Office in a Small City por Edward Hopper

Persistência dos labirintos

Eu finalmente parecia ter encontrado um quarto.
O que em princípio me impressionou foram os estranhos ruídos que…

Escrevo movido por desesperados ideais de busca. Obstinação, é certo. Há gestos imensos na tentativa de compor cada trecho. Acima disso, a morte e a indiferença humana.

Alguém se interessa?

Teseu executa o Minotauro, com isso dando fim ao último homem-touro, meio animal, o representante da fase intermediária entre o antigo primata, animal que o precedeu, o homem bruto, instintivo, oriundo dessa primeira Idade das Trevas minoica, e o homem civilizado, moderno – naturalmente pensando no homem grego. Julga Teseu que é um herói das manhãs claras do Mediterrâneo; julga haver liquidado aquele que vagava inutilmente pelas solidões do labirinto. Mas o labirinto permaneceu onde estava, não foi destruído. E surgiram novos minotauros, habitando o tempo.

Uma ameaça de ensaio. Que beleza, hein?

A literatura é a alma do que os livros são o corpo. A arte, por sua vez

Não. Frases não.

Escrevo porque preciso escrever. Como um animal que grita, esta é minha voz. Não tanto as palavras me importam, mas meu ser provisório tem fome, sede e desejo de deixar-se escrito.

Jesus, onde vou parar?

Uma mulher obscura, de andar hesitante, pensei que fosse minha mulher. Não era. Quando se aproximou, quis saber onde eu tinha visto o anúncio, além de perscrutar-me com muita suspeita.

“O senhor é casado?”

“Viúvo.”

“Temos algo disponível, se não se incomodar com o cheiro que sobe dos fundos, aonde jamais chega o sol.”

“Não. Não me incomodo.”

“Venha por aqui.”

Eu finalmente parecia ter encontrado um quarto. O que, a princípio, me impressionou foram os estranhos ruídos que

Não posso mais cair nessa. Meu dinheiro está acabando. Preciso escrever algo que preste. O mais rápido possível.

HISTÓRIA DE HIPERSENSIBILIDADE A DIPIRONA

Seus pais, artesãos e, de certa forma, tecelões dos anos sessenta, encontraram seu nome numa bula: confundiram-no com uma droga específica que julgavam conduzir ao delírio e à felicidade. “De pirar”, o pai. “Gatinha, puxou a mãe”, a mãe. “Vai ser livre como nós”, o pai. “Não somos tão livres assim”, a mãe. “Ela vai ser mais.”

O pai pode morrer de uma overdose. Fácil. Dipirona prefere seguir com o circo, onde encontra seu primeiro amor. Retornando a sua casa, depara com a mãe embriagada e deprimida, sem esperanças no que acreditava fosse… Difícil continuar. Por quê? Por que não? O que está me acontecendo? Poderia ser esta uma boa história.

E aquela tendência germanográfica de emendarpalavrasalongadamente / multiplipoder sintético – ou prolixo?

Mudanunca nada, Sônia pensa com tristeza e meio

Mudanunca, pensônia tristemeia. Depois, como seria seu voltatrás?

Não dou para isso. Libertar-me! De uma vez por todas, do vício fascinante dos neologismos.

Assim como só foi possível comparar o corpo humano ao funcionamento da máquina depois de inventadas as máquinas, o cérebro ao computador depois de inventarem o computador, o animal-deus

O DESFECHO DA GÊNESE

Esse, o título? É o fim!

Ela me disse que havia trazido muitas fotos da Disney e queria ver-me o quanto antes, para mostrar tudo, contar tudo. Mesmo assim, eu fui.

também o nababesco mausoléu do imperador

Como era mesmo o nome?

“Deve ser muito bom ser sepultado num túmulo assim.”

“Não é túmulo. É um mausoléu.”

e cartões-postais: montanhas suíças, castelos cinzentos. Palácio do Vaticano e seus ângulos

“Que são essas porrinhas aqui em cima?”

“Não são porrinhas. São santos. Esses apóstolos foram esculpidos em…”

inclinada de Pisa. Eiffel. Mesmo assim, eu fui.

Expansões e colapsos num tempo que não alcançamos. Daí, surgiram corpos celestes, matéria transformada. Matéria bruta, sombras microscópicas: algo estava nascendo. Um movimento, um ritmo. Nossos pai e mãe. Tudo o mais ia tomando forma (o tempo é vasto e se arrasta): minúsculos seres, agrupamentos, colônias. Desde a primeira erva tímida que se firmou na terra até o agigantar-se das sequoias. Peixes e pássaros, répteis que cresciam e se avolumavam, animais de incontáveis espécies já se devoravam entre si – mas nunca em função de se preservar a vida no planeta, que isso pouco importa, muito menos para os que se extinguiram.

O primeiro homem que descobriu a morte incorreu também no erro de considerar-se superior às coisas. Naquele tempo, ele era do tamanho do universo. E mal suspeitava que sua crescente consciência acabaria por encaminhá-lo, aos poucos, à constatação de sua própria insignificância.

Nesse mesmo tempo, criaram-se os deuses.

Tudo bem, deixa. Estou me sentindo melhor.

A seta de Verena – Guia de leitura

  21. Passeio (forçado) com Mônica – sequência

19. Retomadas e recaídas: de volta ao baile de máscaras – anterior

Sobre o livro

Imagem: Jackson Pollock. A loba. 1943.

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