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Calvino – O cavaleiro inexistente
Um dos mais brilhantes autores do século 20, além de crítico e ensaísta de fina inteligência e bom humor, desses que nos inspiram a ler cada vez mais, tanto suas obras quanto as de outros autores, referenciados por ele. Susan Sontag lamentou sua morte, referindo-se a ele como “um dos maiores”. Nesta breve narrativa, cuja amostra se apresenta a seguir, o personagem Agilulfo é um cavaleiro medieval, dos tempos de Carlos Magno, que depende de sua armadura para existir. Sem ela, ele desaparece, torna-se invisível, e esse é justamente o seu drama.
Na hora do alvorecer, Agilulfo precisava sempre dedicar-se a um exercício de precisão: contar objetos, ordená-los em figuras geométricas, resolver problemas de aritmética. É a hora em que as coisas perdem a consciência de sombra que as acompanhou durante a noite e readquirem pouco a pouco as cores, mas nesse meio tempo atravessam uma espécie de um limbo incerto, somente tocado e quase envolto em halo pela luz: a hora em que se tem menos certeza da existência do mundo. […] Entre aquilo que se passa na guerra e o que se conta depois, desde que o mundo é mundo, sempre houve certa diferença, mas, numa vida de guerreiro, que certos fatos tenham ocorrido ou não, pouco importa: existe você, sua força, a continuidade de seu modo de comportar-se.
Italo Calvino, O cavaleiro inexistente.
Conheça também este contista europeu que se tornou um clássico infantil.
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