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Quando se olha por uma janela…
Mas o tempo passa, as coisas passam, e as pessoas deixam de existir.
A vida ocorre somente neste momento em que escrevo e conto.
Quando se olha por uma janela e se observa o mesmo panorama, com os mesmos recortes de telhados, através dos mesmos vidros, por entre a mesma moldura, tanto no dia de ontem como no dia de hoje, o pensamento alonga-se como se espreguiçando, que as coisas todas parecem não passar nunca, e a nossa janela e os nossos dias estão sempre aí, ao alcance dos olhos. É um dia canadense, de nuvens. Um domingo de nuvens. Canadense, como digo a ela brincando. Mas ela ainda não acordou. Só eu fui à janela. Sou só eu quem vem até a janela. Tudo acontece agora.
Mas o tempo passa, as coisas passam, e as pessoas deixam de existir. Muitas vezes, antes das coisas. A vida ocorre somente neste momento em que escrevo e conto. Não existe vida no passado, é claro. E não há nada real no futuro, porque o futuro só pode ser imaginado. A vida só se encontra no presente, como eu sempre soube, que é quando – e onde, por que não? – qualquer coisa em minha vida pode acontecer.
Imagem: Henri de Toulouse-Lautrec. A cama. 1898.
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