Um importante romancista israelense, que declara precisar do deserto para refletir, aonde vai caminhar sozinho, imaginando que são nesses ambientes de solidão e silêncio que se podem considerar melhor as questões da existência humana. Contrariando a vontade do pai, que não queria vê-lo envolvido com a literatura, Amos Oz (cujo sobrenome real é Klausner, de origem ucraniana) determinou-se a viver com a coragem necessária para enfrentar todas as contrariedades. Daí também porque seus temas principais tratam da sobrevivência do amor em meio a condições hostis. A caixa preta relata a separação de um casal, as questões com o filho adolescente, os novos parceiros que encontram para dividir suas vidas, e é um romance epistolar (em forma de cartas), inteiramente narrado por meio das mensagens escritas que se alternam, com a linguagem e o ponto de vista próprios das pessoas envolvidas, num exercício de habilidade literária e notável percepção das distinções e particularidades de cada personagem. O trecho selecionado contém sinais reveladores de sua sensibilidade descritiva.

Lá fora caía uma chuva melancólica, insistente. O vento açoitava as copas dos pinheiros e as persianas de ferro enferrujadas. Através da água escorrendo pela janela via-se o pátio como desenhado com pincel japonês: agulhas trêmulas na neblina em cujas pontas prendiam-se as gotas de água. Ao longe, entre blocos de nuvens, flutuavam torres e minaretes como se também eles se juntassem à caravana rolando com os trovões para leste, em direção ao deserto.

Amos Oz, A caixa preta.

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