Office in a Small City por Edward Hopper

Teus olhos na escuridão. 57

Uma aventura perigosa na clandestinidade.
O mapa de um escândalo.
Um segredo potencialmente devastad
or.

Quinto dia de interrogatório – entrevista, no jargão deles. Frias disse que iria me mostrar fotos de algumas pessoas. Pensei que ele fosse estender-me uma tablet ou algo semelhante, com as imagens pretendidas, mas não: eram fotos impressas mesmo. Porque isso tinha um efeito diferente, algo mais concreto, manuseável, ocupando espaços menos limitados, conforme a vontade do condutor do procedimento.

“Olhe com muita atenção.”

Com suas mãos grandes, dispôs sobre a mesa, como distribuindo cartas de um baralho, repetindo aquele gesto típico de quase desdobrar cada uma delas com uma pancadinha charmosa ao final, cinco fotos com o rosto de cinco mulheres.

“Olhe com muita atenção”, repetiu, didático e monótono.

Fiquei paralisado. Da esquerda para a direita: a segunda, a quarta e a quinta eram conhecidas minhas, integravam a galeria secreta que eu havia organizado; mas a primeira e a terceira não eram! Eu não as conhecia. Não emergiram de minha pesquisa. Não estavam entre as minhas investigadas.

“Então? Qual delas você conhece?”

Mesmo que estivesse sob tortura, eu não poderia dizer a ele qual delas seria a informante, pelo motivo simples de que eu nunca vira o seu rosto. Mas eu me demorava mais do que o normal, saltando meus olhos de uma para outra, entre essas duas novas apaixonantes desconhecidas.

“Pense com calma. Use o tempo que achar que deve.”

Eu as contemplava como diante de duas joias raras. Fascinado. Inerte. Elas me olhavam de volta, sem sorrir. Seria uma dessas duas novas suspeitas aquela que se comunicava comigo, com sua linda e firme voz de dubladora?

“Eu… não conheço nenhuma delas.”

Rosto de duas mulheres bonitas, maduras. Olhando-me de frente com a força de sua inteligência aguda, desafiadora. Como se, no instante seguinte, pudessem arrancar-me um grito. Uma delas, morena, pele cor de cobre, olhos negros, vivos e astutos; a outra, pálida, de olhar obtuso, olhos enviesados como os de um felino, de uma cor indefinida, buscando verdes. Teria uma dessas tigresas deflagrado o bote certeiro, emboscada na mesma selva escura e áspera e forte por onde transitavam suas presas? Teria tomado de assalto a tranquilidade dos grandes corruptores, no meio do caminho de suas vidas? Tive vontade de levar para mim aquelas imagens, apertadas ao peito, como um menino que roubaria, se julgasse conveniente, as figurinhas que lhe faltam para completar seu álbum.

“Olhe com muita atenção. Com calma. Para não incriminar uma inocente.”

Fiquei olhando uma e outra, pegava nas mãos aquelas fotos, devolvia-as à superfície da mesa, tornava a trazê-las para mais perto de meus olhos. Esses caras estão pouco se lixando sobre alguém ser inocente ou não. Mas eu continuava fingindo ser um bom menino, assimilando suas palavras, acreditando em suas virtudes. Onde teriam conseguido aquilo? Talvez estivessem no caminho certo, afinal. Talvez estivessem muito próximos de desvendar a identidade da dedicada delatora, que, oculta nas sombras, apontara um foco de luz sobre o sofisticado sistema de trocas que os governantes fortemente desejavam que nunca, jamais emergisse das trevas.

“Já viu alguma delas? Falou com uma delas?”

Os investigadores devem ter vasculhado minhas conexões e concluído que não se tratava de uma pesquisa minha, apenas. Eu entendia como nunca a proposta simples, básica, inteligente de minha informante sobre erradicar a comunicação por meios eletrônicos, como também usá-los com redobrada prudência, como quando eu escrevia meus textos no GP, desconectando-o das redes e salvando os rascunhos em um dispositivo à parte, depois de tê-los excluído do aparelho principal. De acordo com o que a minha fonte havia antecipado, àquela altura e por aqueles dias, ela não apenas não se encontraria mais em território nacional como já teria providenciado documentação específica para forjar sua nova identidade.

“Pense bem. Qual delas você diria que conheceu, com algum nível de certeza?”

“Não… Não, senhor. Nunca vi nenhuma delas. Não conheço nenhuma delas. É sério.”

Ele suspirou, quase deixando escapar um ronco ou um rugido ao mesmo tempo, contendo sua mal disfarçada irritação. Que vontade de me matar brilhava em seus olhos!

“Você não deve ter medo de apontar quem ela é. Deve ter medo, isso sim, de continuar tentando nos fazer de bobos. Ajudar a gente a encontrar essa mulher pode aliviar as coisas pra você. Entende isso ou não?”

“Eu entendo. Entendi. Mas eu realmente nunca vi nenhuma dessas aí. Nunca mesmo.”

Mentira: não aliviariam nada para ninguém. Tinham poder para eliminar quem quer que fosse, sem deixar rastros.

“Desculpe, eu nunca vi nenhuma delas. Tenho certeza disso.”

Frias recolheu as fotos, fazendo um rápido pacotinho com elas e enfiando-o em uma pasta, na parte mais escura que o envolvia, quase sob a mesa.

“Eu já disse antes. Nós vamos procurar e achar essa vaca! Pode ter certeza! E se ela comprometer você, fique preparado. Nunca se sabe do que essas putas são capazes!”

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