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Sertão, banana, gárgula
As gárgulas eram a saída de água das calhas nas construções góticas, que geralmente apresentavam formas grotescas de monstros ou demônios.
Com o latim, nossa língua-mãe, foram formadas garganta e goela.
Por onde começar? Pelo começo. Etimologia é o estudo das origens das palavras – mas disso nós já sabíamos. A própria palavra etimologia vem do grego étymos, que significa verdadeiro, sugerindo o verdadeiro significado de uma palavra – e todos já percebemos quantas palavras e repetições se seguiram para dizer uma mesma coisa. Paciência. E logos, de onde deriva logia, quer dizer ciência, tratado, estudo – do que também todos nós já sabíamos. Mas sobre algumas delas, das palavras, ainda pouco ou nada sabemos.
Por exemplo, ninguém sabe com certeza de onde vieram bagre, preto, sertão ou tubarão.
Há casos em que conhecemos a palavra de origem, mas não temos certeza de sua proveniência. É o que ocorre com a palavra chapa, derivada de klappa – esta de origem incerta.
Os africanos nos trouxeram (ao serem trazidos à força) acarajé, palavra que provém do ioruba, grupo sudanês da África Ocidental (Sudoeste da Nigéria, Daomé e Togo) e também banana, camundongo, cachaça, fubá, mandinga, tipoia.
São de origem indígena, particularmente do tupi-guarani, língua que enriqueceu o nosso português, arara (a’rara), gambá (gã’bá), jabuti (yabu’ti), jabuticaba (ïapotï’kaba) e tamanduá (tamãdu’á).
Em nossa língua, há cerca de 300 vocábulos de origem africana. Do tupi, registram-se mais de 10 mil.
Surgiram, entre os alemães, blitz (Blitzkrieg), chope (Schoppen) e guerra (do germânico ocidental Werra, que significa discórdia ou luta).
E chegaram, através do francês, acordeão (Akkordium, fr. accordéon) e vermute (Wermut, absinto, fr. vermout ou vermouth).
Dos franceses também herdamos gárgula (gargouille, do antigo gargoule, do radical garg, garganta, acrescentado do francês goule, goela). Tanto quanto em garganta, a origem é onomatopaica, imitando o som produzido ao expectorar ou escarrar. As gárgulas eram a saída de água das calhas, nas construções góticas, e geralmente apresentavam formas grotescas de monstros ou demônios. Com o latim, que é nossa língua-mãe, responsável pela maior parte das palavras que constituem a língua portuguesa, foram formadas garganta (possivelmente pela forma gargante, particípio do verbo gargare, do latim vulgar, imitando o ato de produzir ruídos com a garganta), goela (de gulella, diminutivo de gula, garganta ou goela) e gula (de gula, esôfago ou garganta).
Palavras como gargalo, gargalhada e gargarejo são cognatas, isto é, têm uma mesma origem, um mesmo radical comum. Tudo isso ocorre por meio de processos espontâneos, essa festa sem começo nem fim que são as próprias línguas atravessando o tempo, extinguindo e criando vocábulos. Engolir, é claro, faz parte dessa festa.
Leia mais sobre o tema: Fortuna, damas, desastre
Mais curiosidades em: Origem das palavras
Leia mais sobre palavras, textos, escrita: Você, que não queria ler isto
P. S.: Post scritptum (Pós-escrita)
Imagem: George Marples. O corvo de Chartres. 1895.
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Comentários
2 respostas para “Sertão, banana, gárgula”
Sim, Pedro, mas com o tempo isso pode perder o significado original. Por exemplo, um sobrenome como “di Caprio” indica alguma ancestralidade de povos pastores (das cabras). Mas em algum momento do passado ele se firmou como sobrenome e deixou de significar alguma atividade pastoril.
Origem do nome tem alguma coisa a ver, por exemplo, Sabino da Silva, daquela raça, origem, “Sabino”, existiu ! Mas existe ainda ou só os descendentes !!
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