Office in a Small City por Edward Hopper

Eratóstenes

O homem que mediu o tamanho da Terra

Bernardo Strozzi. Eratóstenes ensinando em Alexandria.

Eratóstenes

(Cirene, atual Shahhat, na Líbia, 276 a.C. – Alexandria, 194 a.C.)

Um gênio múltiplo, quase esquecido, que foi matemático, astrônomo, geógrafo, gramático, crítico literário, tendo se destacado até mesmo na música, segundo Ptolomeu III, que o havia trazido de Atenas para trabalhar na célebre Biblioteca de Alexandria, o maior centro cultural de toda a Antiguidade. Entre suas inúmeras obras, destacam-se o tratado Astronomia (seu mapa celeste incluía 675 estrelas) e Sobre os significados, este último citado como um notável trabalho de Geometria, antes de extraviar-se definitivamente, talvez no século 4. No que se refere a seus estudos matemáticos, o chamado Crivo de Eratóstenes, um sistema para determinar números primos, ainda é uma ferramenta útil na teoria dos números. Escreveu uma obra chamada Geográfica, na qual utiliza termos específicos (como geógrafo, por exemplo) para uma matéria até então vista como apenas técnica – por causa disso, é considerado o fundador da disciplina Geografia. Foi o primeiro estudioso a se preocupar com datas precisas e propôs uma cronologia que tomasse por base a Guerra de Troia, ocorrida mil anos antes. Atribuía a invenção da cartografia a Anaximandro, talvez desconhecendo que essa técnica já era usada em Mileto. Ele próprio estudou descrições de expedições empreendidas durante a expansão do império macedônio, sob o comando de Alexandre, o Grande, para compor o maior e mais completo mapa do mundo conhecido, abrangendo desde as Ilhas Britânicas até o Ceilão (hoje Sri Lanka), num desenho de tal amplitude que só seria superado mais tarde por Hiparco e por Estrabão. Também sugeriu que se acrescentasse um dia ao calendário a cada quatro anos, o que foi rejeitado pelos conservadores e aceito somente nos tempos de Sosígenes, um século mais tarde. Apesar de tantas e múltiplas habilidades, Eratóstenes é especialmente lembrado por um feito particularmente simples, mas muito engenhoso: a medição da circunferência da Terra. Por volta de 240 a.C., leu num papiro a intrigante informação de que em Siena, localidade próxima à primeira catarata do rio Nilo, ao meio-dia, no solstício de verão, as varetas e colunas não faziam sombra. Como o Sol está tão distante que seus raios são paralelos quando chegam à Terra, a única explicação possível era a de que havia algum tipo de curvatura entre um local e outro. Os mapas da época eram feitos como se o observador os visse do alto, e eram corretos em relação à região do Mediterrâneo. Porém, iam ficando cada vez mais imprecisos conforme os viajantes se afastavam do núcleo civilizatório que ocupava essa região. Eratóstenes enviou alguns homens a Siena e os orientou a medir o comprimento da sombra das varetas em determinada data, comparando posteriormente as informações com as sombras que podia, ele próprio, medir em Alexandria em unidades gregas de distância (stadia). Com a diferença encontrada, determinou ângulos resultantes dessa curvatura e os multiplicou supondo que o planeta fosse esférico, chegando a 40 mil quilômetros, o que é praticamente certo. Em razão dessa dimensão gigantesca, jamais imaginada até então, ele concluiu que os mares eram muito maiores do que supunham seus contemporâneos, e deviam ser unidos de alguma forma. Isso significava que todo o mundo conhecido ocupava apenas uma pequena porção de superfície do planeta. Pior ainda: a maior parte devia ser ocupada por água. A verdadeira dimensão da Terra, em relação ao pensamento dos homens da época, era estonteante e os fazia se sentir menores, afinal as terras sob seus domínios já pareciam muito extensas, apoiando motivações de patriotismo e sonhos de grandeza quanto à expansão de seus territórios, e eles simplesmente tinham dificuldade em assimilar que todas essas “grandezas” fossem tão pequenas. Um valor menor, calculado depois por Possidônio, foi melhor aceito, fazendo declinar o trabalho de Eratóstenes ao esquecimento. Com a ascensão da Igreja, essas e muitas outras conquistas dos cientistas antigos permaneceram ignoradas por séculos, até que no período do Renascimento voltaram a ser seriamente consideradas, principalmente por sua utilidade. Aos 82 anos, cego e cansado, Eratóstenes parou de se alimentar e se deixou morrer.

• A comprovação de que todos os mares eram unidos só seria feita quase dois milênios mais tarde, com as viagens de Fernão de Magalhães, o primeiro a circunavegar toda a Terra.

• Os três volumes que compunham a Geográfica foram quase inteiramente perdidos, restando apenas fragmentos. Essa obra foi citada por Plínio, o Velho, o primeiro enciclopedista e precursor das descrições de terras longínquas.

• O apelido de Eratóstenes era Beta, a segunda letra grega, porque seus contemporâneos, talvez enciumados, alegavam que ele era sempre o segundo em tudo, tendo suas áreas de conhecimento um representante máximo. Para se ter uma ideia, ele foi amigo de Arquimedes e tinha interesses universais como Aristóteles.

• Seu livro Sobre a medição da Terra, com os detalhes de seus procedimentos, também se perdeu.

 Leia mais sobre pensadores e artistas em Referências biográficas

(Imagens de pessoas tão antigas não são confiáveis. Muitas vezes são representações de um tipo étnico, não correspondendo às feições reais do indivíduo retratado.)

Imagem: Bernardo Strozzi. Eratóstenes ensinando em Alexandria. 1635.

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Comentários

2 respostas para “Eratóstenes”

  1. Avatar de Perce Polegatto

    Olá, Mário, sempre um prazer ver você por aqui, fico contente que tenha gostado. Grande abraço.

  2. Avatar de Mário Cardoso

    Obrigado mais uma vez Perce Polegatto por ter me encaminhado a mais essa informação que eu ainda não tinha visto, mas que achei ótima.

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