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Não posso deixar que ela leia isso
Eu escolhia verduras com grande dificuldade, ela se aproximou sem que eu percebesse.
Ela estava ainda de avental quando cheguei ao apartamento. Ia sorrir, mas viu que eu trazia a pasta comigo.
“Você passou na editora…”, disse, desanimada.
Fui direto à escrivaninha, no fundo do quarto. E me esqueci de tudo. Como se nada, nada mesmo, houvesse acontecido.
Estava concentrado em meus textos, reescrevendo, ordenando, e ouvi que ela passava soluçando baixinho pelo corredor. Interrompi um gesto que me faria levantar da cadeira, mas continuei escrevendo. Por fim, fui vê-la.
“Você só pensa nisso, só nisso…”, disse ela chorando. “Quando vai pensar em mim, quando vai pensar em nós? Quando vai tratar de salvar a nossa situação financeira?”
Eu não sabia o que dizer. Considerando seus olhos em lágrimas, os lábios mais inchados e bonitos, voltou-me à memória a manhã de chuva em que nos conhecemos. Eu escolhia verduras com grande dificuldade, ela se aproximou sem que eu percebesse.
“Posso ajudar?”
Mais tarde, quando os soldados chegaram
Mas que soldados? Chegaram como? Eu estava em uma quitanda. Assim já é demais.
“Passou na editora?”
“Passei.”
Ela estava ainda de avental quando cheguei. O apartamento
Não posso deixar que ela leia isso. Vai entender que se trata de uma insinuação, mesmo inconsciente, e reacender a polêmica sobre morarmos juntos. Às vezes, penso em Verena ao escrever cenas com mulheres. Verena jamais se casaria comigo. Ela era muito inteligente.
74. Livre para fracassar – sequência
72. Outra Plath: algo das raras imagens de Sylvia – anterior
Guia de leitura | Sobre o livro
Imagem: Albert Anker. A pequena descascadora de batatas. 1886.
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