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O bom ladrão, os dentes da caveira, atentado em Paris, cômico por ter sido sério, títulos revistos
O escritor Machado de Assis pagava pela publicação de seus livros. Conta-se que o editor, Baptiste Louis Garnier, acabava ficando com parte dos lucros das vendas (poucas, na época), além de usar parte do capital do autor para outros fins não declarados. Mas como ele incentivava Machado a publicar sempre mais, era conhecido, por causa das iniciais de seu nome (B. L.), como o Bom Ladrão Garnier.
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Na cena em que Hamlet segura uma caveira e observa o encaixe de seus dentes, Shakespeare faz referência a um tipo de documento feito à época – pelo menos no século 13, na Dinamarca. O contrato, escrito à mão, sem cópia, era rasgado em duas partes: uma ficava com o proprietário, outra arquivada no equivalente a um cartório, uma entidade oficial do reino. Um papel rasgado aleatoriamente é como uma impressão digital. Só os verdadeiros donos das duas partes poderiam juntá-las perfeitamente quando fosse preciso.
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Aos 32 anos, Samuel Beckett ffoi esfaqueado por um mendigo em Paris, que depois declarou não saber por que tinha feito aquilo – diz uma versão que foi pelo fato de Beckett ter-lhe recusado uma esmola ou ter-lhe recusado fogo para o cigarro. Por pouco, o autor não morreu – o golpe o atingiu a alguns centímetros do coração. A partir desse episódio, ele passou a refletir intensamente sobre o absurdo que é a vida.
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No prefácio da quinta edição portuguesa do romance Amor de perdição, Camilo Castelo Branco afirma ironicamente: “Eu não cessarei de dizer mal desta novela que tem a boçal inocência de não devassar alcovas, a fim de que as senhoras a possam ler nas salas, em presença de suas filhas ou de suas mães, e não precisem de esconder-se com o livro no seu quarto de banho. Dizem, porém, que o Amor de perdição fez chorar. Mau foi isso. Mas agora, como indenização, faz rir: tornou-se cômico pela seriedade antiga […]. E por isso mesmo se reimprime. O bom senso público relê isto, compara com aquilo, e vinga-se barrufando com frouxos de riso realista as páginas que há dez anos aljofarava com lágrimas românticas.”
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O título pensado por Lewis Carroll para sua obra mais conhecida (Alice no País das Maravilhas) foi Alice debaixo da terra (Alice under ground). Seus amigos o convenceram de que seria um título muito sombrio, sugerindo cemitérios e similares.
The last man in Europe, o título escolhido por George Orwell para sua obra-prima, mudou, por sugestão de seu editor, para 1984.
Robert Musil deu o nome de Aquiles ao personagem central de seu longo romance O homem sem qualidades – que ficou inacabado, embora já tivesse duas versões publicadas antes de sua morte. Ele começou a escrevê-lo em 1924. Em 1922, James Joyce havia publicado Ulisses, e não ficaria bem, em tão pouco tempo, um novo calhamaço com o nome de outro herói grego. De qualquer forma, Ulrich, o protagonista, não tem nada de herói, além de, curiosamente, também não poder ser visto como um anti-herói..
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Imagem: Anastasia Vertinskaya e Innokenty Smoktunovsky em cena do filme Hamlet (1964), dirigido por Grigori Kosintsev.
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