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As cinco estações (trecho)
Texto apresentado no sarau da Casa do Poeta, junho 2019.
Verão. Canção dos vaga-lumes
E sua luz, sua breve luz. Duravam só o verão. Encantavam-me em criança, pedia a meu pai que os explicasse. “Por que vaga-lume, pai?” “Era caga-lume, virou vaga-lume.” Eu ria, pedia outra vez que recordasse a cantiga de atraí-los. Cantávamos juntos, perscrutando a escuridão, eu os chamava com gestos.
“Vaga-lume tem-tem, vaga-lume tem-tem.
Teu pai tá aqui, tua mãe também.”
Tantas vezes vi voltar o verão dos vaga-lumes, tanto a parceria de meu pai, que a vida me parecia maravilhosa e eterna. Ocorre-me hoje, passando rente aos ciprestes do mesmo cemitério onde o tempo guardou meus pais, a canção antes eterna, agora efêmera, com que os chamava na infância. Acendo um cigarro, detenho-me ante a grade, em torno da qual giram os vaga-lumes, e é como se de lá me chamassem desta vez.
“… Teu pai tá aqui, tua mãe também…”
Eu os vejo faiscando no negrume das árvores, no que lhes cabe entre os ciclos, e sua temporada de luz. Sua breve luz.
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