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E o lugar será outro
“Amanhã… podemos tomar leite.”
“Quem pediu café?”
O rapaz trouxe um pequeno bule fumegante que esqueceu perto deles, sobre o balcão. Estela voltou-se para Júlio, disfarçando o riso. Ele, com um gesto de cabeça passando-lhe que nada mais se poderia esperar da humanidade, inclinou-se para soprar ao ouvido dela que o outro estava ficando maluco, mesmo sem ser filósofo ou artista ou profeta, e prontificou-se a servi-la.
“Viu? Basta que ele esqueça o bule, para que o balcão seja outro.”
“Obrigada. Mas eu acabo de pensar que este lugar nunca é outro.”
“Não?”
“Não como você diz. E que nós só nos encontramos tomando café.”
Júlio voltou o bule ao balcão. Tempo mínimo para pensar. Alguma gracinha ou vai levar isso a sério?
“Amanhã… podemos tomar leite.”
“Sei. E este lugar será outro”, Estela algo aborrecida, perdendo o riso – quase impaciente.
“Achei! Tá aqui o bule. Quem pediu café? Quem…”
“E o seu noivo, viajando ainda?”
“O que tem isso?”
“Ele está sempre viajando, não é?”
Estela desviou os olhos. Ficou mexendo o café.
“Nem sempre. Mas quase sempre. Ele é muito ocupado, gerencia uma rede de…”
“Sei, sei, sei. A que horas você sai?”
Ela mexia o café com uma colherinha ridícula. Não olhou para ele.
“Você sabe.”
Os últimos dias de agosto – Guia de leitura
95. Johann Fust e a máquina de enganar – sequência
93. De um passado em tons de cinza – anterior
Imagem: Lisa Breslow. Rua em West Village, dia de inverno (detalhe inferior). 2012.
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