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Platão
O homem da caverna
Platão
(Atenas, 424 a.C. – 348 a.C.)
Seu nome era Arístocles, e ele ganhou o apelido de Platão, que significa amplo, largo, possivelmente por ter sido um homem robusto, de ombros grandes (de onde deriva omoplata). Pode ser, também, que se tratasse apenas de uma metáfora para a amplitude de suas ideias. As datas de seu nascimento e morte são incertas e variam de uma fonte para outra, mas sabe-se que teve origem em uma estirpe aristocrática, tendo inclusive um rei como ancestral, por parte de pai. Com Sócrates e Aristóteles, compõe o trio de filósofos mais influentes da cultura ocidental. Após dedicar-se ao serviço militar e ter cultivado ambições políticas, tornou-se discípulo de Sócrates, o que transformaria radicalmente sua vida. Com a condenação de seu mestre à morte, Platão deixou Atenas, tendo viajado, durante os anos seguintes, pela Itália e pelas cidades gregas da África. Ele acreditava que os povos deveriam ser governados por filósofos, e chegou mesmo a tentar instruir o rei Dionísio II, de Siracusa, com tal propósito, o de torná-lo um sábio. Mas o tirano não concordava com muitas de suas ideias, aborrecia-se com algumas de suas declarações, que não condiziam com seus planos de governo, e acabou vendendo Platão no mercado de escravos. Resgatado por outros filósofos, que o compraram, com muita dificuldade conseguiu escapar e voltar à Grécia a salvo, aprendendo assim a importante lição de que os homens sábios deveriam se afastar ao máximo dos governantes, sob risco de perderem a vida. De volta a Atenas, fundou o que pode ter sido a primeira universidade da história, que ele chamou de Academia, pelo fato de situar-se nos jardins onde teria vivido Academus, um lendário cidadão grego. Daí em diante, passou a dedicar-se inteiramente à filosofia – tanto como, na prática, à Academia –, e isso até o fim de sua vida, que se encerrou com uma morte calma, aos 80 anos de idade, enquanto dormia. Enquanto Sócrates evitava a escrita por entender que as ideias mudavam (e portanto não deveriam ser fixadas em palavras), Platão deixou talvez o conjunto de textos mais solidamente articulados jamais publicados por um filósofo – ele era também um grande autor, a quem se deve um estilo elegante e claro. Por meio de uma série de diálogos escritos, divulgou suas ideias e inclusive muito do que hoje se sabe sobre o seu célebre mestre. (Cuidadoso, Platão nunca se incluía nesses textos.) Entendia que o conhecimento não tinha uso prático, por isso dedicou-se apenas à filosofia moral, atribuindo à filosofia natural (que hoje se chama ciência) um segundo plano, menos relevante. Tomando por base a suposição de que o cosmo fosse perfeito, concluiu que os corpos celestes tinham uma forma geométrica exata, além de descreverem círculos perfeitos em sua órbita, o que mais tarde foi desmentido pelas leis de Kepler. Propôs também um esquema do universo que se manteve por quase dois milênios, até que as descobertas de Copérnico e Galileu o tornassem obsoleto. Acreditava que os seres vivos se originavam de uma matriz divina, da qual derivavam todos os indivíduos na realidade. Segundo essa concepção, os coelhos, por exemplo, apresentariam mínimas variações entre um indivíduo e outro, porém nunca deixando de ser, todos, um coelho, sem se afastar muito de sua forma original. A influência dessas ideias errôneas acompanhou a humanidade por muitos séculos, tendo inclusive desmotivado outras concepções menos fantasiosas e mais plausíveis. Em sua obra A República, Platão descreveu o chamado mito da caverna, segundo o qual tudo o que vemos é apenas uma tênue sombra do que realmente e essencialmente é, como se estivéssemos no interior de uma caverna, representação de nossas limitações sensoriais, sem acesso ao verdadeiro mundo “lá fora”. De acordo com essa fábula, todos nós seríamos habitantes de uma caverna, apenas vislumbrando manifestações de uma realidade além de nosso alcance. Outra interpretação sugere que a caverna seria o ambiente de nossas opiniões obscuras, enraizadas por meio da tradição, que poderiam ser transformadas pelo conhecimento de novas ideias e possibilidades de ver o mundo. Assim, sair da caverna e conhecer outras realidades que fizessem questionar a visão de mundo convencional, pressuporia sérios riscos, como o de ser tachado de louco ou mesmo ser morto por outros membros do grupo. (A condenação de Sócrates pode tê-lo inspirado a desenvolver essa alegoria.)
• O célebre biólogo Ernst Mayr sugeriu que a doutrina filosófica de Platão (hoje chamada essencialismo) foi o que retardou durante séculos a descoberta da evolução das espécies. Na concepção platônica, um cavalo nada mais era que uma pálida sombra ou uma variação imperfeita da forma ideal de um cavalo, que teria como matriz um Cavalo Essencial, perfeito, pairando em alguma parte do espaço conceitual.
• A Academia sobreviveu por vários séculos até que, em 529, Justiniano, imperador romano do Oriente, decretasse seu fechamento. Era, então, o último remanescente importante do paganismo no novo mundo cristão.
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(Imagens de pessoas tão antigas não são confiáveis. Muitas vezes são representações de um tipo étnico, não correspondendo às feições reais do indivíduo retratado.)
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