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Para eles, não há história
O que acabou, acabou.
NOVO PORTA-VOZ REFORÇA QUE O REMÉDIO É AMARGO MAS NECESSÁRIO
Sim, os conselhos (e consolos) e discursos são todos para nós. Sempre para nós. Quando ocorrem demissões em massa, deflagram-se campanhas otimistas nas mídias, mostrando que o importante é a nossa capacidade de superação, nossa força de vontade. Que você nunca desista, você é forte, lembra? Não importam as nossas decisões, aqui em cima. Pense em como você é capaz! – e não se esqueça de ser feliz, claro.
Os capitalistas e suas reuniões, seus planos, seus projetos. A trama nunca cessa. Novas metas, novos desafios… – vivem espargindo esses jargões. Só se comparam a algum procedimento muito recente, e dizem que até o semestre passado tal e tal coisa era feita assim, e os investimentos eram assim, patati, porém, devido às novidades tecnológicas, nós agora, patatá… Nunca falam nos anos 1940, por exemplo. Para eles, não há história. Só o que importa é ganhar dinheiro, e só se ganha dinheiro agora, no presente, nunca no passado, como todos cansativamente sabem. Portanto, o passado, para eles, não existe, não importa. Sei, estou sendo absurdo, tendencioso, irreal. Claro que eles têm que se atualizar. Mas esses homens não são como nós, revendo álbuns e sonhos idiotas da juventude. O que acabou, acabou. O dinheiro vem aí, por aquela porta, veja, nosso cliente chega com sua valise, trazendo-nos o presente que mais pretendíamos: o presente.
Eu não podia afirmar que o fim de semana fora propriamente agradável. A presença de Vina me inquietava. Eu perdera o hábito de acreditar nas coisas, algo em que ela insistia.
Domingo à noite, o restaurante: ela me garantia que as coisas tinham uma certa ordem, que o mundo não era tão desprovido de sentido nem as pessoas eram tão ridículas, quando veio nos cumprimentar um homem de bigode, rosado e risonho, que vinha passando de mesa em mesa, sorrindo e perguntando a todos se estavam sendo bem servidos, se o vinho estava no ponto e o repasto, ao gosto. Estranhou-me que se vestisse de maneira tão descontraída, mesmo sendo gerente de uma espelunca como aquela. O garçom aproximou-se às suas costas, agarrou-o pelo colarinho e o expulsou aos empurrões porta afora, ameaçando castrá-lo se voltasse. “Ele só aparece de vez em quando”, explicou aos fregueses mais próximos. “Dizem que é inofensivo, mas qualquer dia nós vamos chamar a polícia.”
“As coisas têm uma certa ordem.”
“Você não entende!”
Vina entre os morcegos (A conspiração dos felizes)
16. Meu tempo sem previsão – sequência
14. A vida é um vício, não é? – anterior
Imagem: Edward Hopper. Esquina em Nova York (Salão de esquina). 1913.
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