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Categoria: Literatura
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Camões – Aquela triste e leda madrugada
Não, Luís de Camões não dispensa apresentações: eu quero, sim, apresentá-lo a meu modo. Pessoalmente, não me interesso muito pela grandiloquência dos épicos, por isso meu Camões é principalmente o poeta lírico que marcou, com seu brilhantismo, a poesia de seu tempo, pós-medieval, pós-provençal, agora primando por um nível de excelência como não se via…
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Cesar – Primeira lição
Ana Cristina Cesar foi uma poeta representativa da chamada geração mimeógrafo. Mesmo tendo formação clássica e após um período de aprendizado em Londres, quando conheceu mais a fundo obras de suas predecessoras, como Emily Dickinson e Sylvia Plath, inclui-se na poesia marginal dos anos 1970. Ana cometeu suicídio ao atirar-se pela janela do apartamento de…
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Projeto esvanecendo-se. Mas foi também em um desses e-mails…
Desde algum momento nós nos desejamos. E passamos a mover as peças. Adultos jogam jogos de adultos. ________________________________________ Assunto: te ver de novo Enviado em: 18/03/2005 | 14:08 De: <josieln24@altmail.com> Para: <pprof@altmail.com> quando vc vem? me fala.. preciso te ver acho q hoje vai chover. queria vc aqui com a chuva.. Comprei chocolate. bj…
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Dobal – O mundo revivido
Samuel Beckett declarava que a vida de um escritor não é importante, não tem nada de extraordinário, e o que conta é a sua obra. Até hoje tenho concordado com essa ideia. E isso apenas se reforça quando leio certos autores que conseguem tornar suas impressões da vida textos literários de atraente qualidade. Muitas vezes…
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Projeto esvanecendo-se. Quase todo um reino adormecido
Quando a carcaça do peixe bateu à praia era só uma curiosidade para os turistas, enquanto todos os heróis invisíveis do mundo somam um caldo espesso no ar, resistindo ao sufocamento. Apartamento da Josie, refúgio provisório. É o que pensa. Absurdo estar ali. Ela não sabe do que aconteceu com ele há poucos minutos, antes…
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Diário contra o destino. Adicional
Mosca/vidro A segunda estrofe sugere uma mosca indo e vindo, investindo contra uma linha imaginária à direita, batendo-se contra uma superfície sólida, porém invisível. Canção de ser Caminhando pelas ruas do centro velho, em minha cidade, percebi que aquele ambiente e o fato de eu estar sozinho inspiravam ideias literárias. Escrevi alguns poemas nascidos desses…
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Inconsistência dos retratos. Adicional
Sete anos em Manhattan Eu havia reencontrado um amigo dos tempos de escola, numa livraria, mas ainda não fora esse episódio isolado, inicialmente desprovido de maior significado, o que deflagrou a ideia do conto. Em outro momento, fiquei pensando na vida de todos nós, filhos do capitalismo, das ilusões materiais e das ideologias que nos…
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Schiavo, Quinlan, Aurora
Nos contos de fadas, podia-se dormir cem anos e voltar do coma. Dava para esperar pelo príncipe prometido e finalmente por seu beijo – e não era o beijo da morte. A esperança é a última que morre – porque os médicos ainda não puseram as mãos nela: ou a esperança estaria condicionada a algum…
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Marcas de gentis predadores. Adicional
O fato de Danilo reencontrar Verne, no final da narrativa, e não outros de seus antigos amigos, este que era visto como o mais ingênuo da turma, é significativo porque suaviza uma falsa situação de tormento. O caso Ana Lúcia deixa de ser o pesadelo que aparentava ser. Tudo se dilui […].
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A conspiração dos felizes. Adicional
A conspiração dos felizes (1989) surgiu de um impulso irresistível e pretendia ser apenas um conto. Surgiu a partir de um sonho que tive, daquela categoria de sonhos muito vívidos e nítidos, que na prática não transcorrem para além de alguns segundos quando recordados. Como sucedeu a Rimbaud em relação a sua obra poética, o…
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Os últimos dias de agosto. Adicional
Nessa narrativa sobre uma crise pessoal que atravessa alguns meses e termina em agosto, o jovem personagem central, Júlio Dias, conversa com um interlocutor imaginário, a quem ele chama Augusto. “Dias”, porque ele é um homem comum, cotidiano. A sequência Júlio-Augusto sugere a sequência dos meses: julho-agosto. Com a chegada de Estela e o início…
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Lisette Maris em seu endereço de inverno. Adicional
Em Lisette Maris em seu endereço de inverno, a estratégia escolhida para transcrever o livro que o menino lê antes de dormir foi a de confundir, como se confunde a percepção dos sinais sob o peso do sono, as palavras, sua forma e seu significado. Espero que não haja também um traidor entre nós. Esses…
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Projeto esvanecendo-se. Adicional.
O ensaísta francês Joseph Joubert entendia que, para escrever bem, era preciso conciliar alguma facilidade natural com uma dificuldade adquirida. Isso se mostra rotineiramente no processo de criação literária. Alguns trechos partem de uma espontaneidade descritiva para depois encontrarem sua forma final, mais elaborada, e aqui se observam os sinais de dificuldade adquirida: voltar ao…
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Coisas que ninguém viu nos contos de fadas
Os pais deixam os filhos pequenos na floresta para que morram de fome. João e Maria conseguem voltar e, surpreendentemente, ainda amam os pais. Os pais, frustrados, tentam livrar-se deles de novo e desta vez conseguem: os pequenos realmente acabam perdidos. Depois de quase morrerem nas mãos de uma senhora solitária e louca, eles a…
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O poeta e a coca-cola, fracos sem vez, carta do pai Queirós
O slogan “Primeiro estranha-se, depois entranha-se” foi criado em 1929 pelo poeta Fernando Pessoa para uma campanha publicitária da Coca-Cola. Pessoa, lembrado por seus geniais heterônimos, com estilos e biografias distintas, trabalhava à época na agência Hora, à qual foi encomendada a campanha. Nada disso funcionou. Desmotivada por razões políticas, a Coca-Cola só entrou no…
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O bom ladrão, os dentes da caveira, atentado em Paris, cômico por ter sido sério, títulos revistos
O escritor Machado de Assis pagava pela publicação de seus livros. Conta-se que o editor, Baptiste Louis Garnier, acabava ficando com parte dos lucros das vendas (poucas, na época), além de usar parte do capital do autor para outros fins não declarados. Mas como ele incentivava Machado a publicar sempre mais, era conhecido, por causa…
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Sapatinhos vermelhos, o ermitão, voyeurismo, fracasso de Bambi
Cansado de contos de fadas e historinhas moralistas, o público leitor do final do século 19 ansiava por histórias para crianças que fossem apenas entretenimento. Quem soube muito bem farejar essa tendência foi L. Frank Baum, que em 1900 lançou O maravilhoso mágico de Oz (no cinema, apenas O mágico de Oz), um sucesso de vendas…
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Ossos do Quixote, metamorfoses, Fabiano e Baleia, Pompéia na noite de Natal
Dom Quixote pôs fim aos ciclos de novelas de cavalaria, populares durante a Idade Média. Cervantes estava consciente de que decretava, com seu romance, o fim de uma era. Tanto que escreveu: “Só para mim nasceu D. Quixote, e eu para ele: ele para praticar as ações e eu para as escrever. Somos um só, a…
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Bellow – Herzog
Ele se tornou o que parecia improvável para um imigrante judeu e pobre: um dos mais importantes escritores norte-americanos do século 20. Seus heróis são homens comuns, por vezes um tanto intelectualizados, lutando para manter sua integridade em um mundo devastado pelo materialismo, pelo consumismo, pela arrogância e pelas atitudes egoístas visando à ascensão social.…
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Dezena invertida, apontando lápis ao amanhecer, o bom aluno na África
O verdadeiro nome de George Orwell era Eric Arthur Blair. Ele adotou o pseudônimo para não comprometer a família, que tinha origem em classes sociais tradicionais e abastadas. Nasceu na Índia, foi policial na Birmânia (hoje Myanmar) e jornalista na França. Lutou na Guerra Civil Espanhola, quando foi ferido no pescoço, o que tornou sua voz…
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Naufrágio do Hermes, Boris sob censura, escritores sem escola
Manuel Antônio de Almeida, autor de Memórias de um sargento de milícias, foi quem deu ao jovem de 17 anos, Joaquim Machado de Assis, um emprego como aprendiz de tipógrafo. Joaquim aprendeu o serviço, passou a publicar artigos no jornal e depois livros que mudaram o curso da literatura de sua época. Ser pardo e…
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Alice, a bagaceira, o sonho de um homem ridículo
. Em 1865, foi publicado Alice no país das maravilhas, de Lewis Carroll. Ele era principalmente um matemático, apaixonado por charadas e ideias absurdas (nonsense). Tinha o estranho e discreto “hobby” de fotografar meninas nuas ou seminuas, com autorização de suas mães. Deixou instruções para que, após a sua morte, essas imagens fossem destruídas, temendo…
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Quintana – Dorme, ruazinha… É tudo escuro!…
Em sua própria definição, ele foi um menino que envelheceu de repente. Sua sensibilidade parece ser o ponto de maior destaque entre ele e os outros modernistas. Seus temas procuram enfatizar um bem que nos toca, que nos é caro, mas que, naturalmente, todos nós perdemos: a inocência. Conheça um de seus poemas, desses que…
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Horácio
A eternidade presente Horácio (Venúsia, 65 a.C. – Roma, 8 a.C.) Quintus Horatius Flaccus, considerado o primeiro literato profissional da Roma antiga, participou da conspiração que culminou com o assassinato de Júlio Cesar e chegou a comandar uma legião de soldados que lhe foi designada por Bruto. Filho de um escravo liberto que prosperou trabalhando…
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A encantadora ovelha ruiva. Parte 2 (I Ching, estrelas, patrão)
A única coisa que eu podia afirmar a mim mesmo era que aquela ruivinha supersticiosa me inspirava, naturalmente. O mais são confusões: amor, paixão, desejo, um carnaval de lixo semântico que só serve para piorar o sofrimento de todos nós. Tinha fome, mas queria antes passar na livraria – a ovelha ruiva. Sua imagem quase…
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Drummond – Os ombros suportam o mundo
Um jovem tímido, formado em Farmácia. Um de muitos irmãos, vindo da fazenda do pai. Mineiro calado e introspectivo, incomodado por certa rebeldia silenciosa. Homem simples, mas curioso. Casado, uma filha. Mais tarde, aposentado como funcionário público. Dizia ter tido sorte de ter bons amigos que gostavam de literatura. Dizia também que a poesia era…
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Cortázar – Verão
Um de meus autores prediletos, entre os mais criativos prosadores do século 20, assumiu as inovações estruturais do conto e do romance sem perder sua visão de mundo sempre aguda, irônica e por vezes quase infantil diante de situações beirando o colapso, como se estivesse sempre prestes a rir da vida. Em Último round, um…
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Roth – A marca humana
Um dos maiores autores de língua inglesa do século 20, esse escritor de Newark produziu romances de notável qualidade literária, com visão crítica de seu próprio país e da hipocrisia moralizante que controla os seres humanos. A fundação Library of America, que se dedica à publicação da obra dos expoentes da literatura norte-americana, anunciou, em…
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Anjos – Eu e outras poesias
Nenhuma escola literária o classificou – nem o Parnasianismo nem o Simbolismo. Seus primeiros poemas estavam próximos à obra de Cruz e Sousa, com aliterações e sonoridades, mas isso durou pouco. Um poeta único em nossa literatura, tendo como principal tema o enigma da existência e a morte, mas não só isso – seus versos…
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Melhor esquecer – mas não
Não foi ainda minha última tentativa de alguma tolice. Por essa época, eu me havia iniciado em escrever cartas.. E Vanessa? O que pensaria de mim? Talvez isso a despertasse, talvez ela pudesse compreender os meus sentimentos. E isso instigaria suas divagações, aumentando assim minhas remotas possibilidades. Talvez não. Talvez ela passasse, então, a humilhar-me…
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A fortaleza obscura de minha solidão
Com um cofrezinho de joias, Fausto aproximou-se de Margarida: Vanessa não podia ser muito diferente daquela infeliz. Apesar de tudo, não conseguia deixar de investir em meus sonhos com Vanessa. Não conseguia esquecê-la. Só pensava nela – portanto, em mim. Senti que não podia esperar mais. E resolvi agir. Movido por um ímpeto de bravura…
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Lisette Maris. Seus olhos estreitos, sem se desviar das cinzas (9/15)
Olha as cinzas como fixando um ponto para além do que vê. Sinto que vou me engasgar não com a saliva, mas com o silêncio. “Essa moça acredita em Deus?” “Não sei, mãe. Ela parece ser muito inteligente.” “Como? Ainda não perguntou isso a ela? O que tanto vocês conversam então?” “Ora, mãe. Você…
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Diversos caminhos do asfalto
Jegue não pôde dormir nessa noite. Tentou passar ao cão, em sua linguagem simplória, toda a felicidade que sentia, sabendo que terminaria seus dias em paz, antes de partir para o novo mundo. Jegue vivia só para trabalhar. Condenado a conduzir uma velha carroça pelas ruas da cidade muito movimentada, escravizado por seu proprietário, homem…
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Raimundo Terra planeja seu suicídio
Atores, atrizes? Não passam de produtos, quem não sabe disso? Usados, como todos. Parecem deuses, mas têm intestinos.Selada a última carta, desce às ruas. O apartamento, trancado pela última vez. Última, suspira. Tem o absurdo cuidado de levar o guarda-chuva, que uma garoa alternada com chuvisqueiros insiste sobre a cidade por esses dias. Próximo aos…
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O Morro dos Lobos
Na vila, todo mundo o conhece: o Quim da fazenda. Quim Bento, o bobão.Ninguém ficava imune ao sorriso em viés, aos desastrados acenos de braços curtos. Outro sobrevivente do massacre dos pioneiros. Do tempo em que eu, tolamente, acreditava poder ser um novo Guimarães Rosa. Mas não pode haver outro Guimarães Rosa. Nem outro Machado…
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Peter Pan na toalha
O preço que se paga por ser homem é a solidão.De outra forma esse homem transforma-se em cidadão, funcionário, pai e esposo, ou qualquer outra espécie de artigo devidamente catalogado. Um antigo conto que sobreviveu ao massacre dos pioneiros. Dos 20 aos 25 anos, escrevi uma quantidade de contos, movido por aquele impulso cego do…
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Relógios
Sobre a mesa tosca, os mecanismos desmontados aguardavam a vez de viver novamente.Numa estante de vidro, uns relógios recuperados sorriam horas exatas. Este foi meu primeiro conto publicado em livro, aos 21 anos, por meio de um concurso literário. Dá para sentir o amadorismo, a ingenuidade, a linguagem convencional, pretendendo ser a melhor possível. Na…
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Depois de toda glória, é preciso voltar
… que acontecem Meu primeiro prêmio literário. 21 anos. (Não é essa foto aí, não.) Uma lembrançazinha que… Pensando bem, nada mais do que isso, quando muito. Mexendo em meus livros (meus mesmo, com textos meus), reencontrei o modesto Dez contos sobre o trabalho, livro fininho, com apenas dez contos – como, a partir do…
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O fim dos livros
… que acontecem Duelo de gigantes: de um lado, Philip Roth dizendo que o livro vai acabar; do outro, Paul Auster dizendo que o livro não vai acabar. Os especialistas falam em convergência, isto é, o livro à moda antiga convivendo com os e-readers. Enfim, não sou eu quem vai profetizar nada, e pouco me…
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Miller – Trópico de câncer
Muito lembrado por seu erotismo, por sua irreverência e pela novidade de seu texto, ousado para os padrões dos anos 1920 e até mesmo censurado em seu país natal, Henry Miller pontua seus romances com momentos de extrema sensibilidade. No momento não posso pensar em nada – exceto em que sou um ser sensível…
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Aristóteles
A ousadia de pensar em tudo Aristóteles (Estagira, região da Trácia, 384 a.C. – Atenas, 322 a.C.) Com a morte do fundador da Academia, seu mestre Platão, esperava-se que Aristóteles assumisse a direção da primeira instituição de ensino superior do mundo. Ele era o mais brilhante dentre os discípulos do renomado filósofo, que o chamava…
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Camus – O estrangeiro
Ele foi o mais jovem ganhador do prêmio Nobel. Em seu país natal, a Argélia, cresceu num ambiente de guerra, fome e miséria. Nesse seu breve romance, expressa uma maneira ousada e perturbadora de se ver o mundo. O personagem central, Mersault, é cativante em sua neutralidade. Culpou o sol pelo assassinato de um homem…
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Calvino – O cavaleiro inexistente
Um dos mais brilhantes autores do século 20, além de crítico e ensaísta de fina inteligência e bom humor, desses que nos inspiram a ler cada vez mais, tanto suas obras quanto as de outros autores, referenciados por ele. Susan Sontag lamentou sua morte, referindo-se a ele como “um dos maiores”. Nesta breve narrativa, cuja…
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Fraudes por uma boa causa: a minha
Começou então uma espécie de questionário detalhado, ao qual eu ia respondendo com uma enorme fingida inocência. Com aquela cara que só eu sei fazer nessas horas. Saturado. Férias vencidas. Não aguentava mais ouvir falar em processos e tinha saudade das balanças. Caí doente, gripe demolidora, febres avulsas. Telefonei para explicar-me, tive de ouvir mais…
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Um segredo, entre outros
Sempre observara detalhes e minúcias, à maneira de um estrategista. Sempre tivera a impressão de estar sendo enganado. No intervalo de almoço, repassar sem compromisso as estantes de discos das lojas. Procurar um livro com a ajuda sensual de uma vendedora a quem aparentemente também corresponda algum interesse. Encontrar com grande prazer um objeto sob…
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Paradoxo do registro e do esquecimento
Somos todos muito exagerados, não vê? Não temos essa importância toda. É tudo muito rápido. “Você vai escrever sobre nós?” Homens e mulheres, meus colegas de escritório. Todos à minha frente, mais ou menos juntos. Mais ou menos quietos. Mais ou menos tristes. “O quê? Escrever sobre vocês? Por que faria isso?” “Pela eternidade.” “Para…
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Coelho, uísque e gelo, sonatas de piano
A música parecia esgotada. Bach e Mozart foram deuses. Crianças-prodígios, nasceram gênios. Beethoven foi muito maior. Ele era um homem. E tornou-se um deus. Pablo e Cândido os espreitavam, tão logo percebiam o ruído das chaves, o rápido rangido na porta de entrada. Mesmo habituados aos novos moradores, ainda lhes dispensavam uma discreta curiosidade, enquanto…
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Ácaros e outros micro-organismos
Quem o visse quase comovido um minuto atrás não poderia crer que fosse a mesma pessoa. Assim como quem o visse menino, arrastando seu caminhãozinho de madeira. Por bem pouco, o serviço não escapava ao meu controle. Algumas interferências ocasionais e detalhes de meu próprio esquecimento faziam de minha mesa um espaço confuso, de documentos…
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Agenda de não-planos
Talvez estivessem todos procurando voltar.Talvez não avançassem, como fazia supor a realidade. Talvez não viajassem ao futuro nem as agulhas apontassem o norte. Júlio questionava, embora não o agradasse, o que fazia ao lado de um tipo displicente como Bruno, dividindo com ele um determinado endereço. Fora isso, sacrificando cada dia pela continuidade de…
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Camelos, dromedários e o melhor de um mundo pior
Mas não importa a época, nunca podemos escapar a um mundo pior. Nada parece impedir que os governantes exerçam, renovem e aprimorem suas intenções. É preciso que se diga: há escravos e escravos. Não se deve padronizá-los, como a ninguém, afinal eu também fazia parte desse rebanho, registre-se. Há tipos distintos, há asnos descontentes e…