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Auster – Invisível
Um dos mais destacados escritores contemporâneos, conhecido por obras como A trilogia de Nova York e O livro das ilusões, Paul Auster também escreveu para o cinema e sempre teve boa aceitação por parte da crítica e do público, o que é um fator de reconhecimento por seu trabalho criativo e por seu talento no trato com as ideias e com a prosa literária. Os trechos escolhidos são retirados de seu romance Invisível, no qual ele nos lembra que nossa chamada civilização nada mais é do que uma fina tela que mascara “um interminável ataque de barbárie e crueldade.” Nele também, entre outras situações surpreendentes, se descreve a relação incestuosa de Adam com sua irmã, Gwyn, uma relação que começa na inocência de sua proximidade desde a infância, da amizade e da união espontânea entre eles, e se desenvolve até a fase adulta como uma situação que eles rejeitam, mas à qual não resistem. Primeiro, a descrição de Gwyn por um amigo de Adam, que a conheceu no campus da universidade. Depois, uma amostra do companheirismo natural que os irmãos dividiam quando das fases de transição para a pré-adolescência. Enfim, uma descrição do caso que viveram secretamente por algum tempo, mesmo tendo se envolvido, um e outro, em namoro com outras pessoas.
Já mencionei aqui como era bonita, mas isso não faz justiça ao impacto avassalador que ela produziu em mim. Gwyn era flamejante de beleza, um ser incandescente, uma tempestade no coração de todo homem que pusesse os olhos nela, e vê-la pela primeira vez ficou marcado como um dos momentos mais assombrosos de minha vida.
Você lembra o dia em que Gwyn entrou no seu quarto, sentou na cama e levantou a blusa para mostrar o primeiro e pequeno inchaço de seus mamilos, o primeiro sinal se seus seios incipientes, que começavam a crescer. Lembra que mostrou para ela […] uma de suas primeiras ereções de adolescente, e também recorda ter ficado perto dela no banheiro e ver o sangue escorrer pelas pernas de Gwyn quando ela teve a primeira menstruação. Nenhum dos dois hesitou nem um segundo para procurar o outro, na hora em que esses milagres aconteceram.
Iam fazer aquilo uma vez, só uma vez. Era para ser uma experiência, não um modo de vida, e por mais que gostassem, teriam de parar depois daquela única noite, porque, se continuassem aquilo depois, as coisas poderiam acabar fora de controle […] E vocês passaram os dias anteriores à partida dos pais num delírio de ansiedade – mortos de medo, chocados com a audácia do plano, enlouquecidos. […] Quando você se enfiou embaixo do lençol e sentiu a nudez daquele corpo, a pele nua de sua irmã de quinze anos pressionando a nudez de seu próprio corpo, você estremeceu, sentiu-se quase sem ar por causa do ímpeto de sensações que o atravessavam. […] Depois, Gwyn começou a correr as mãos pelas suas costas e em seguida levou a boca até o seu rosto e o beijou, beijou com força, com uma agressividade que você não esperava, e quando a língua dela entrou ligeiro em sua boca, você entendeu que não existia nada melhor no mundo do que ser beijado da maneira como ela estava beijando você, que aquilo era, de forma indiscutível, a mais importante justificativa para estar vivo.
Paul Auster, Invisível.
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