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Lisette Maris, 3a. edição
A gárgula de caninos dourados prenuncia as presas ruidosas que investem contra a grade do jardim. Uma criada inexpressiva aconselha que eu entre pelo portão lateral. Damares mora nesse sobrado razoavelmente luxuoso, mas que também não é a oitava maravilha mais antiquada do mundo. Cozinha: copa: antessala: corredor: a criada, que nunca me olha nos olhos, informa que ela está ouvindo música na saleta contígua, a das almofadas. O cão, do qual suponho estar livre, entrou certamente por outra porção de seu conhecido labirinto e ataca-me tão logo avisto Damares pela porta aberta. Ela se ergue da almofada.
“Papa, não faça isso!”
O cão não lhe obedece. Abocanha meu punho contraído e surpreendentemente se detém, como se algo o houvesse paralisado. Ergo o braço, o punho cerrado entre suas presas, ele se permite içar, mantém-se suspenso e oscilando, com o peso dos enforcados.
“Papa, que coisa feia…”, diz ela ao aproximar-se. “Não sabe que é meu convidado?”
Com um gesto habilidoso, desarma as mandíbulas e livra-se do mastim. Ele ainda rosna, mas sai pelo corredor. Damares sorri de encontro a meus olhos, o cão rosnando à distância empresta-me que essa engrenagem atravessa também os dentes de seu sorriso, Damares rosnando surdamente, sorrindo em silêncio. Seu sorriso, aliás, pela primeira vez endereçado a mim, pareceu-me dividido em duas fases distintas, quase imperceptíveis: a primeira metade abrindo-se como uma cortina apresenta o dia, outra derivando a uma consideração velada e faiscante, como uma centelha. Blusa larga de inverno, calça justa, pés descalços sobre o carpete, assim emerge Damares dessa sala de almofadas.
“Desculpe a cena”, ela diz. “Meu pai é muito impulsivo e não compreende perfeitamente uma situação.”
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