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Inconsistência dos retratos, algo sobre
Os textos que compõem esta coletânea datam do mesmo período em que surgiram aqueles que deram origem a Lisette Maris em seu endereço de inverno. Selecionados sob outro critério, não pretendiam (nem poderiam) caracterizar um volume conceitual, considerando-se sua diversidade temática e (nem tanto, afinal) estilística.
Alguns destes contos assumem, no processo de sua narrativa, aspectos de transição entre o que se entende como real e o que configura sua própria corrupção, como se observa no desenrolar improvável do conto-título. Outros tratam de eventos inusitados, como “Eco, a cidade dos demônios” ou “Guia de mistérios urbanos”. Alguns, intimistas (“O mar dos meninos”), outros carregando sinais de uma dimensão onírica (“O cavaleiro do século”, “A onda dentro de um vidro”), confessados por narradores decadentes e sensíveis (“Pai a casa torna”, “Não são estas as minhas certidões”) ou marcados por diferentes gradações de subversão e erotismo (“O beija-flor de Ruschi”, “Os amantes das irmãs Novaes”).
A última parte deste volume compõe-se de um registro de sonhos, selecionados por sua aparente consistência e narrados de maneira a alcançar a maior proximidade possível de sua legitimidade. Mesmo assim, como já se supõe inevitável, alguns momentos significativos, decorridos entre percepções silenciosas, foram recriados e falseados por palavras.
Mas não existe ficção sem falseamento, como não existem recordações absolutas. Em última análise, o narrador personagem que perde a filha pequena em “Anabel, em seu dia de luz” termina assim seu relato: “Pode-se dizer que sofri um sonho. E Anabel fez parte dele. Minha ex-esposa foi parte dele. […] sofremos todos nós um grande sonho enquanto o tempo nos desafia.”.
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Comentários
2 respostas para “Inconsistência dos retratos, algo sobre”
Sou leitora da obra de Perce Polegatto e indico a todos que procuram enriquecer-se de cultura e da mais nobre literatura.
Obrigado, Elisângela. Honrado com suas palavras.
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