântico que só serve para piorar o sofrimento de todos nós. Tinha fome, mas queria antes passar na livraria – a ovelha ruiva. Sua imagem quase…


  • Drummond – Os ombros suportam o mundo

    Um jovem tímido, formado em Farmácia. Um de muitos irmãos, vindo da fazenda do pai. Mineiro calado e introspectivo, incomodado por certa rebeldia silenciosa. Homem simples, mas curioso. Casado, uma filha. Mais tarde, aposentado como funcionário público. Dizia ter tido sorte de ter bons amigos que gostavam de literatura. Dizia também que a poesia era…


  • Henrietta Leavitt

    A estrela esquecida Henrietta (Swan) Leavitt (Massachusetts, 1868 – Cambridge, Massachusetts, 1921)  Astrônoma norte-americana cujas descobertas permitiram a Hubble concluir que o universo estava em expansão. Henrietta, conhecida por sua personalidade ativa e entusiasmada, começou como voluntária no observatório da Universidade de Harvard. Como as mulheres não podiam trabalhar com telescópios, coube a ela catalogar…


  • Cortázar – Verão

    Um de meus autores prediletos, entre os mais criativos prosadores do século 20, assumiu as inovações estruturais do conto e do romance sem perder sua visão de mundo sempre aguda, irônica e por vezes quase infantil diante de situações beirando o colapso, como se estivesse sempre prestes a rir da vida. Em Último round, um…


  • Roth – A marca humana

    Um dos maiores autores de língua inglesa do século 20, esse escritor de Newark produziu romances de notável qualidade literária, com visão crítica de seu próprio país e da hipocrisia moralizante que controla os seres humanos. A fundação Library of America, que se dedica à publicação da obra dos expoentes da literatura norte-americana, anunciou, em…


  • Epicuro

    Epicuro

    Para quem a morte não existia Epicuro (Samos, ilha do mar Egeu, 341 a.C. – Atenas, 270 a.C.) Filósofo grego que considerava o prazer como o maior bem do ser humano. Por causa disso, o termo epicurismo muitas vezes é usado equivocadamente como sinônimo de hedonismo, o que pode ter sido resultante de distorções ensinadas…


  • Anjos – Eu e outras poesias

    Nenhuma escola literária o classificou – nem o Parnasianismo nem o Simbolismo. Seus primeiros poemas estavam próximos à obra de Cruz e Sousa, com aliterações e sonoridades, mas isso durou pouco. Um poeta único em nossa literatura, tendo como principal tema o enigma da existência e a morte, mas não só isso – seus versos…


  • Melhor esquecer – mas não

    Não foi ainda minha última tentativa de alguma tolice. Por essa época, eu me havia iniciado em escrever cartas.. E Vanessa? O que pensaria de mim? Talvez isso a despertasse, talvez ela pudesse compreender os meus sentimentos. E isso instigaria suas divagações, aumentando assim minhas remotas possibilidades. Talvez não. Talvez ela passasse, então, a humilhar-me…


  • A fortaleza obscura de minha solidão

    Com um cofrezinho de joias, Fausto aproximou-se de Margarida: Vanessa não podia ser muito diferente daquela infeliz. Apesar de tudo, não conseguia deixar de investir em meus sonhos com Vanessa. Não conseguia esquecê-la. Só pensava nela – portanto, em mim. Senti que não podia esperar mais. E resolvi agir. Movido por um ímpeto de bravura…


  • A invenção da Santíssima Trindade

    “Se o mundo for contra a verdade, então Atanásio será contra o mundo.” Essa frase, atribuída a Atanásio de Alexandria (aliás, santo Atanásio), não poderia ser mais irônica, além do indisfarçável ranço de arrogância e autoritarismo. Atanásio, bispo de Alexandria, “inventou” a Santíssima Trindade no século 4 (Concílio de Niceia, 325). O imperador Constantino gostou…


  • Fibonacci

    Fibonacci

    A revolução dos números Leonardo Fibonacci (Pisa, c. 1170 – c. 1250) Matemático italiano considerado o mais importante da Europa medieval. Escreveu diversos livros sobre álgebra e geometria, sendo sua obra principal o Liber abaci (livro do ábaco e, por extensão, livro do cálculo), de 1202, o mais relevante trabalho no campo da matemática desde os estudos de Eratóstenes – que…


  • Lisette Maris. Seus olhos estreitos, sem se desviar das cinzas (9/15)

    Lisette Maris. Seus olhos estreitos, sem se desviar das cinzas (9/15)

      Olha as cinzas como fixando um ponto para além do que vê. Sinto que vou me engasgar não com a saliva, mas com o silêncio. “Essa moça acredita em Deus?” “Não sei, mãe. Ela parece ser muito inteligente.” “Como? Ainda não perguntou isso a ela? O que tanto vocês conversam então?” “Ora, mãe. Você…


  • Andreas Vesalius

    Andreas Vesalius

    A revolução na anatomia Andreas Vesalius (Bruxelas, 1514 – proximidades da ilha de Zante, atual Zákhintos, Grécia ocidental, 1564) Médico anatomista de origem flamenga, seu trabalho pôs fim a uma era e deu início a outra, a era moderna da medicina. Sua mãe era inglesa, seu pai trabalhava para o imperador Carlos V como farmacêutico…


  • Eratóstenes

    Eratóstenes

    O homem que mediu o tamanho da Terra Eratóstenes (Cirene, atual Shahhat, na Líbia, 276 a.C. – Alexandria, 194 a.C.) Um gênio múltiplo, quase esquecido, que foi matemático, astrônomo, geógrafo, gramático, crítico literário, tendo se destacado até mesmo na música, segundo Ptolomeu III, que o havia trazido de Atenas para trabalhar na célebre Biblioteca de…


  • Diversos caminhos do asfalto

    Diversos caminhos do asfalto

    Jegue não pôde dormir nessa noite. Tentou passar ao cão, em sua linguagem simplória, toda a felicidade que sentia, sabendo que terminaria seus dias em paz, antes de partir para o novo mundo. Jegue vivia só para trabalhar. Condenado a conduzir uma velha carroça pelas ruas da cidade muito movimentada, escravizado por seu proprietário, homem…


  • Fortuna, damas, desastre

    Sorte e fortuna têm origem em palavras latinas, associando-se a acontecimentos fortuitos ou sortidos, isto é, ao acaso. Azar é uma palavra de origem árabe e significa jogo de dados. Jogos de tabuleiro Damas, palavra que faz você pensar em mulheres nobres ou figuras do baralho, alguma coisa de europeia ou medieval, deve sua origem ao árabe ax-xitranj, depois tornado…


  • Raimundo Terra planeja seu suicídio

    Raimundo Terra planeja seu suicídio

    Atores, atrizes? Não passam de produtos, quem não sabe disso? Usados, como todos. Parecem deuses, mas têm intestinos.Selada a última carta, desce às ruas. O apartamento, trancado pela última vez. Última, suspira. Tem o absurdo cuidado de levar o guarda-chuva, que uma garoa alternada com chuvisqueiros insiste sobre a cidade por esses dias. Próximo aos…


  • O Morro dos Lobos

    O Morro dos Lobos

    Na vila, todo mundo o conhece: o Quim da fazenda. Quim Bento, o bobão.Ninguém ficava imune ao sorriso em viés, aos desastrados acenos de braços curtos. Outro sobrevivente do massacre dos pioneiros. Do tempo em que eu, tolamente, acreditava poder ser um novo Guimarães Rosa. Mas não pode haver outro Guimarães Rosa. Nem outro Machado…


  • Peter Pan na toalha

    Peter Pan na toalha

    O preço que se paga por ser homem é a solidão.De outra forma esse homem transforma-se em cidadão, funcionário, pai e esposo, ou qualquer outra espécie de artigo devidamente catalogado. Um antigo conto que sobreviveu ao massacre dos pioneiros. Dos 20 aos 25 anos, escrevi uma quantidade de contos, movido por aquele impulso cego do…


  • Relógios

    Relógios

    Sobre a mesa tosca, os mecanismos desmontados aguardavam a vez de viver novamente.Numa estante de vidro, uns relógios recuperados sorriam horas exatas. Este foi meu primeiro conto publicado em livro, aos 21 anos, por meio de um concurso literário. Dá para sentir o amadorismo, a ingenuidade, a linguagem convencional, pretendendo ser a melhor possível. Na…


  • Depois de toda glória, é preciso voltar

    … que acontecem Meu primeiro prêmio literário. 21 anos. (Não é essa foto aí, não.) Uma lembrançazinha que… Pensando bem, nada mais do que isso, quando muito. Mexendo em meus livros (meus mesmo, com textos meus), reencontrei o modesto Dez contos sobre o trabalho, livro fininho, com apenas dez contos – como, a partir do…