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Classificados, respeitados, esquecidos
Os critérios se contradizem, a cada época sua necessidade e moral.
René F. A. Sully-Prudhomme (1839-1907)
– França
Theodor Mommsen (1817-1903)
– Alemanha
Björnstjerne Björnson (1832-1910)
– Noruega
Frédéric Mistral (1830-1914)
– França
Jose Echegaray (1832-1916)
– Espanha
Henryk […]
A lista prossegue até o presente. Talvez atravesse os séculos no futuro, se houver mais séculos no futuro, pois os humanos de todos os tempos veneram as tradições. Dezenas tornam-se centenas de nomes e nacionalidades. Nascimento e morte, curiosos registros. Os critérios para a escolha dos premiados se contradizem: a cada época, sua necessidade e moral. O jovem estudante coleciona dados, tem como valiosas as relações dos grandes premiados, mas Sir Winston Churchill também participa da lista, e isso passa a intrigá-lo: ao que sabe, nunca esse renomado estadista tenha escrito senão o que sua visão de… Bem, bem. Academias de letras também abrigam seus médicos, advogados, empresários e autores de livros de contabilidade, o que não era de sua conta. Aos poucos, as listas vão amarelando na mesma proporção dos recortes que guarda. Agora, ele as reencontra não mais que listas de palavras e números, como todas as relações de recordistas e outros ídolos anuais, caindo à desvalia e ao esquecimento natural, enquanto giram as cidades, sem literatura que as detenha. Alfred Nobel era um investigador de explosivos: antes dele, o prêmio não existia, e o que era agora? Grandes escritores, poetas e dramaturgos não precisavam de prêmios, sua obra tinha poder próprio. Outras contradições reduzem-lhe o portentoso catálogo a uma adorável listinha, no caso do suplemento que conserva, enriquecida pelos sinais * e † à frente das datas, como se fosse menos trágico nascer após a estrela e desintegrar-se junto à cruz. Ou vir à luz sob o número mais baixo e cair ao mais alto, tudo registrado e reconhecido, parte da eterna manutenção dos valores, a manutenção da ordem, a manutenção da injustiça. Você pode ter sonhado um dia ser um desses heróis, olhe o perigo, eu o perdoo, vamos a outro cigarro. Mas pense bem, Júlio. Isso não é para nós. Sozinho, dirigia-se outra vez a si mesmo chamando-se nós, outro sintoma de que já o perturbava a solidão e de que era preciso rever-se. Voltar. Encontrar alguém.
Os últimos dias de agosto – Guia de leitura
98. E os trens funcionando perfeitamente – sequência
96. Síntese de cristal e sombra – anterior
Imagem: Conrad Marca-Relli. Sem título. 1975.
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