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Amado – Capitães da Areia
Talvez o mais bem-sucedido escritor brasileiro em termos de vendas e de popularidade, soube como poucos retratar a realidade da Bahia com tudo que participa desse universo cultural que é quase outro país dentro do Brasil. Começou muito precocemente sua carreira e logo nos brindou com um dos romances mais representativos entre outros também muito cultuados no conjunto de sua obra. Nessa narrativa, um grupo de pequenos delinquentes, morando em um trapiche, um casarão abandonado num recanto de praia distante em Salvador, liderados por Pedro Bala, assustam a cidade com seus furtos e práticas ilegais. A marginalidade para a qual são pressionados meninos e meninas, órfãos ou abandonados, gera conflitos sociais permeados por sofrimentos de toda ordem. Após uma epidemia de varíola, em razão da qual perderam os pais, Dora e seu irmão menor são adotados no grupo. Ela passa a ser a namorada de Pedro Bala, seu primeiro amor, mas também morre doente pouco depois, ardendo em febre. O trecho escolhido – desse autor que dizia não acreditar em nada, a não ser na força do povo – mostra um momento de desespero e revolta do jovem líder, inconformado com o destino.
Pedro Bala se joga n’água. Não pôde ficar no trapiche, entre os soluços e as lamentações. Quer acompanhar Dora, quer ir com ela, se reunir com ela nas Terras do Sem Fim de Yemanjá. Nada para diante sempre. Segue a rota do saveiro do Querido-de-Deus. Nada, nada sempre. Vê Dora em sua frente, Dora, sua esposa, os braços estendidos para ele. Nada até já não ter forças. Boia então, os olhos voltados para as estrelas e a grande lua amarela do céu. Que importa morrer quando se vai em busca da amada, quando o amor nos espera?
Que importa tampouco que os astrônomos afirmem que foi um cometa que passou sobre a Bahia naquela noite? O que Pedro Bala viu foi Dora feita estrela, indo para o céu. Fora mais valente que todas as mulheres, mais valente que Rosa Palmeirão, que Maria Cabaçu. Tão valente que antes de morrer, mesmo sendo uma menina, se dera ao seu amor. Por isso virou uma estrela no céu. Uma estrela de longa cabeleira loira, uma estrela como nunca tivera nenhuma na noite de paz da Bahia.
A felicidade ilumina o rosto de Pedro Bala. Para ele veio também a paz da noite. Porque agora sabe que ela brilhará para ele entre mil estrelas no céu sem igual da cidade negra.
O saveiro do Querido-de-Deus o recolhe.
Jorge Amado, Capitães da Areia.
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