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Em parte, o destino
E a outra parte como que se delineia previsível, com suas tendências, a menos que ocorram novos desastres.
Dez anos. Durante essa tão breve quanto extensa amostra de tempo – pois referir-se a ela não é o mesmo que tê-la atravessado, com todas as suas horas e dias –, nossa fase adulta havia se consolidado, com mais frustrações e sofrimentos para uns do que para outros, como é natural também que a vida não tenha lógica. Tempo suficiente para conquistar e perder novos amigos. Para esquecer um amor ou a morte de alguém – afinal, nascemos para ficar órfãos e para deixar órfãos atrás de nós. Para excitar-se com novos sonhos e constatá-los em extinção entre as paredes de um quarto onde só nós habitamos. Às vezes tanto cabe em tão pouco. E nossa vida toda é assim.
Muitos de nós se casaram e fizeram descendentes, à sua imagem e semelhança. Alguns se formaram no exterior; outros desistiram por aqui mesmo, por falta de recursos. Um colega de meu meio suicidou-se. Há os alcoólatras entre eles, os viciados entre nós. Soube de um doente crônico, apesar de jovem. Dois de nossa classe sucumbiram aidéticos. Há as mulheres sem cintura, que eram meninas meigas e acabaram casadas com canalhas intratáveis. A miss colégio tornou-se uma prostituta de luxo. Uma moreninha sem graça preferiu a carreira religiosa. E há também aquela tão feinha e pobre de quem nunca mais se ouviu falar.
Estamos nessa idade em que parte de nosso destino já transcorreu, e a outra parte como que se delineia previsível, com suas tendências, a menos que ocorram novos desastres. Já se sabe quem são os bem-sucedidos e os fracassados. Já se conhecem os trapaceiros, os otários, os agiotas, os mais submissos, os adúlteros, os ingênuos. Os solitários. Os mortos.
A conspiração dos felizes
32. Música suave e um vulto do passado – sequência
30. Sempre muito entendidos – anterior
Imagem: Amedeo Modigliani. Retrato de uma jovem II. 1918.
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