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Drummond – Os ombros suportam o mundo
Um jovem tímido, formado em Farmácia. Um de muitos irmãos, vindo da fazenda do pai. Mineiro calado e introspectivo, incomodado por certa rebeldia silenciosa. Homem simples, mas curioso. Casado, uma filha. Mais tarde, aposentado como funcionário público. Dizia ter tido sorte de ter bons amigos que gostavam de literatura. Dizia também que a poesia era sua cachaça. O intelectual e crítico literário Alceu Amoroso Lima, ao longo de mais de uma década de correspondência, tentou convertê-lo ao cristianismo. Esse homem magro e pouco expressivo, que escreveu ter murmurado, à sombra de um mundo injusto, “um protesto tímido”, poderia ter passado como um cidadão comum por seu país e por seu tempo. Mas alcançou o status de um dos maiores poetas brasileiros do século 20. E deixou a marca de sua inquietação e de seus questionamentos entre nós, brasileiros, em geral pouco atentos a pensamentos profundos. A amostra escolhida é um trecho de um de seus poemas mais conhecidos e um de meus prediletos. Nossos ombros suportam Drummond.
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
[…]
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teu ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.
Carlos Drummond de Andrade, Os ombros suportam o mundo.
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Comentários
Uma resposta para “Drummond – Os ombros suportam o mundo”
Muito Bom.
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