Office in a Small City por Edward Hopper

Tratado da insignificância

Vincent van Gogh. Ponte Trinquetaille.1888. Olha como é pouco nosso tempo – e tudo,
tudo tão pouco:
pouca certeza, poucos passos, poucas aves…
O movimento dos portos abertos,
o passo duro dos soldados decididos,
as rondas noturnas e os dias,
o registro dos cadáveres gelados: tudo,
tudo isso é pouco.
Casas de apostas oferecendo números de chances infinitas,
e os cafés e os escritórios e os estádios e os expressos,
mesmo o afã cotidiano do estabelecido e os desastres,
as questões não concebidas,
as respostas insuficientes e os relógios,
as crianças e as ciências,
os mapas de partida e as plataformas de linha exata.
não nos terão servido de cartilha?
Canções, festas, noites coloridas, todos,
todos os beijos pouco duraram
(teus olhos mudaram de cor, perderam o brilho).
O passado nos foi pouco, muito pouco.
O presente se dissolve pelas ruas de tudo tão pouco
e, pouco a pouco,
à proporção em que as nuvens também passam,
e o mundo
se deixa filtrar aos olhos do poeta a tudo,
tudo atento, que tanto sente (tanto!) e ainda pouco..

Leia mais poemas e sobre poemas: Diário, 26

O homem do violão azul

Imagem: Vincent van Gogh. Ponte Trinquetaille. 1888.

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