Office in a Small City por Edward Hopper

Camões – Aquela triste e leda madrugada

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Não, Luís de Camões não dispensa apresentações: eu quero, sim, apresentá-lo a meu modo. Pessoalmente, não me interesso muito pela grandiloquência dos épicos, por isso meu Camões é principalmente o poeta lírico que marcou, com seu brilhantismo, a poesia de seu tempo, pós-medieval, pós-provençal, agora primando por um nível de excelência como não se via antes e em pleno domínio dos recursos oferecidos pela nova (e mais rica) língua portuguesa. O soneto que escolhi, confesso que não o entendo perfeitamente. Mas isso é o que torna a obra de arte especial em relação a outras expressões do intelecto: não se deve explicar tudo, mas sugerir e inspirar. O fato é que este poema me comove toda vez que o leio, dadas as suas sutilezas e a sensibilidade com que o autor soube traçar sua visão sugestiva e intensa de mais um amanhecer – para ele, carregado de sentimentos.

Aquela triste e leda madrugada,
cheia toda de mágoa e de piedade,
enquanto houver no mundo saudade
quero que seja sempre celebrada.
 
Ela só, quando amena e marchetada
saía, dando ao mundo claridade,

viu apartar-se d’uma outra vontade,

que nunca poderá ver-se apartada.
 
Ela só viu as lágrimas em fio
que, de uns e de outros olhos derivadas,

se acrescentaram em grande e largo rio.
 
Ela viu as palavras magoadas
que puderam tornar o fogo frio,

e dar descanso às almas condenadas. 

Luís de CamõesAquela triste e leda madrugada.

Leia algo sobre um escritor português contemporâneo.

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