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Lisette Maris. A oitava noite mais fria de todas (15/15)
Minha história é só mais uma história entre muitas.
Dalma surge à entrada da barraca, vem até mim.
“Então? Trouxe algo para eu ler?”
“Não trouxe nada”, respondo. “Não tenho nada.”
Dalma percebe que estou prestes a chorar.
“Não tenho nada.”
A casa onde moro é uma escuna, mas poucos compreendem. Sobre O otário da ilha Ota acomoda-se mais uma vez o vasto volume de Karl Allen. Atiro-o contra a parede, mas sei que amanhã ele estará outra vez pronto a impedir a saga do capitão Newman no rastro de seu tesouro maior.
Olhando as árvores retraídas pelo frio lá fora, essas que tanto tenho observado pela claraboia de meu quarto, ou das muitas claraboias de Lisette Maris, penso com estranha certeza, eu, que acreditava poderem Dalma e Diego passar-me às mãos a arca de um grande segredo, que voltarei a vê-los sob outras neblinas, que eles talvez não se impressionem muito com meu relato inverossímil, que minha história é só mais uma história entre muitas, que Damares e eu fomos vencidos, não tendo sido eu forte o bastante para lutar com seu cão, que minha casa está ancorada em um endereço que ninguém saberá, e que esta talvez seja a oitava noite mais fria de todas.
Lisette Maris em seu endereço de inverno (15/15)
14. Hoje, acabaram-se as xícaras – próximo
Lisette Maris 14. Um sonho afundando em sangue – anterior
Imagem: Os restos da arca de Noé. Shuxing Li.
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