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Andreas Vesalius
A revolução na anatomia
Andreas Vesalius
(Bruxelas, 1514 – proximidades da ilha de Zante, atual Zákhintos, Grécia ocidental, 1564)
Médico anatomista de origem flamenga, seu trabalho pôs fim a uma era e deu início a outra, a era moderna da medicina. Sua mãe era inglesa, seu pai trabalhava para o imperador Carlos V como farmacêutico da corte e vinha de uma linhagem de médicos procedente de Wesel, na Alemanha, de onde deriva seu sobrenome, em forma latinizada. Vesalius estudou na Bélgica e na França, entre mestres conservadores. Em seus estudos, ele refutou grande parte das teorias do precursor greco-romano Galeno, que eram a base do conhecimento médico da época, o que lhe causou desentendimentos com um de seus professores. Serviu como cirurgião militar no norte da Europa, mas sua vocação maior apontava para o estudo da anatomia, o que não era fácil num período em que certos procedimentos eram tidos como heréticos e perigosos, do ponto de vista da Igreja. Mudou-se para a Itália, que vivia ainda entre os últimos lampejos do Renascimento e onde poderia trabalhar com mais liberdade intelectual do que em outras partes da Europa – também na Itália, a dissecção de cadáveres não era bem-vista, mas as autoridades não se importavam muito com isso, o que favoreceu pesquisadores como Mondino de Luzzi, que puderam destacar-se, mais de dois séculos antes, com obras do gênero. Desse estudioso, Vesalius retomou o costume de realizar pessoalmente as demonstrações anatômicas, em razão do amadorismo dos assistentes. Graduou-se em Medicina em 1537 e lecionou em Pádua, Bolonha e Pisa, tornando-se um famoso conferencista, muito requisitado pelos estudantes, entre os quais, jovens talentosos como Gabriele Falloppio, criador do preservativo masculino. Vesalius reuniu seus trabalhos em um dos maiores livros da historia da ciência, o célebre De humani corporis fabrica (Da estrutura do corpo humano), a primeira obra precisa sobre a anatomia humana. Uma importante vantagem desse livro sobre os anteriores consistia nas ilustrações impressas, que podiam ser reproduzidas em número ilimitado, porque, antes da invenção da imprensa, as palavras podiam ser copiadas com fidelidade; mas as ilustrações, não. Alem de precisas, as ilustrações eram de uma notável beleza, realizações de excelentes artistas, contratados especialmente para essa tarefa. O corpo humano era mostrado em atitudes naturais, e os desenhos dos músculos eram tão exatos que nunca foram superados. Tratava-se de uma realização extraordinária para um homem que não tinha ainda 30 anos. Infelizmente, os trabalhos desse jovem médico encontraram uma ferrenha oposição, ainda que representassem o fim de toda uma era regida sob as ideias de Galeno. A obra de Vesalius não foi um falso alarme como o de Mondino: ele realmente demarcou o início da anatomia moderna. Apesar de ser um admirável anatomista, ele se apegava a algumas ideias fisiológicas antiquadas – lembrando que a anatomia trata da estrutura dos organismos vivos; e a fisiologia, de seu funcionamento. Por exemplo, aceitava o conhecimento vigente sobre a circulação sanguínea e acreditava que o sangue passasse de um ventrículo para outro através de poros microscópicos situados na parede muscular interventricular – mas a verdadeira fisiologia circulatória já existia, por meio dos estudos de Miguel Servet. Discordava de Aristóteles quanto à convicção do grego de que o coração seria o centro da vida, da mente e das emoções: Vesalius atribuía todas essas funções ao sistema nervoso, como hoje podemos confirmar. Desde então, não houve mais discussão sobre o assunto. Vesalius encerrou seus trabalhos quando seu livro foi publicado, provavelmente desiludido com a ira e a oposição suscitadas, lideradas por seu velho mestre parisiense, que o levaram a abandonar a pesquisa. Mas ele já era muito famoso como médico, e dificilmente conseguiria sair de cena. Seus inimigos o acusaram de heresia, roubo de cadáveres e dissecção. Durante algum tempo, tudo indicava que ele seria executado, mas suas ligações com a corte de Carlos V o salvaram, e a sentença foi comutada em uma peregrinação à chamada Terra Santa (hoje Israel). Na volta dessa viagem, o navio que o transportava foi lançado pelo mar às costas gregas, e Vesalius morreu no naufrágio. Ele ficou conhecido como o Pai da Anatomia Moderna.
• O trabalho principal de Vesalius é um verdadeiro atlas do corpo humano e um magnífico exemplo do que havia de melhor na produção de livros no pós-Renascimento. Obra de aproximadamente setecentas páginas de fina impressão, dividida em sete partes, chamadas livros, um estudo completo sobre o tema. Para sua confecção, Vesalius não poupou gastos: contratou os melhores artistas e técnicos, tendo como impressor Johannes Oporinus, de Basileia, chegando a ir até essa cidade para supervisionar os trabalhos pessoalmente. No livro VI, ele faz uma observação importante sobre a notável semelhança do coração com um músculo.
• Em suas demonstrações, Vesalius obtinha sucesso com algo tão simples como fazer constatar que o homem e a mulher tinham o mesmo número de costelas, pois, na Idade Média, era comum a crença no gênese bíblico, segundo o qual o homem teria uma costela a menos, utilizada para dar origem a uma mulher completa. Como se sabe, as ideias medievais não desapareceram com o Renascimento e perduraram até alguns séculos depois, num processo lento e conflituoso.
• Eram tempos perigosos para os cientistas: pouco antes das acusações contra Vesalius, o próprio Servet, que descobrira a circulação pulmonar, havia sido queimado vivo, acusado de heresia.
• Por uma coincidência curiosa, os livros de Vesalius e de Copérnico foram publicados no mesmo ano, e os dois significaram importantes marcos para as ciências biológicas e físicas. Na verdade, eles constituem o nascimento da chamada Revolução Científica.
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Imagem: Ticiano. Retrato de Andreas Vesalius. 1545.
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