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Noite no jantar dançante
Como certas palavras precedem as revelações, tanto as que queremos ou não assimilar, por que então estaria eu recordando isso agora?
Ele ofereceu-me cigarros, queria compartilhar algo comigo ou tornar-me menos alheia. Sim, era isso. Então, nessa noite, falou-me sobre ela.
Outros homens me viram passar pela porta lateral do salão de festas. Sei que me observaram de seus secretos desejos quando saí para o jardim aberto. Sentei-me sobre uns degraus de ardósia entre dois gramados, de altura conveniente. Tirei da bolsa o batom, revi meu rosto no pequeno espelho, meu pequeno rosto. Ajustei o brinco oscilante, podia ver ainda o rosto dele em outras infinitas noites, podia ouvi-lo repetindo coisas como: “Gosto muito de seus sapatos”, pois eu agora me sentava e discretamente os descalçava, acendia um cigarro em seguida. Sabia haver, por trás de todos os detalhes que preenchem os momentos, algo de mais belo e mais interessante. Como certas palavras precedem as revelações, tanto as que queremos ou não assimilar, por que então estaria eu recordando isso agora? Talvez decorram dessas associações todas, que só as associava à primeira vez que lhe dera conhecer parte de meu corpo. “Quer que eu lhe mostre?” E como quando o ouvira em troca com a mesma sinceridade: “Quero.”.
Lisette Maris em seu endereço de inverno – Guia de leitura
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Imagem: Don Perino. Degraus do jardim (editado).
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