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Pós-escrito tardio (mas irresistível)
Dei-lhe pistas, descrevi seu rosto e sua voz. Não, nada.
Outra vez casualmente, num misto de milagre e diabólica coincidência, esbarrei em Copérnico mais de trinta anos depois. Custou-lhe reconhecer-me. Parecia alterado, confuso. Outros, os mesmos: estávamos ambos grisalhos – nele, a ligeira calva destacando os cabelos lisos. Quem sabe quantas vezes teria se casado, quantas amantes tivera, quanto teria herdado nesse longo período que fora nossa fase adulta, agora às portas da velhice ou da morte. Eu próprio mal podia crer que, após tantas dificuldades, tantos empregos, de infinitos dias, tantas novelas rascunhadas e não publicadas, ainda me arrastava com vida à custa de minha aposentadoria nada invejável. Perguntei-lhe se recordava a última vez em que estivéramos juntos. Ele não tinha certeza. Se ainda se lembrava de quem estava conosco, ele fez que não. Homem bem cuidado, apesar disso parecia mais velho que eu, perto dos sessenta e debilitado intelectualmente, isso sem ironias de minha parte, pois quanto mais envelhece, mais um homem se parece consigo mesmo. Falei-lhe de Vanessa sem mencionar, intencionalmente, seu nome. Dei-lhe pistas, descrevi seu rosto e sua voz. Não, nada. “Ela se chamava Vanessa”, eu lhe disse por fim. E era como se eu aguardasse ansiosamente alguma notícia dela enquanto viva. “Lembra?” Copérnico moveu a cabeça com indiferença.
A conspiração dos felizes
51. Foi só um sonho ruim – anterior
Imagem: Emmanuelle Vial. Composição 9. (detalhe superior).
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