Seu carrinho está vazio no momento!
Projeto esvanecendo-se. Adicional.
O ensaísta francês Joseph Joubert entendia que, para escrever bem, era preciso conciliar alguma facilidade natural com uma dificuldade adquirida. Isso se mostra rotineiramente no processo de criação literária. Alguns trechos partem de uma espontaneidade descritiva para depois encontrarem sua forma final, mais elaborada, e aqui se observam os sinais de dificuldade adquirida: voltar ao tom de espontaneidade inicial após todo o processo de elaboração. Fazer parecer que se acabou de vivenciar e contar algo, de um momento para outro, quando tal não aconteceu. Nesse caso, escolhi o recurso da imitação da sonoridade, frases curtas pontuando períodos mais longos e as falas das personagens soltas no texto, entre uma pequena descrição-narração e outra.
Ela separou uma chave, errou, depois acertou enfiá-la em algum ponto que não se via pelo lado de fora. Plec… Plect! E eu entendi que todos tinham de destrancar esse tal portão por dentro, não havia outro tipo de controle que pudesse ser acionado a distância, sem sair dos apartamentos. Alguém tinha mesmo que descer, ir até a entrada, receber o visitante. Um lugar simples. Entra. Passei pelo portão aberto, estendi-lhe a mão direita, ela respondeu quase ao mesmo tempo, dando-me a sua. Tudo bem? Do mesmo jeito que a gerente do banco me cumprimentava.
A primeira tarde de areia e mel
Algum coloquialismo deve permanecer. Omissão de verbos, ausência de pontuação separando adjetivos em sequência por ser desnecessária para o entendimento do texto. Muita elaboração pode tornar a percepção das imagens artificial.
Era isso, em parte. Um pouco e tudo. Havia sim uma sensação nova, de estar sendo recebido acolhido auxiliado. A cada passo, eu subia mais e mais em minha excitação contida. E a cada passo eu assumia, quase conscientemente, os sinais mal definidos de uma anunciada sonora aromática irresistível decadência. Ela escolheu uma chave, destrancou a porta. É aqui. Entra.
A primeira tarde de areia e mel
Alguns trechos alternam o foco da terceira pessoa para a primeira (ou da primeira para a terceira), porque, ao acionar a memória, o narrador se observa como um personagem, alguém externo, que se mostra a sua frente como se fosse outra pessoa; e muito perto disso, no momento em que se sente intimamente envolvido nessa evocação, torna a assumir a narrativa como ele mesmo.
Sem forças, realizado e pleno, outra vez sob a meia-luz artificial, aproxima-se dela na banheira larga, miniatura de piscina cavada em alvenaria, um degrau acima do piso. Ela sorri tranquila, imersa junto a um dos vértices, só o rosto à tona, água morna em movimento. Retorno-lhe o sorriso, minha gratidão não tem preço.
.
por
Publicado em
Categorias:
Tags:
Leia também:
Comentar