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Um último projeto em ruínas
Acendi um cigarro. Arnowitz começava a me impressionar.
Logo compreendi que não estava lidando com um homem comum – isto é, não apenas um estudioso de renome, um erudito de cultura acumulada em muitas áreas ou um compilador de tratados filosóficos. Arnowitz tinha seu próprio caminho. Embora não tenha fundado nenhuma nova corrente, seu gênio crítico transformou os conceitos de algumas delas, demolindo-as ou renovando-as, com isso abrindo sendas a um plano de pensamento inclusive integrado à realidade social dos povos. Homens como Leon Arnowitz têm o talento de pensar.
Encontrei mais sobre ele no dia seguinte, vasculhando os arquivos do Correio da Nação. Curiosamente, o destaque que
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e sim por haver entrado no terceiro dia de minhas pesquisas. Nessa mesma noite, fiquei pensando no fato de ele estar morto e de ter sido alguém, assim ter vivido, viajado, dormido e copulado, como eu. Acendi um cigarro. Arnowitz começava a me impressionar.
Mas eu já havia abandonado isso. E prometera a mim mesmo que não lançaria mão de outros filósofos fictícios. Tais impulsos são do tempo em que eu frequentava a Biblioteca Pública e incomodava o bibliotecário irritadiço com pedidos, empréstimos e consultas. Era um rapaz em início de carreira, que certamente me odiava, pois eu vivia lhe perguntando se conhecia este ou aquele autor, se já havia lido tal e tal livro, e ele desejava apenas ser um funcionário como os outros. Naquele tempo, eu não percebia tais coisas. Era ingênuo e sincero. Estava longe ainda de conhecer Verena e de tornar-me definitivamente um mentiroso crônico.
(Aqui termina o Cadernos I, as tentativas do narrador-personagem de organizar seus textos inacabados. Em seguida, finalmente, Verena.)
A seta de Verena – Guia de leitura
25. Eu, um mentiroso crônico – sequência
23. O capitão na corte dos cadáveres – anterior
Imagem: N. C. Wyeth. Ilustração para Robinson Crusoe. 1920.
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