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Sonho 1081. A carruagem veloz
Um nevoeiro esconde as entranhas do bosque.
Viajo em uma carruagem típica do século 18. Cabeça recostada no fundo almofadado, fico olhando pela janela a paisagem que passa em alta velocidade. Uma velocidade espantosamente alta. Incompreensivelmente alta. E as árvores e as rochas e a vegetação toda passam por minha visão atordoada e confusa sem que eu tenha a menor chance de observá-las a contento.
Peço ao motorista que diminua um pouco.
“A quanto estamos?”, pergunto pelo interfone.
“Duzentos e sessenta, senhor”, ele responde.
“Duzentos e sessenta?! Não tenho essa pressa toda. Por favor, reduza! Reduza essa velocidade!”
Uso o interfone porque meu operador manual está quebrado e há algumas horas já não decodifica energia solar. É um objeto retangular em minha mão direita. Mas agora ele se parece com um cilindro tosco de madeira. Isso me causa uma impressão de impotência, por não poder manuseá-lo: ele agora é apenas um cilindro disforme, de madeira crua. E compreendo, num instante, que não sei absolutamente o que significa energia solar. Fico quieto, com vergonha de não saber e com receio de que alguém me pergunte o que é uma coisa dessas, a energia solar.
A carruagem diminui sua velocidade e se detém. Tenho a impressão absurda de que ela estava parada há muito tempo, apesar de tudo. Há um grupo de homens uniformizados, com seus cavalos, bem à frente. Uns montados, outros de pé, apenas inertes ao lado de suas montarias, talvez aguardando ordens. Alguns desses homens caminham devagar enquanto olham o chão, como vistoriando o local, aparentemente de maneira aleatória, cruzando caminhos. Dois cães passeiam entre eles, também calmos, mas sem rumo. Um nevoeiro esconde as entranhas do bosque.
“O que é isso?”, pergunto ao motorista, a quem nunca vejo.
O motorista não responde, mas entendo que é porque ele não sabe do que se trata. Parece ser uma espécie de bloqueio nesta estrada entre árvores. Uma batida, alguma operação de fiscalização, consigo identificar algo assim. Um dos homens se aproxima, encontra-se agora bem perto de minha janela (talvez tenha sido quem ordenou a parada da carruagem), e no instante seguinte estou também de pé, à sua frente, fora da carruagem de alta velocidade.
“O que aconteceu?”, pergunto com grande curiosidade.
“É trágico”, ele anuncia com tristeza. “A rainha se aposentou.”
“O quê?!”
“A rainha se aposentou.”
Olho imediatamente para o relógio: três e meia da manhã. Não pode ser. Era dia claro até há alguns minutos, antes de pararmos. Não pode ser. E a rainha já nasceu aposentada.
“É trágico”, ele repete, no mesmo tom.
Os homens da guarda armada, silenciosos e lentos, caminham para um lado e outro, como se procurassem algo no chão. O mesmo nevoeiro se desloca lentamente, atravessando a estrada, ao redor de todos nós. Os cães agora são cinco. Um deles me percebe, olha-me diretamente. É um cão hostil. Disfarçado entre os outros. E agora ele sabe quem eu sou. Olha-me diretamente, com um ódio renovado e saudável, com preocupante hostilidade.
Inconsistência dos retratos – Guia de leitura
Sonho 811. O livro que falta – anterior
Sonho 1128. A pedra de atrito – posterior
magem: Tom Thomson. Vidoeiros. 1916.
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