Office in a Small City por Edward Hopper

Jacques Boucher de Perthes

Um pioneiro da Pré-História

Jacques Boucher (de Crèvecoeur) de Perthes

(Rethel, 1788 – Abbeville, 1868)

Arqueólogo francês, filho de um botânico de certa projeção no período napoleônico, ele inicialmente pretendia ser escritor, mas seus interesses eram amplos e diversificados. Em 1838, na região de Somme, norte da França, desenterrou machados grosseiramente moldados que, dada sua posição nas camadas escavadas, sugeriam ter muitos milhares de anos – eram os primeiros sinais do homem da Idade da Pedra. Boucher publicou o resultado de suas cuidadosas observações sobre tais artefatos, o que causou uma verdadeira revolução, pois o homem era visto como um ser muito recente, e Cuvier e suas teorias catastrofistas ainda tinham muitos seguidores. As teses catastrofistas admitiam a idade dos fósseis, supondo que a Terra, periodicamente, sofria grandes e súbitas mutações drásticas, mas rejeitavam qualquer sinal de ancestralidade remota do ser humano, que seria uma criatura jovem, não podendo, portanto, ultrapassar em idade mais do que 6 mil anos – até porque uma datação diversa contradiria os relatos bíblicos, tidos como verdadeiros. Entendendo que não conseguiria convencer seus contemporâneos, Boucher continuou seus trabalhos sozinho e acabou descobrindo novas evidências da ancestralidade humana. Em pouco tempo, outros arqueólogos conseguiram mais dessas evidências, o que chamou a atenção de alguns cientistas ingleses, entre eles o renomado geólogo Charles Lyell, que foram à França conhecer a região onde Boucher fizera seus achados. Lyell passou a apoiar abertamente seu colega francês e escreveu um livro sobre o tema. Com isso, a Royal Society britânica aceitou oficialmente a nova antiguidade do homem. Boucher ainda observou distinções no que se referia à manufatura de certos objetos, feitos em sílex, sendo alguns lascados, outros polidos. Chamou o período das pedras lascadas de antediluviano (nomenclatura em desuso), dado que à época acreditava-se no Dilúvio como fato, não como lenda. Não apenas Boucher havia encontrado utensílios remontando a muitos milhares de anos, como também descobriu restos de algumas espécies extintas, como o mamute, e de seres humanos de espécies diferentes da que define o homem moderno. Isso desencadeou uma linha de pesquisa que iria estabelecer uma teoria revolucionária sobre um ponto polêmico e muito sensível: a ascendência do homem. Era o surgimento da Pré-História como área de conhecimento da ciência.

As definições Paleolítico e Neolítico foram criadas posteriormente pelo naturalista inglês John Lubbock, autor de Prehistoric times, para distinguir as divisões da Idade da Pedra. Esse livro foi um sucesso de público e despertou o interesse de novas gerações de cientistas e amadores pela Pré-História.

Textos associados: James Hutton, o investigador da idade da Terra

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