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Os últimos dias de agosto. Abertura
A banca de revistas e os periódicos em certa disposição recordavam-lhe subitamente o dia nublado em que pedira ao pai que o fotografasse junto aos seus desenhos mais coloridos. Na foto esmaecida pela luz inadequada, uma criança séria, em preto e branco, como esculpida à frente dos desenhos que lhe eram tudo, agora não mais: não houve o desenhista, o reconhecimento ou o trabalho, embora houvesse sido aquele dia, junto à última parede da casa, um momento de glória sem par em qualquer outra esfera, ocasião ou evento compartilhado com os homens. E ainda que faça sombra ao rosto do menino a mesma nuvem que altera as paisagens quando avança pelos abertos, Júlio outra vez examinando fósseis contra sua vontade, em função da banca que lhe ocorria, como tudo, ao acaso, nunca sabia aonde tencionava chegar. Enquanto percorria sua vida prática, consolidada e quase previsível, uma sombra caía sobre ele, pintando de penumbra os dias claros. Ao fim do jogo de contas, a coleção de detalhes associados, o precário compêndio de paralelos que talvez não fosse mesmo mais do que isso, assim prevendo outra noite de unhas, outra manhã de fuga, e ignorando sempre: fixava a disposição das edições expostas quando outra nuvem encobriu o dia, avançou sobre seu rosto, perpassou-lhe os olhos, a mesma nuvem talvez, hoje cedendo sua sombra a outra ordem de silêncios.
Os últimos dias de agosto – Guia de leitura
2. Páginas claras, penumbra – sequência
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