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Teus olhos na escuridão. 25
Uma aventura perigosa na clandestinidade.
O mapa de um escândalo.
Um segredo potencialmente devastador.
No dia seguinte, forcei uma oportunidade para falar com o Tato – fui atrás dele quando vi sua figura dinâmica esgueirando-se pela entrada da copa. Peguei um café, naturalmente, comecei com umas conversas sobre o clima seco e sobre eu estar cansado. Perguntei a ele se estava preparando alguma fac sobre a princesinha Annelise. Ele estava muito ativo nesse dia, movia-se com agilidade. Nem olhou para mim ao responder.
“Não, Marco. Nem pensar. Tenho pautas mais interessantes e urgentes do que essa idiotice com a tal filhinha da duquesa.”
Tapa amigável em meu braço, deixou a copa, voltou ao seu ponto.
Nessa noite, focado nas quatro mulheres que ainda me desafiavam, encontrei a biografia de uma delas na EncicloNova. Era a única que constava dessa enciclopédia, particularmente. As outras duas grandes enciclopédias virtuais não registravam seu nome. Eliane Albuquerque. Tinha sido professora universitária por um tempo. Currículo robusto, formada em duas áreas: Direito e Administração de Empresas. Especializações. Dois cargos públicos importantes antes de ocupar o atual, que era ligado ao Ministério das Comunicações. Tinha 42 anos. E daí? Se houvesse ali, pelo menos, a indicação de que fosse sócia do Café Silene… Eu ria de mim mesmo agora. Ia distorcendo tudo a meu favor. Uma biografia tão bem estruturada não mencionaria uma coisa dessas.
Busquei mais sobre as outras três, e encontrei um vídeo caseiro, realizado com algum personal, em que Áurea Silvério de Souza participava de uma festa de aniversário, entre outros adultos, provavelmente em algum local de trabalho. Era uma chance de eu ouvir sua voz. Mas todos ali falavam e riam ao mesmo tempo, e sua voz ficava perdida no ambiente quase caótico, moldado por certos surtos de felicidade coletiva. Voltei várias vezes aos pontos em que ela movia os lábios e dizia algo. Mas, para minha falta de sorte, nenhuma sílaba sequer soava clara e identificável. No entanto, essa candidata continuava emitindo bips no meu detector de radiação.
De qualquer forma, fui anotando tudo. Escrevi seus nomes cuidadosamente em meu arquivo virtual. Já os tinha de memória, mas julgava importante registrá-los, ainda e mais uma vez, pensar com serenidade sobre cada um deles, como se estudasse para uma prova. Rabisquei alguns dados, idades, cargos, com minha caneta soft. Ainda assim, quando decidi excluir aquelas mais jovens, eu apenas as deixara de lado, como um detetive dedicado que pode voltar a interrogar uma pessoa suspeita, buscando reiniciar o processo, por excesso de zelo, questionando a si mesmo sobre se teria esquecido ou deixado de observar algum detalhe. Por exemplo, eu podia admitir que uma daquelas jovens (que pareciam ter, no máximo, 25 anos), com dois ou três anos de trabalho, poderia perfeitamente ter encontrado uma maneira de acessar informações importantes, se estivesse no lugar certo, entre as pessoas certas. E também poderia ter sofrido abusos do primeiro-predador-ministro-sorridente. Com a informação nova, que situava minha interlocutora como amante de nosso político-mor, as peças se moviam no tabuleiro: aquelas jovens seriam um alvo interessante e apetitoso para ele. Mas essa era uma hipótese fraca. Porque o que mais contava nessa informante, pelo que me vinha ocorrendo nesse jogo de associações, era o seu domínio do discurso, a sua experiência pessoal e, por mais linda que fosse sua voz, não me parecia a voz de uma jovem, por não sei que sutilezas que eu próprio não saberia explicar. Mas eu poderia jurar que não era. Espremi os cantos dos olhos com dois dedos, ao mesmo tempo em que apertava o alto do nariz. Hora de parar.
No dia seguinte, chamei a Rose. Ela estava livre na quinta-feira. Seu sorriso à porta. Casaquinho aberto, saia curta e sapatinhos de salto. Elegante e ainda rústica. Ignorante e esperta. Uma eventual apaixonante. Nessa noite, algo que eu não costumava fazer: logo que ela entrou, eu a abracei com energia, apertando suas costas, prendendo seu corpo, imaginando que isso fosse, não sabia explicar como, a manifestação de uma amizade e de um carinho sinceros. A Rose correspondeu – e ela era forte. Sorriu ao meu ouvido. “Tô vendo que alguém tá muito aceso hoje.” Perguntou se gostei dela com aquela roupa. Gostei sim. E dos sapatos. Mais ou menos. Se eu queria que soltasse os cabelos. Não, não precisa, gosto assim. Rabo de cavalo. Está linda.
Tomamos cerveja, compartilhamos meus cigarros. Reservei umas Morganas para ela, sua preferida, e continuei fiel à Tincobell, que era a minha, com seu fundo amargo inconfundível, seu sabor fresco, forte e viciante. Ela e eu costumávamos beber qualquer coisa direto da garrafa. Peguei o maço de Malpro e lhe ofereci um desses que ela nunca vira em minha casa. Eu sentia, como parte de minhas pulsações novas, minha ansiedade benigna, as substâncias traiçoeiras, tóxicas e prazerosas de um Malpro, que agora integrava meu pequeno mundo. Disse várias vezes à Rose que ela estava linda. Quase lhe pedi que dançasse para mim. Mas, de repente, não me sentia propenso a brincadeiras desse tipo, nada que me fizesse esperar muito. Em vez disso, eu a sentei ao colo: impaciente, enérgico, tomado pela vontade urgente e insubstituível de dominar uma mulher.
Em algumas posições, eu a prendi por mais tempo. Com mais força. E me repeti nos golpes, numa sequência mais longa que das outras vezes. Fui ao chuveiro, ajustei a água a uma temperatura ideal, e segui experimentando um bem-estar contínuo, sustentado pelo relaxamento e pela memória física recente de ter invadido a Rose com toda vontade, acariciado agora por umas últimas porções finas de esperma, ainda brotando e escorrendo por minhas pernas. Prazeres em níveis diferentes. Diversificados.
“Quer que eu deixe a água ligada pra você?”
“Deixa sim. Já vou aí.”
Enquanto ela se lavava, já emendava outra conversa comigo.
“Ai, que delícia de banho, meu bem, que água boa… Vou te contar. A minha irmã vai viajar amanhã. Pro interior de Minas. Conheceu um cara lá.”
“É mesmo?”, eu me deitava outra vez, exausto e feliz.
“O cara é meio que mais velho que ela, achei ele meio malandrão. Não tô gostando nada disso. Falei isso com ela, mas parece que a vaca não tem juízo mesmo.”
Enquanto eu a ouvia, exaurido, e com a extinção provisória de toda a minha energia masculina, afundei num sono incontrolável, macio, entorpecente, cheio de influências leves e bons presságios. Nessa transição instantânea, continuei ouvindo confusamente o que a Rose continuava me contando, agora com a voz de minha excêntrica informante da cafeteria, que a estava dublando. “Não confio nele… Já falei pra ela… Depois não vem me dizer… Confio em você… Conheço esses tipos… Conheço o De Castro… Quero o escândalo total… Nenhuma fac será suficiente…” Sonhei com ela, sentada à mesma mesa que eu, minha pequena mesa da cozinha. Vi o seu rosto muito próximo: o rosto da Rose. Sua boca grande e linda era agora pequena, de lábios finos. O traço de pele mais clara, que era a cicatriz descendo da boca ao queixo, desaparecia e retornava, formando um desenho disforme entre mim e ela, como fios de fumaça dançando à frente de seus olhos. “Nenhuma fac será suficiente! Ouviu? Ouviu?!”
Ela me bateu com a toalha. “Dormindo? Nem ouviu o que eu te contei, né?”
“Ouvi sim. A sua irmã… Esse canalha aí…”
Saiu com os longos cabelos molhados, manipulando a toalha, mostrando sua musculatura firme, contida em sua forma esbelta, limitada, sua pele com minúsculas marcas que sempre me lembravam sua origem humilde – e as pequenas cicatrizes que eu tão bem conhecia. Sentou-se na cama ao meu lado, agitando a toalha nos cabelos, tentando secá-los um pouco mais. Olhou-me de frente.
“Você foi demais hoje, hein? Tava diferente, tava mais… violento. Mais… intenso.”
“Oh, Rose. Não tente me agradar. Eu mal dou conta de uma corça absoluta como você.”
“Mas hoje você deu muita conta de mim!”, acenando a cabeça positivamente e estendendo um pouco à frente o lábio inferior.
Senti que sim. Que ela tinha razão. Mais intenso, gostei disso. Normalmente, ela não usa esses vocábulos, e fica mais ou menos entre “mais forte”, “mais doido” – e o caso era que eu nem me comportava assim, nem forte, nem doido, nem violento, nem intenso, há muito, muito tempo. E não que eu estivesse descontando nela, por qualquer motivo. Melhor dizendo: de certa forma, sim. Percebia que algo em minha libido demandava uma espécie de recompensa mais robusta, mais consistente e mais palpável. Um instinto desperto, que era basicamente o mesmo, com variações de força. Eu me sentia em meio a uma aventura silenciosa, em curso, que exigia coragem, estratégia, sigilo e que, de forma ainda difusa, já antecipava seus perigos.
“Você é forte, Rose, você é linda. E me enlouquece, sabe disso. Te amo.”
Ela sorriu e me beijou, prendendo meu rosto com as duas mãos. Uma eventual não costuma beijar seus clientes, todos sabem disso. Mas nós nos tornamos amigos. Acho que foi a partir de nosso quarto encontro que a Rose passou a me beijar. Ela não cobra nada a mais por isso.
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