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Até aqui
O presente de estar vivo
Sempre lento e último a perceber as coisas, um dia compreendi que o passado não existe. Isso é tão idiota que deve encobrir alguma verdade, pensei eu, adolescente. Tinha vergonha de contar aos outros minha descoberta: que não existia vida no passado. Não contei a ninguém. Cresci carregando comigo esse meu segredo patético – pelo menos até sair da adolescência e me sentir mais seguro. Tudo o que vivi e o que tem me acontecido até um minuto atrás já não é. Tenho só este momento. Pessoas e situações que me envolveram, tudo que passou trouxe-me ao presente, ao agora, eu aqui como um tolo, entretido com meu próprio pensamento, que é este. E tudo o que aconteceu a você, desde que trocavam suas fraldas, desde seus primeiros passos, incluindo as chuvas que nutriram a sua infância e a sua memória, acrescentando suas paixões de adolescente, seus sonhos esquecidos, sua vontade de morrer, sua lágrima recuperada, seus projetos conscientes, tudo o que bem ou mal lhe aconteceu viver, tudo trouxe você até o presente. Ate este momento, agora. Lendo isto.
Imagem: curta-metragem Caolha, o tentáculo da vingança, de Ivan Gagliardi. 2010.
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