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Ricardo – Serenata sintética
De minha coleção de preciosidades (essa coleção é bem limitada, justamente por ser formada por preciosidades), destaca-se o original “Serenata sintética”, de Cassiano Ricardo.
Lua
morta.
Rua
torta.
Tua
porta.
Antecipando-se ao Concretismo, intraduzível, um achado em língua portuguesa, é um cristal que se forma. Poucos, bem poucos poetas conseguiram nos legar uma peça tão perfeita e bem estruturada como essa. A eventual melancolia (aliada à insinuação de um encontro) que talvez nos inspirem as imagens da lua neutra e da rua irregular dilui-se logo em seguida, após a leitura, e o poema todo tem o efeito de uma leve comicidade, uma alegria discreta como a que sentimos, com diversos níveis de entusiasmo, quando estamos diante de uma obra-prima: aquela satisfação singular originada pelo que chamamos gratidão pela arte.
Cassiano Ricardo, Serenata sintética.
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