Office in a Small City por Edward Hopper

A cor intensa que nasce e morre com os humanos (trecho)

Nem sempre corre ao computador. Tem um tempo próprio de convivência com os papéis, uma necessidade. Mas claro que essa porcaria eletrônica serve muito bem a suas necessidades, serve muito bem mesmo. Telinha, digitação, ideias e infantilidades. Serve muito bem à maior parte de tudo o que rabisca ali, ao lixo limpo que nasce de sua mente e desaparece na escuridão asséptica dos circuitos invisíveis. E esse aparelho todo é menos impressionante quando movido a eletricidade, menos denso que os papéis, é um pouco vivo e vulnerável, consome energia, arquivo Word, to work, aardvark, back to work…. “É por isso que escrevo”, o romântico digita, na sequência. Certo, agora delete logo essa asneira. Imagine se é por isso! Claro que não. E claro que não tem esperanças de compreender essa coisa toda, que sempre exige palavras melhores do que expressões como “essa coisa toda”. É por isso que escrevo… Que cronista idiota e inútil. Relê, revisa. Saiu escravo na tela. É por isso que escravo… Que sinistro associar isso de escrever à condição de escravo. O corretor automático do Word não diferencia uma coisa da outra, não sabe o que Danilo pensa, não sabe o que ninguém pensa, não sabe se ele é escravo ou não, e nunca vai saber. Também não sabe para que serve ele próprio, pois se os seus usuários também não sabem para que servem… Em frente. Registrar tudo em arquivos. Para quem, para quê? Pinturas nas cavernas, agora com precisão matemática. Cro-Magnon digital. O Plistoceno em nós. A necessidade do registro. Gravar no disco rígido, disponibilizar em nuvem. A Terra gira, e um dia nem mesmo se chamará Terra. Serão outras línguas, outras palavras. A era geológica presente terá mais um nome no futuro. Todos os crimes irão prescrever. O tempo esmagará os discos rígidos. Não haverá nada escrito nas nuvens.

Marcas de gentis predadores

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